O Concílio Vaticano I aconteceu no século XIX e foi convocado pelo Papa Pio IX. Este século foi marcado fortemente pelas ideias liberais, o racionalismo teórico e prático e a Revolução Francesa. A sociedade estava tomando um rumo de negação dos valores sobrenaturais, as verdades fundamentais e os deveres cristãos não estavam sendo levados em consideração e a política laicista e secularizante estava ganhando cada vez mais espaço.

Era evidente que os problemas maiores que a Igreja estava enfrentando naquela época eram de cunho político. A Revolução Francesa e a era napoleônica marcaram profundamente o pensamento político, "as classes sociais já não estavam mais dispostas a suportar regimes monárquicos absolutos e exigiam constituições mais liberais. Assim, uma tumultuosa onda de revoluções estourava na Europa"1. Foi nesse cenário que Pio IX foi eleito para governar a Igreja, pontificado que aconteceu entre os anos de 1846 a 1878.

É interessante relembrar que, no século XIX, a Igreja ainda exercia, além do poder espiritual sobre todo o povo católico, um poder temporal sobre uma determinada região territorial, chamada de estado pontifício. O papa era o monarca desses territórios. É nesse sentido que a Igreja será fortemente atacada, pois a sociedade assumirá a seguinte ideia: cabe à Igreja apenas o direito de poder espiritual, e não mais um poder atrelado diretamente ao campo político, assumindo a administração de um estado. A consequência disso é que o estado pontifício também será atingido por esse fenômeno revolucionário. Outro fator que agravou ainda mais o problema em relação ao poder temporal do papa foi a unidade do novo estado italiano, que estava se formando, e culminaria na supressão e anexação do território do estado pontifício ao novo estado italiano.

Para entender melhor a situação é preciso retomar o ano de 1848 quando começará uma luta de independência dos italianos contra a Áustria, o papa, para proteger as fronteiras do estado pontifício, enviará suas tropas. Entretanto, Pio IX recusa-se a participar da guerra, pois é o vigário de Cristo, ou seja, pai de todos os fiéis. O povo chama o papa de traidor, e começam a surgir forças republicanas sobre o monarquismo. A situação política do estado pontifício foi se agravando, novas guerras de independência foram surgindo e o estado pontifício foi perdendo cada vez mais território ao ponto de restar apenas Roma. Contudo, a situação não termina assim, com a formação do novo Estado Italiano, o poder político queria Roma como a capital do novo Estado, e não mais sob o domínio do papa, dando-se início a um problema diplomático chamado Questão Romana. Depois de muitas negociações e poucos resultados, optou-se pela solução armada.

Em 20 de setembro de 1870, começa o conflito armado entre as tropas pontifícias e as tropas régias. Depois de horas de combate, as tropas pontifícias se renderam e as tropas italianas entraram em Roma através da Porta Pia. Após um plebiscito realizado com o povo, Roma foi anexada ao Reino da Itália e assim ratificaram o fim do poder temporal dos papas. Pio IX, protestando o ultraje sofrido, tornou-se prisioneiro voluntário no Vaticano. Numa época em que "o poder temporal era ainda visto como instrumento essencial do poder espiritual"1, caberia ao papa reagir de maneira contrária a essa nova configuração política.

Em nenhum outro pontificado as vicissitudes políticas ocupam um lugar tão relevante como no de Pio IX. É, de fato, durante o seu pontificado que se esgota a época milenar do poder temporal dos papas. Depois de um longo período de tempo, o poder temporal e o poder espiritual do papa pareciam inseparáveis.1

A Questão Romana foi resolvida apenas no ano de 1929, com o Tratado de Latrão no qual deu completa autonomia ao Vaticano e o poder de Chefe de Estado ao papa.

Foi nesse contexto histórico que surge o Concílio Vaticano I, na esperança de dar respostas concretas aos novos males da sociedade oriundos da Revolução Francesa, do pensamento liberal, de uma política republicana e democrática afastada da intromissão da Igreja, do racionalismo e do naturalismo.

Notas

1 Mondin, Battista. Dicionário enciclopédico dos papas: história e ensinamentos; tradução José Joaquim Sobral. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p. 576.
2 Zagheni, Guido. A Idade Contemporânea: curso de história da Igreja; tradução José Maria de Almeida. São Paulo: Paulus, 1999. Vol. IV, p. 145.
3 Martina, Giacomo. História da Igreja de Lutero a nossos dias; tradução Orlando Soares Moreira. São Paulo: Edições Loyola, Vol. III, p. 258-259.