Todo empreendedor, em algum momento, é confrontado com a máxima "Quem tem sócio tem patrão". Essa ideia, porém, nunca me agradou. Ao contrário, sempre me causou desconforto desde o primeiro dia em que a ouvi. Por isso, decidi trazer essa temática para discussão, com reflexões e provocações, propondo desvendar essa visão e revelando uma nova perspectiva sobre a essência da parceria entre sócios - uma relação que deve ser pautada na igualdade, confiança e colaboração mútua.
Antes de mais nada, é essencial dedicar um momento para refletir sobre o próprio termo 'patrão'. Esta palavra carrega um peso de períodos caracterizados por rigidez e autoritarismo nos ambientes de trabalho, uma herança vinculada às raízes históricas da formação econômica do Brasil. Essas raízes mergulham em períodos turbulentos e desumanos da história do país, como a monarquia e o colonialismo escravista e, posteriormente, a aristocracia com suas capitanias hereditárias. Estas eras são notáveis por suas estruturas de comando e controle intensas e obcecadas por 'poder pelo poder'.
Embora a palavra 'patrão' seja frequentemente utilizada de maneira banalizada, é fundamental reconhecer o peso negativo de seu significado. Este reconhecimento nos leva a refletir mais profundamente: ao explorar as implicações dessa terminologia, percebemos como ela reflete um passado sombrio e um modelo de liderança ultrapassado, que vai contra os princípios de igualdade e respeito mútuo necessários no mundo contemporâneo.
Neste contexto, surge o núcleo do meu desconforto com o termo 'patrão', especialmente ao considerar a frase emblemática "Quem tem sócio tem patrão". Tal expressão contrasta com a idealização de uma relação entre sócios, que deveria ser pautada na horizontalidade e na paridade, distanciando-se da noção tradicional de 'poder'. A essência dessa relação deveria orbitar em torno da interdependência e cooperação, e se distanciar por completo da perspectiva de submissão e competitividade agressiva.
A dinâmica das relações entre sócios empresariais pode variar amplamente, refletindo a cultura e os valores pessoais de cada um dos fundadores. Na minha experiência pessoal com a Maple Bear Maceió, tenho um sócio muito parceiro e alinhado com meu perfil, talvez porque eu e Téo Vilela éramos amigos antes de sermos sócios, o que facilita e potencializa a nossa sociedade. Nossa relação como sócios é um exemplo vivo de uma dinâmica alinhada e equânime. Aqui, a hierarquia convencional é substituída por um entendimento mútuo e respeito profundo, criando uma colaboração autêntica que influencia positivamente o ambiente geral e a cultura organizacional da nossa empresa.
A abordagem igualitária na gestão empresarial enfatiza a colaboração e o compartilhamento de responsabilidades, em contraste com a rigidez das estruturas hierarquizadas. Não há uma única fórmula para o sucesso empresarial; o que importa é encontrar um equilíbrio que ressoe com os objetivos e a cultura da empresa.
Reconhecer que ter um sócio não é simples é necessário. É uma tarefa árdua e complexa que exige muita força de vontade, aprendizado contínuo e uma mentalidade de crescimento para estar aberto ao novo. Conflitos farão parte dessa jornada. No entanto, a chave para superar divergências e desentendimentos, garantindo o sucesso da sociedade empresarial, reside no alinhamento de valores e princípios. Quando os sócios compartilham uma base ética e moral comum, estabelecem um terreno fértil para confiança e compreensão mútua, mesmo diante de diferenças.
Gosto de pensar que sócios são como irmãos. Cada irmão é distintamente diferente do outro, uma verdade incontestável. Mesmo irmãos gêmeos idênticos possuem suas individualidades marcadas em traços de personalidade e predileções próprias. Apesar das diferenças, os irmãos sempre retornam aos valores e princípios fundamentais ensinados no seio da família. Esta analogia se estende aos sócios. Embora uma sociedade empresarial nasça de uma união por uma visão compartilhada de negócio, repleta de sonhos e ideais comuns, diferenças individuais emergem. Contudo, o que importa não são essas diferenças, mas sim o alinhamento profundo de valores e princípios que os uniram nesta jornada empreendedora. Quando há sinergia nesses valores e princípios, formam-se bases sólidas, permitindo que os sócios naveguem pelas diferenças com harmonia.
Irmãos brigam, acontece até nas famílias mais unidas. Essas brigas são parte da convivência diária e intensa entre irmãos. Mas o fascinante é a capacidade de passar de um conflito a momentos de pura cumplicidade. Isso se deve ao amor incondicional entre irmãos, um sentimento instintivo que serve como alicerce para resolver desentendimentos.
Da mesma forma, sócios brigam. E isso pode ser benéfico para o negócio, desde que os confrontos sejam respeitosos e estruturados. Através deles, o empreendimento pode se tornar mais propício para criatividade e inovação. Uma cultura de confronto saudável fortalece a segurança psicológica, favorecendo o aprendizado das equipes e, consequentemente, o sucesso do negócio.
Tenho inúmeros exemplos em que eu e meu sócio passamos por discordâncias, levando a embates até atingirmos um consenso. Nem sempre acertamos em planejar adequadamente o confronto, ou manter a paciência durante as discussões. Alguns episódios geraram desgastes desnecessários e influenciaram negativamente o ambiente. No entanto, assim como os irmãos se reconciliam após uma briga, eu e meu sócio encontramos paz e entendimento após nossos embates, pois compartilhamos um amor incondicional pelo nosso negócio. Esse amor nos leva a cuidar um do outro e da nossa empresa. Sempre que surgem atritos, nos reunimos para abordar o ocorrido com honestidade e transparência, buscando um entendimento mútuo. Este processo resolve conflitos e nos fortalece como parceiros.
Engrandecimento é o maior fruto dessa relação como sócios. Assim como os irmãos, quando crianças sonham em ser 'gente grande', numa sociedade o desejo é ser grande em maturidade, consciência, competência e sucesso.
O cerne dessa relação está no crescimento conjunto, um fenômeno que transcende diferenças e desentendimentos. Irmãos, ao compartilharem experiências e desafios, moldam um ao outro, enriquecendo suas perspectivas e habilidades. Esta é a essência do crescimento mútuo - uma jornada de desenvolvimento e descoberta, onde cada um contribui para o avanço do outro.
Irmãos crescem juntos, quase como um processo de simbiose.
Por isso, afirmo com convicção: Quem tem sócio tem irmão, não patrão.