Com as recentes guerras em diferentes cantos do mundo, cada vez mais pessoas são forçadas a se mover. Aliadas às más decisões dos governos, à corrupção e à falta de controle, dia após dia, os cidadãos se encontram em situações desesperadoras e inumanas; para a maioria deles, a imigração é a opção que resta.
Temos diversos exemplos atuais, como os ucranianos indo para os países que os aceitam, a história, repetida por longo tempo, de mexicanos que tentam escapar dos diversos problemas de sua terra natal em busca do sonho americano, mesmo que isso signifique morrer ao cruzar a fronteira. Ultimamente, vemos cada vez mais muçulmanos dos países do norte da África e do Oriente Médio cruzando o oceano, arriscando suas vidas numa tentativa de entrar em um país europeu, acreditando que todos os seus problemas serão resolvidos ao chegarem a um dos países mais ricos, na sua grande maioria, de forma completamente ilegal, buscando "refúgio".
Como o ex-secretário da ONU, Ban-Ki Moon, uma vez citou: "Migrar é uma expressão da aspiração humana por dignidade, segurança e um futuro melhor, parte da nossa estrutura e construção social como seres". De fato, está na base do ser humano; desde o início, sempre buscamos algo novo. A origem de todos os seres é nomádica, migratória, até nos assentarmos em algum lugar para construirmos algo, seja por busca de novos recursos, possibilidade de uma vida melhor, lugares com mais oportunidades para construírem a vida que buscam ou por qualquer outro motivo. A regra sempre foi clara: quem está em movimento sobrevive. Migrar está na nossa história; parar é morrer.
Eu mesmo imigrei para a Europa há alguns anos e ainda planejo ir para outros países por algum tempo. Originalmente do Brasil, vivo em Portugal há 5 anos, morei por 6 meses a trabalho na Espanha e outros 6 meses em Munique, na Alemanha. Para mim, a parte mais desafiadora de imigrar é sempre adaptar-me aos costumes. As pessoas são diferentes em diversos locais; têm outros costumes, culturas, formas de se comunicar, de se relacionar, de conhecer, comer, sair, trabalhar, e isso é ótimo, afinal, é o que causa a beleza da humanidade. Se todas as cores fossem cinza, o mundo não seria muito interessante, não é mesmo?
De todas as pessoas com quem já conversei que migraram para outro local, um dos grandes desafios é sempre o mesmo: Como ser uma nova pessoa num local diferente, sem perder a origem e autenticidade cultural de quem sou? Conseguir se livrar do próprio eu do passado, entender que aquela pessoa de certa forma "morreu" e você necessita renascer em outra pele é desafiador. Adotar novos costumes, maneiras novas de fazer algumas coisas, sacrificar diversas versões de nós mesmos para conseguir tornar-nos uma nova pessoa, mais evoluída, com mais conhecimento, cultura, um "Eu" diferente.
Porém, como sempre digo aos meus colegas que me perguntam como é a vida por aqui: É boa, diferente, melhor em alguns aspectos, pior em outros, num geral, é sempre igual; você acordará de manhã, fará sua rotina, irá para o seu trabalho e fará sua vida normalmente, com oportunidades e coisas diferentes. É diferente, mas é igual. Porém, imigrar literalmente não é para todas as pessoas. Reconheço que nem todos conseguem suportar esse choque; este é um dos maiores motivos pelos quais muitos acabam voltando ao seu local de origem, quando há a possibilidade. Não conseguem adaptar-se a toda essa nova informação, e, em alguns casos mais problemáticos, não querem adaptar-se a toda essa nova cultura, acabando por ficar imersos numa bolha dentro de outro país, o que se torna uma experiência ameaçadora tanto para a própria pessoa quanto para todos à sua volta, pois não entendem a real experiência e atmosfera do novo local.
No meu caso, emigrar foi por vontade e interesse próprio; meus objetivos pessoais não poderiam ser satisfeitos ficando no lugar em que me encontrava, então, independente do que iria passar, sei que sempre foi e é pelo meu objetivo. Mas e quando essa mudança é forçada? Quando não é algo planejado e seguro, e passa a ser da forma que dá para ser? Deixam tudo para trás baseados em desespero para ir numa jornada rumo ao desconhecido sem ter a menor noção do que pode acontecer, por necessidade ou por uma ideia falsa vendida a eles por outras pessoas, o que acontece?
A Europa sofreu uma crise migratória em 2015, com os refugiados sírios que vinham na época em busca de escapar da perseguição "jihadista", da pobreza e dos conflitos de seus países, grande parte dos conflitos causados pelo Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS), outra guerra causada por extremistas religiosos em sua cegueira em busca do "paraíso prometido". Com as mudanças nas leis e políticas relativas à imigração, surgiu a necessidade urgente de repensar e reestruturar os sistemas de acolhimento e integração para lidar com o grande fluxo de pessoas em busca de refúgio na Europa. Um dos desafios cruciais foi encontrar um equilíbrio entre a segurança nacional e os direitos humanos, criando políticas que permitissem a entrada segura e humanitária daqueles que realmente necessitavam de refúgio. Além disso, tornou-se imperativo trabalhar em colaboração com organizações internacionais, ONGs e comunidades locais para criar soluções eficazes. Os países europeus enfrentaram a necessidade de criar programas de integração eficientes, oferecendo suporte linguístico, cultural e psicossocial aos recém-chegados. Esses programas visavam não apenas ajudar na adaptação prática, mas também promover a compreensão mútua entre as diversas comunidades.
No entanto, a implementação dessas mudanças não foi isenta de desafios. A resistência de alguns setores da sociedade e o medo do desconhecido levaram a debates acalorados sobre a preservação da identidade cultural e a segurança nacional. Lidar com essas preocupações enquanto se promove uma sociedade inclusiva exigiu um esforço conjunto entre governos, comunidades e os próprios imigrantes. A crise migratória de 2015 serviu como um chamado para ação global, destacando a necessidade de solidariedade e cooperação entre as nações para enfrentar desafios humanitários em escala internacional. O aprendizado contínuo e a adaptação constante das políticas de imigração e integração tornaram-se essenciais para construir um futuro onde as pessoas possam buscar refúgio de maneira digna e segura.
E ainda assim, toda semana surgem novas imagens, vídeos e notícias nas redes sociais de imigrantes cruzando fronteiras de maneira ilegal. Onde será que está a falha disso, e será que há uma solução?