O sentido de algo é o que dá direção, o que faz com que siga por um caminho, às vezes, permaneça nele. No caso do Brasil, o sentido é o que dá forma à sua história e suas respectivas noções de nação e de sociedade. Neste texto, vamos explorar o sentido do Brasil a partir de algumas das principais concepções de intelectuais brasileiros das quais li ao longo da vida, como Caio Prado Jr, Ricardo Ricupero e Darcy Ribeiro, todos presentes em meados do século XX.

O começo do novo espírito é o produto de uma ampla transformação de múltiplas formas de cultura, o prêmio de um itinerário muito complexo, e também de um esforço e de uma fadiga multiformes.

(Hegel, Fenomenologia do Espírito)

Todos eles foram influenciados por diversas correntes de pensamento, sendo o marxismo o que exerceu maior influência sobre a maior parte das obras da maioria deles e seus colegas. A principal ideia, tangente à construção da própria identidade de “ser brasileira”, acaba sendo a de apropriação das ideias de liberação das classes exploradas de forma sistemática e aplicá-las à análise da realidade brasileira.

Dado tal pano de fundo, durante este pequeno texto você vai entender um pouco melhor sobre como o Brasil é o que é hoje e seus problemas quase impossíveis de serem solucionados. O que vou tentar aqui será uma breve análise e apresentação sobre como o Brasil irrompe esses desafios complexos, cuja solução demandaria uma mudança radical no atual status quo atualmente operante.

Espero que ao compreender os motivos que tornam essa nação tão singular, poderemos vislumbrar sua mágica complexidade.

A divisão do trabalho, história e sentido da colonização sobre o Brasil

A colonização do Brasil foi marcada pela exploração das riquezas naturais do país em benefício da metrópole portuguesa. Esses, por sua vez, estavam interessados em obter lucros com a venda de matérias-primas, como pau-brasil, açúcar, ouro e tudo que houvesse para eles alguma valia.

Para atender às necessidades do mercado externo, a colonização brasileira se organizou de forma a privilegiar a exportação. Assim, a produção agrícola e industrial foi voltada inteiramente para atender às demandas estrangeiras, e nunca às necessidades da população local, principalmente a mais carente e necessitada de atenção.

Ou seja, a organização da economia e da sociedade brasileira foi moldada de acordo com as necessidades do mercado externo. As consequências desse sentido tomadas pelos colonizadores para o Brasil foram profundas, com frutos a serem colhidos até hoje. O racismo e a escravidão são problemas estruturais que precisam ser lidadas até hoje pelas autoridades.

Ao passo de privilegiar a exportação, a colonização contribuiu para a concentração da riqueza nas mãos de uma pequena elite, muitas vezes descendentes da elite europeia. Os colonos portugueses e os senhores de engenho enriqueceram com o comércio de açúcar, e a população nativa e escrava foi explorada e excluída do processo de desenvolvimento econômico, também contribuindo para a dependência do Brasil em relação à Europa.

O país até hoje é dependente da importação de produtos manufaturados e da exportação de matérias-primas. A persistência desses problemas é ainda mais evidente nas preferências das classes sociais dominantes por produtos europeus, mesmo quando estes não apresentam diferenças significativas em termos de qualidade em comparação com os produtos e serviços brasileiros.

O sentido da nação

A independência do Brasil em 1822 não significou uma ruptura com o sentido da colonização. O país continuou a ser dependente da economia externa e a privilegiar a exportação, assim como já era — permanecendo tal política até os dias atuais. No entanto, o surgimento de uma nação brasileira também trouxe novos sentidos para o país. A população passou a se identificar como um povo independente, com suas próprias características e interesses.

Podemos então, dessa forma, dizer que o sentido de nação do Brasil nos últimos séculos seria o desenvolvimento econômico e social do país voltado para atender às necessidades da população local. Isso é ainda mais fácil de ser realizado se olharmos um pouco para trás, conferindo as últimas crises políticas do país, com tentativas de golpes políticos advindos de grupos com ideologias controversas, lutando para manter seus egoístas interesses — ficando nítida tais posturas durante a última eleição, em 2022.

Será que a complexidade do Brasil, essa aura nacional, está intrinsecamente ligada às vicissitudes da colonização? Parece que os conflitos, as transformações e os eventos peculiares desencadeados durante a colonização moldaram o Brasil em um estado constante de "será quando crescer". Torço bastante para que não seja assim tão simples e que esse “crescimento”, se vier, que venha o mais breve.

Diversidade brasileira, educação e a globalização

Além das influências econômicas, a diversidade cultural do Brasil também desempenha um papel crucial na definição de seu sentido. A miscigenação de diferentes etnias, culturas e tradições contribuíram muito para a riqueza da identidade nacional, moldando não apenas o passado, mas também o presente e o futuro.

Considerando o cenário contemporâneo, a globalização e as mudanças na dinâmica geopolítica e tecnológica também influenciam o sentido do Brasil de maneira permanente. Questões como relações internacionais, acordos comerciais e participação em organizações globais são fatores que prometem moldar a posição do Brasil no contexto mundial e inseri-lo como agente ainda maior que seus criadores.

Conclusão

O sentido do Brasil emerge como um tema intrincado e controverso sob diversos prismas. Esse tópico reveste-se de importância fundamental para a compreensão da história e sociedade brasileira, refletindo não apenas um fenômeno nacional, mas também o resultado de políticas europeias predatórias que se estenderam ao longo dos últimos séculos da trajetória humana.

Ao analisar e compreender essas complexidades não apenas enriquece nosso entendimento do Brasil, mas também lança luz sobre os impactos duradouros de influências históricas na evolução de uma nação singular.