Cedo ou tarde, pensar sobre a educação escolar de nossos filhos é uma tarefa que passará pelas reflexões familiares. Vivi um período angustiante tentando buscar a escola ideal para minha família e observo muitas mães com emoções semelhantes às que experimentei. São tantos os aspectos a considerar, com tão poucas condições de assegurar que estamos fazendo a decisão correta.

Como pedagoga, dentre tantos outros aspectos, recomendo que a eleição da escola considere:

  1. Localização: pensando nas grandes cidades, onde os deslocamentos estão cada vez mais complexos, estudar em uma escola perto da nossa casa é um aspecto fundamental para garantir a qualidade de aprendizagem de nossos filhos e de vida de nossa família. Para aprender as crianças e os adolescentes necessitam de energia e disposição, de modo que chegar cansados às escolas devido ao congestionamento ou aos grandes trajetos pode dificultar o engajamento do estudante no processo de aprendizagem.
  2. Tipo de escola: para algumas famílias escolher entre o sistema público ou privado é uma opção. Por um lado, vale considerar que apesar de desacreditado há no sistema público boas opções de escolas a depender do bairro e do município em que se vive. Usualmente tais escolas recebem apenas estudantes do entorno em que estão instaladas, sendo, portanto, destinadas aos moradores dos bairros. Por outro lado, há que sinalizar que nem sempre o sistema privado represente garantia de educação de qualidade, fato que requer uma boa análise por parte da família. Escolas com fundamentos religiosos também são opções, no entanto, vale comentar que escolher tais escolas requer compatibilidade entre os preceitos da religião que rege a escola e os que a família vivencia. Matricular nossos filhos em uma escola católica, por exemplo, se não somos católicos dificultará a integração de nossa família às vivências escolares, sendo o mesmo válido para as diversas religiões.
  3. Tamanho da escola: pequena, com poucos estudantes que possibilite um ambiente mais próximo entre todos? Grande, com diversidade de famílias de modo a ampliar a visão de mundo de nossos filhos? Que ofereça apenas a educação infantil, o ensino fundamental ou o ensino médio, de modo que as transições entre os níveis de ensino e as diferentes escolas possibilitem momentos de desenvolvimento emocional às crianças e adolescentes? Que ofereça todos os níveis de ensino, possibilitando um contexto conhecido e cômodo aos estudantes, de modo que esses se sintam emocionalmente seguros?
  4. Metodologia: escolas tradicionais, cujas aulas lembram as nossas experiências escolares e tendem a ter o professor como fonte de aprendizagem e os estudantes como receptores de conteúdo? Construtivistas, montessorianas, humanísticas, dentre tantas outras vertentes pedagógicas que podem guiar as práticas escolares e tendem a incentivar os estudantes a serem protagonistas de seus processos de aprendizagens, tornando as experiências mais significativas?

Como pedagoga e mãe, penso que a maioria de nós não tem como identificar questões relativas à metodologia escolar. Durante o processo de escolha das escolas, usualmente lemos as informações disponíveis sobre as escolas, seja por meio de sites das próprias escolas ou guias dedicados à tal decisão, mas como garantir que as informações publicadas nessas fontes sejam de fato realizadas dentro dos muros escolares? Uma escola pode publicar que sua metodologia é baseada na aprendizagem significativa, mas ainda utilizar somente provas conteudistas, esquecendo-se das avaliações formativas por exemplo. Outra escola pode dizer que trabalha com projetos interdisciplinares, mas na prática realiza atividades sobre um mesmo tema, sem que estas se relacionem, sendo, portanto, fragmentadas dentro da matriz curricular. Uma terceira escola pode ter obtido uma excelente classificação no ranking escolar, no entanto, não ser compatível com os valores familiares que buscamos. É bom comentar que os sistemas de avaliação em larga escala não foram idealizados para classificar as escolas, mas sim para fomentar ações diagnósticas e intervenções que pudessem possibilitar a melhoria da educação, e, no caso do ENEM, tal prova tem como objetivo possibilitar o acesso dos estudantes às universidades. Assim, o fato da escola x ter sido a melhor colocada no ENEM na minha cidade não assegura que essa escola seja a ideal para a nossa família.

Como mãe e pedagoga, sinto que o melhor caminho para chegarmos à escola ideal para nossa família é o coração, a nossa voz interna. Sabe aquela sensação que sentimos quando chegamos em um local e nos sentimos confortável e acolhidos? Aqueles momentos em que conversamos com desconhecidos como se os conhecêssemos há tempos? Para mim, esse é o segredo para escolher uma escola! Acreditar que a escola por nós escolhida é a ideal para a nossa família; que os profissionais que a tornam realidade sejam competentes e capazes; que a comunidade formada por essa escola é compatível com os nossos valores e crenças; que nossa família será um aporte para essa escola. Lembrar que a educação de nossos filhos é construída cotidianamente em casa e na escola, cada qual com suas atribuições: a família com objetivos de socialização primária, ensinando valores e modos de se viver consigo e com o próximo; a escola visando a socialização secundária, promovendo valores e modos de se conviver em comunidade e orientando o processo de aprendizagem formal dos estudantes.

Não há a escola ideal. Não há a escola perfeita. Há a escola compatível com nossas crenças e valores, com nossa família! Parte do sucesso de nossos filhos na educação escolar depende do trabalho conjunto realizado pelas famílias e as escolas. Somente com essa dupla - família e escola – atuando em parceria constante nossos filhos se desenvolverão plenamente, tanto em aspectos de aprendizagem, quanto em aspectos socioemocionais.

Agora, como todo rio que flui, a vida também o faz: as pessoas mudam, as escolas também. Se as alterações forem tão profundas a ponto de separar a dupla família e escola, busquemos outra opção. Permanecer em uma escola sem acreditar ou sentir-se parte desta não é saudável. Há sempre opções. Afinal, como tudo na vida, nada é permanente. As mudanças de escola, quando necessárias, podem ser chaves para a transformação pessoal e académica de nossos filhos.