Merecimento ou sorte? O que te faz melhor que o outro para conquistar tantas honrarias? Decididamente, seu trabalho, empenho, foco e tempo dedicado, bem como muita paixão, fazem muita diferença, mas não é tudo sobre isso. Muitas vezes, não somos reconhecidos ou conquistamos o pódio por ter feito o melhor; há alguns outros fatores que podem interferir. Questão de sorte? Não sei explicar ao certo, mas a questão é que, quando paramos para analisar e comparar, pode ocorrer todo tipo de lesão e amargura jamais vistas.
Um desespero se faz presente por não ter atingido determinado patamar ou não ter conseguido algo material, visitado um determinado lugar ou ainda não ter vivido determinadas coisas. Creio que é um pensamento de abandono das esperanças mais profundas.
Em tempos de escassez e abundância, dois pratos da mesma balança que são mostrados de forma fácil e fluida nas redes, fica uma reflexão: de onde vem tudo isso? Talvez sempre tenha existido, e a vida moderna e os recursos disponíveis só tenham acelerado nosso estágio paranoico de total desprestígio e fracasso.
Não vivamos, pois, pela ótica do outro, mas essencialmente para fazer uma caminhada única.
Somos todos capazes de coisas extraordinárias e vidas genuinamente abundantes; portanto, se isso não está ocorrendo, alguém está esquecendo de cuidar do outro alguém. De entender que todos somos capazes de conquistas esplêndidas e feitos memoráveis.
Cuidar é não esquecer do pãozinho fresco, do telefonema real, do olhar terno, da regularidade em demonstrar amor, da cooperação no trabalho, do limite, do abrigo e do puxão de orelha.
Cuidar é se alegrar quando o outro está bem e estar disponível quando o outro sofre. Nem só uma coisa ou outra, mas o abrigo é para todas as horas.
Quando achamos que a travessia tem sido árdua e o tempo de espera é grande, talvez estejamos perto de chegar do outro lado da margem. Vale a paciência e perseverança, palavras raras nos tempos atuais. Tudo urge intensamente, acometendo as pessoas ao total desespero por algo nada concreto.
É fundamental atentar para os sinais, para as pequenas coisas que nos aparecem mostrando que algo está se movendo, que alguém te leva uma palavra de conforto, torce por você, que o travesseiro com fronhas limpas te acolhe, que um elogio ou abraço te curam, e tantas outras delicadezas que são curativos imediatos, para determinados momentos cruciais na caminhada.
Sempre penso que uma boa noite de sono é reconfortante para colocar em ordem o pensamento. Então, se for possível, deixe uma decisão difícil para o dia seguinte, logo cedinho após o frescor de uma boa xícara de café ou chá. Peça ajuda, troque ideias, não faz mal; todos precisamos de socorro em algum momento.
Há inúmeras maneiras de cuidar e ser cuidado, insights que nos devolvem nossa autoestima e nos fazem sentir capazes de caminhar, decidir, fazer e vencer. Claro que os momentos ruins devem ser sentidos também. Chore! Chore muito, mas depois seque as lágrimas e caminhe. Dê a mão a alguém, segure-se em algum pilar importante para você, ampare-se.
Muito se fala no autocuidado e, de fato, um olhar para dentro é fundamental para que nos salvemos primeiro. O recolhimento, o silêncio e o estar em “solitude” também são importantes. É parte do processo conhecer a nós mesmos, mas tenho pensado e visto que, por vezes, nos ocuparmos com alguma coisa, seja ela pequena ou grande, e até um problema alheio nos torna mais fortes, nos torna mais vivos e aguça nosso pensamento.
Quem dera todos pudéssemos ser capazes de pensar sobre o quanto é singelo nosso sentir e quão médico somos uns para os outros, na cura de feridas tão doidas. Cuidando e sendo cuidado, é mais fácil sair mundo a fora a se relacionar com as outras pessoas e conquistar o mundo.
Nos vemos já! já!