Estamos enfrentando uma onda de casos de violência nas escolas brasileiras. Esse cenário vem preocupando famílias, professores e gestores escolares, os quais se vêem despreparados e com sentimento de impotência diante desse cenário tão delicado.

Mas o que é violência escolar?

Segundo o site Politize, podemos entender esse conceito como:

Violência escolar corresponde ao uso da força e/ou agressividade dentro do contexto/ambiente escolar e pode se manifestar entre todos os atores sociais da comunidade escolar: estudantes, professores, coordenadores, responsáveis e demais funcionários. As consequências destas ações têm efeitos em todos os envolvidos: tanto nas vítimas quanto nos autores. Os resultados vistos são: depressão, suicídios, distúrbios comportamentais, prejuízo às atividades em sala de aula e abandono escolar.

A partir desse entendimento podemos pensar em possíveis estratégias a serem implementadas para atuar na promoção de uma convivência harmoniosa nas escolas, favorecendo a diminuição do impacto que esses episódios geram na comunidade escolar, bem como os episódios em si.

Importante destacar que a violência surge por causas diversas, que vão desde aspectos individuais, culturais e sistêmicos. Nesse texto disserto sobre como o desenvolvimento socioemocional da comunidade escolar pode ajudar a reduzir a violência por meio da melhora do clima escolar, porém é importante investigar outras variáveis que influenciam nesse processo para lidar com esse problema urgente e complexo que as escolas enfrentam.

Acredito que um primeiro ponto é garantir um ambiente seguro em que as pessoas possam falar sobre suas emoções, expressar sua autenticidade e se conhecer a partir da relação com o outro. Para isso, é necessário implementar processos que intencionalmente convidem as pessoas para trocas mais profundas entre si, bem como a mediação e a resolução de conflitos que podem aparecer com a convivência.

É super importante desenvolver entre a comunidade escolar uma sensação de pertencimento, reconhecimento e acolhimento das diferentes identidades existentes ali. A valorização da diversidade e das diferenças é um aspecto que leva a uma maior conexão e compaixão entre as pessoas, fazendo com que os conflitos, que naturalmente existem na convivência, sejam resolvidos de formas não-violentas. Aqui vão algumas estratégias que podem estimular a aprendizagem socioemocional a partir da convivência e criar um espaço seguro e de acolhimento. Elas podem ser utilizadas tanto na interação com a as famílias, quanto na formação docente e, principalmente, na sala de aula com os estudantes:

-Propor dinâmicas e atividades lúdicas e cooperativas para fomentar a integração entre as pessoas. Ao final desses momentos, abrir um momento de significação sobre o processo e evidenciar o que foi aprendido com a interação.
-Estimular a criatividade por meio da escrita e expressões artísticas, como o teatro, a pintura e o desenho. Muita coisa precisa passar pelo campo subjetivo antes de ser compreendido racionalmente. Além disso, a arte é uma forma de expressão da identidade e valorização da autenticidade de cada um.
-Para aprender a resolver conflitos, é possível utilizar vídeos e textos que relatam a história de personagens em situações semelhantes às que aquele grupo vivencia e propor momentos de reflexão sobre como agiriam naquela situação.
-Ensinar e utilizar a Comunicação Não-Violenta nos espaços de diálogo entre a comunidade escolar, fazendo com que se torne parte da cultura escolar.
-Utilizar a mediação de conflitos para lidar com questões que surgem entre os integrantes da comunidade escolar a fim de gerar autorresponsabilização das partes em sua resolução e também criar acordos de convivência.
-Criar momentos em que as pessoas possam falar sobre questões pessoais umas com as outras e compartilharem sobre sentimentos com a intenção de se apoiarem de maneira empática.

Segundo Paulo Freire1, sendo fundamento do diálogo, o amor é, também dialogo. Com isso, entendo que independente de qual estratégia de convivência e aprendizagem socioemocional será utilizada, o mais importante é que exista afeto. É preciso que a escola promova em sua cultura um ambiente onde todos se sintam seguros para ser quem são, se expressar e trazerem suas vulnerabilidades, assim abrimos mais espaço para conexão e contribuímos para a diminuição dos casos de ódio e violência que temos visto se propagar.

Notas

1 Freire, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.