O Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou vacinas contra malária e dengue diante de onda de mosquitos1-2. A vacina contra malaria é R21/Matrix-M, contra dengue é Qdenga3-4.
A vacina contra a malária é dos mesmos grupos da Universidade de Oxford e do Instituto Jenner que desenvolveram a vacina contra a Covid-19 (COVISHIELD) da AstraZeneca-Oxford. Ambas as vacinas usam um adenovírus geneticamente modificado e o adjuvante Matrix-M. Bilhões de doses estão sendo fabricadas pelo Serum Institute of India e serão vendidas a um preço baixo.
Há cinco espécies de protozoários parasitas que causam a malária em humanos. Duas delas causam os maiores danos. Em 2018, o Plasmodium falciparum (P. falciparum) foi responsável por 99,7% dos casos de malária na Região Africana da OMS, 50% dos casos na Região do Sudeste Asiático da OMS, 71% dos casos no Mediterrâneo Oriental e 65% no Pacífico Ocidental. O Plasmodium vivax é o parasita predominante nas Américas, causando 75% dos casos de malária. Em 2019, estima-se que houve 229 milhões de casos e 409.000 mortes causadas pela malária em todo o mundo. malária mata cerca de 500 mil crianças por ano no continente africano. As crianças com menos de cinco anos de idade são as mais vulneráveis5.
A malária pode ser prevenida e curada6-7. Entretanto, se não for tratada em 24 horas, a malária pode evoluir para uma doença grave, muitas vezes levando à morte. Depois que uma pessoa é infectada, parte desse protozoário permanece, mesmo que ela seja curada da infecção nas células vermelhas do sangue, ainda pode ser reinfectada. No caso da malária, a memória bem-sucedida das células T não se desenvolve. Os cientistas ainda estão tentando entender o motivo.
Diante do aumento das doenças transmitidas por mosquitos em diferentes partes do mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um comunicado recomendando a nova vacina Qdenga, principalmente em crianças e adolescentes1-2. Qdenga foi desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda, para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos. Devem ser realizadas campanhas sobre a importância da imunização um a dois anos antes do pico de incidência de hospitalizações pela doença. O esquema é com duas doses com intervalo de três meses entre elas. A vacina foi liberada em março no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a população de 4 a 60 anos para pessoas que nunca tiveram contato com o vírus, mas, até o momento, só está disponível em clínicas privadas. No fim de agosto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendou o imunizante para a população pediátrica por sua eficácia de 80% contra a doença e 90% para evitar formas graves da dengue. O imunizante protege contra os quatro sorotipos do vírus (1, 2, 3 e 4).
Metade da população mundial vive em áreas onde a dengue está presente8. Embora a maioria das infecções seja assintomática ou leve, pode haver evolução para dengue grave e morte. A dengue é causada pelo arbovírus DENV que se apresenta em quatro sorotipos distintos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), no Brasil o DENV-2 é o mais prevalente. 3. O arbovírus DENV pertence à família Flaviviridae, que inclui vários vírus clinicamente importantes, como vírus Zika e Nilo Ocidental. O DENV é um vírus de RNA de cadeia simples e o seu principal vetor é o mosquito Aedes aegypti. A infecção por um sorotipo resulta em imunidade de longo prazo contra esse sorotipo específico, mas apenas imunidade de curta duração contra os outros sorotipos. Uma segunda infecção por dengue é um fator de risco para doença grave, mas esse não é o caso para infecções subsequentes. A razão para isso não é clara, mas é comumente atribuída ao aprimoramento dependente de anticorpos. É importante considerar esse fenômeno no desenvolvimento da vacina contra a dengue, e qualquer vacina candidata deve, de preferência, induzir imunidade de longo prazo contra todos os quatro sorotipos. O Qdenga é baseado em um backbone de DENV2 com cepas recombinantes que expressam proteínas de superfície para DENV1, DENV3 e DENV48.
A manifestação clínica da dengue pode variar de assintomáticas a hemorragia grave, como a febre hemorrágica da dengue e/ou à síndrome do choque fatal da dengue3. A Qdenga, do laboratório japonês Takeda Pharmaceutical Company, é uma vacina do vírus da dengue atenuado e tetravalente contra a dengue. Na avaliação clínica da vacina foi demonstrada uma eficácia da Qdenga de 80,2% contra a dengue causada por qualquer sorotipo em indivíduos de 4 a 60 anos. Foi aprovada no Brasil em 2023, tornando-se a única vacina contra a dengue aprovada no país para utilização em indivíduos sem necessidade de teste pré-vacinação.
A vacina agora está limitada a indivíduos com dengue anterior e não está disponível em países não endêmicos. A eficácia da Qdenga foi testada em cerca de 20.000 crianças e adolescentes em oito países da América Latina e da Ásia. Dois terços foram vacinados e um terço recebeu placebo. No primeiro ano após a vacinação, foi observada uma eficácia da vacina contra a DCV de 80% e 95% na prevenção da DCV que exigia hospitalização. A eficácia contra a DCV foi maior contra o DENV2 (98%) e menor contra o DENV3 (63%). Nenhum efeito contra o DENV4 pôde ser demonstrado nesse momento devido a poucos casos. A eficácia cumulativa da vacina foi 4,5 anos após a vacinação8.
Bibliografia
1 Felix, P. OMS recomenda vacinas contra malária e dengue diante de onda de mosquitos. [Veja], 2 Out., 2023.
2 World Health Organization. WHO recommends groundbreaking malaria vaccine for children at risk. 6 Out. 2023.
3 Fernandes, H.C. et al. Vacinas contra dengue aprovados no Brasil. Revisão integrativa da literatura. Congresso Internacional em Saúde. No. 10. 2023.
4 Fernandes, T.M. et al. Análise acerca da eficácia das vacinas antimaláricas rts, s/as01 e rts, s/as02: uma revisão integrativa. Revista Multidisciplinar em Saúde Vol. 4.3, p. 756-761, 2023.
5 World Health Organization. Malaria. 1 April, 2021.
6 Rosas, M.J. Prevenção da malária. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Vol. 19.3, p. 263-6, 2003.
7 Mumtaz, H. et al. Acceptance, availability, and feasibility of RTS, S/AS01 malaria vaccine: A review. Immunity, Inflammation and Disease Vol. 11, artigo e899, 2023.
8 Angelin, M. et al. Qdenga®-A promising dengue fever vaccine; can it be recommended to non-immune travelers? Travel Medicine and Infectious Disease, artigo 102598, 2023.