Em 2019, a média de expectativa de vida atingiu 76,6 anos, uma notável evolução em comparação com os 45,5 anos registrados em 19401. Consequentemente, em consonância com essa progressão, a Primeira lei da Previdência, promulgada em 1923, permitia a aposentadoria aos 50 anos de idade ou após 30 anos de serviço no setor ferroviário2. No entanto, após a reforma da previdência implementada em 23 de outubro de 2019, a idade mínima para aposentadoria foi estabelecida em 62 anos para mulheres e 65 anos para homens. É importante ressaltar que existem critérios e exceções que não serão abordados neste contexto. Em resumo, essa reforma implica em um aumento significativo de aproximadamente 22,5 anos no período de trabalho ao longo da vida adulta.

Outra perspectiva que merece destaque e influencia nossa análise é a questão geracional. O modelo tradicional de permanecer em um único emprego ao longo de toda a vida, até a aposentadoria, está em transformação. Nos tempos atuais, os profissionais buscam não apenas um emprego, mas também satisfação no ambiente de trabalho, associada a uma melhor qualidade de vida.

Consequentemente, as mudanças sociais e a evolução dos paradigmas têm dado origem a uma crescente tendência que já está impactando e permeando o mercado de trabalho: a transição de carreira. Isso significa que os profissionais estão cada vez mais propensos a realizar mudanças em sua área de atuação ou a reavaliar sua posição dentro dessa área.

No cenário atual, de acordo com os resultados da pesquisa Re:Trabalho, conduzida pela Terra, é relatado que mais de 60% dos entrevistados efetuaram uma mudança de carreira no ano de 2020, e 48% manifestaram a intenção de fazê-lo em 20213. Uma das áreas que se destaca consideravelmente na era pós-pandêmica é a transição de carreira para a Tecnologia da Informação (TI), conforme indicado por um estudo realizado pela BRASSCOM, figura 1. Este estudo prevê a disponibilidade de mais de 797 mil vagas no setor de TI entre os anos de 2021 e 20254.

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Figura 1 - Gráfico de novas demandas em Ti (2021-2025).

Contudo, embora represente uma área repleta de oportunidades promissoras, é de suma importância ponderar outros aspectos significativos antes de decidir qual caminho profissional seguir. A seleção da nova carreira a ser iniciada deve estar alinhada com a personalidade, preferências e habilidades individuais da pessoa.

Eu mesma fiz transição de carreira. Apesar de ter uma posição bem-sucedida e estável como biomédica e cientista, após a maternidade decidi reavaliar meus valores pessoais. Um dos principais pontos de mudança em minha vida foi a decisão de adotar o trabalho em regime de home office, pois estava perdendo mais de duas horas diárias no deslocamento.

Dessa forma, levando em consideração aspectos como a melhoria da qualidade de vida e o desejo de continuar trabalhando, comecei a explorar minhas opções. Sempre nutri uma fascinação pela programação, tanto que minha primeira escolha de graduação foi Ciências da Computação. Assim, comecei a pesquisar faculdades online, incluindo a FATEC. Acabei me interessando por um curso integral em desenvolvimento de softwares e embarquei nessa jornada, que, embora bem-sucedida, não foi isenta de desafios.

É difícil sair da zona de conforto e ir para um lugar totalmente desconhecido.

Foram mais de 1500 horas dedicadas à programação. No entanto, assim como enfrentar os desafios inerentes à construção de raciocínio lógico e à escrita de código foi fundamental para mim, não apenas como um meio de afirmação profissional, mas também como um processo que me permitiu amadurecer. Para minha surpresa, percebi que minha experiência prévia em minha carreira anterior tinha um valor inestimável nesse novo contexto. Agora, posso ver claramente que não se trata apenas de mudar de profissão, mas sim de adquirir uma habilidade valiosa para enriquecer ainda mais a minha trajetória profissional.

Havia dias que eu não dormia de preocupação com um novo conteúdo difícil de ser assimilado, inúmeras vezes sonhei com códigos, onde eu buscava soluções para os problemas dos meus projetos, deixei de ir aos finais de semana a muitos encontros. No entanto, hoje eu trabalho home-office, mudei para o interior, levo a minha filha a pé todos os dias na escola e consigo praticar exercícios.

Lembro-me de uma citação, cujo autor não me recordo, que dizia que todas as escolhas são difíceis, e cabe a nós decidir qual tipo de dificuldade estamos dispostos a enfrentar. Essa afirmação pode parecer confusa, mas é verdadeira. Foi difícil escolher uma nova profissão que trouxesse uma melhor qualidade de vida, porém, talvez fosse ainda mais difícil permanecer na zona de conforto profissional e manter um estilo de vida que já não era mais sustentável.

Para aqueles que estão interessados em fazer uma transição de carreira, mudar de país e buscar novas experiências, o autoconhecimento desempenha um papel fundamental. É essencial questionar a si mesmo: O que você realmente gosta hoje em dia? Quais são suas expectativas para a vida? O que o motiva todos os dias? Essas reflexões se tornarão ferramentas valiosas quando você encontrar desafios e obstáculos ao longo do caminho, ajudando-o a perseverar.

Além disso, estudar o mercado, desenvolver uma estratégia sólida e se preparar adequadamente são elementos básicos para tornar sua transição profissional mais fácil e viável. Eu mesma contei com um apoio significativo, que não se limitou apenas ao aspecto técnico, mas também fortaleceu minhas habilidades interpessoais, otimizou meu perfil no LinkedIn, aprimorou meu currículo e me auxiliou na criação de um portfólio abrangente com meus projetos.

Seja audaciosa(o) com você mesma(o). Acredite em você e jamais pense que é tarde demais, a minha transição se iniciou aos 35 anos, sendo mãe. Comemore pequenas vitórias, quando avançar em alguma etapa do planejamento, risque da sua lista, continue e nunca pare.

Por que não, não é mesmo?

Notas

1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. "Projeção da população do Brasil e Unidades da Federação por sexo e idade para o período 2010-2060. Revisão 2019." (1980 e 1991 - ALBUQUERQUE, Fernando Roberto P. de C. e SENNA, Janaína R. Xavier. "Tábuas de Mortalidade por Sexo e Grupos de Idade - Grandes e Unidades da Federação – 1980, 1991 e 2000." Textos para discussão, Diretoria de Pesquisas, IBGE, Rio de Janeiro, 2005. 161p. ISSN 1518-675X; n. 20).
2 Senado Federal. "Primeira lei da previdência de 1923 permitia aposentadoria aos 50 anos."
3 XP Educação. "Transição de Carreira".
4 "Estudo da BRASSCOM aponta demanda de 797 mil profissionais de tecnologia até 2025".