O músico rapper Azagaia descrevia em suas célebres músicas a realidade de um Estado em deterioração. Ele teve a coragem de apontar o dedo para a ferida, declarando que "o nosso Estado está sendo mal governado" e que temos mais pobres do que ricos.
As músicas do saudoso rapper, que descanse em paz, ecoaram por todos os cantos, destacando a necessidade de uma mudança de atitude e comportamento. Azagaia demonstrou que um país com dez províncias não pode esperar que todos pensem da mesma forma; a diversidade e as diferenças são essenciais para construir os alicerces de uma nação. Ele se tornou um ativista de renome internacional, usando suas músicas como um despertador para mentes pouco iluminadas.
Após a sua morte, o país entrou em tensão, pois os destinatários de sua mensagem já tinham recebido o recado, embora tarde. O que o tempo lhes reservava era a continuidade da luta pela liberdade e autonomia da nação como um todo. Todas as verdades contidas nas músicas de Azagaia hoje se refletem a cada momento, à medida que o custo de vida aumenta e os espaços públicos para o exercício da democracia se tornam limitados. Pensar de forma diferente é, muitas vezes, considerado crime, e os rumores de que Azagaia tinha razão continuam a crescer.
Isso está acontecendo, e a saudade das verdades expressas em suas músicas ecoará em nossos ouvidos até o dia em que sua luta seja concluída. Queremos ver um Moçambique com um equilíbrio socioeconômico sustentável, liberdade de expressão e outros direitos respeitados, conforme estabelecido na carta das nações. Queremos que expressar nossos pensamentos e opinar sobre a gestão da coisa pública não seja mais sinônimo de opressão ou ameaça à integridade alheia. Queremos que a verdade e o direito à informação sejam bens do povo, e o direito de escolha seja algo natural.
Como jovens, temos a dignidade de continuar essa luta para que a morte de Azagaia não tenha sido o fim de um propósito não cumprido. A intimidação e a opressão não devem nos impedir de perseguir essa causa. A luta está fundamentada em continuar o legado de Azagaia, procurando sempre o melhor para que Moçambique experimente outras dinâmicas sociais. A "mesmice" não deve fazer parte de nós se desejamos um Moçambique melhor. Se possível, voltemos atrás no tempo e ouçamos com atenção o que Azagaia disse. A luta continua, e o "povo no poder" não deve ser apenas uma expressão usada no calor da aflição, mas sim uma diretriz central para todo o trabalho que está por vir. A liberdade nunca foi fácil; o jugo colonial durou 500 anos, e o que são 48 anos para uma nação repleta de jovens que têm o poder de moldar o futuro de Moçambique?
Portanto, acordemos! Azagaia foi pioneiro em um ativismo musical que desafiou vários regimes políticos e tirou o sono de muitos líderes com o objetivo final de nos acordar do estado de letargia e complacência. O bem comum só é possível quando todos nos unimos em uma causa comum; do contrário, continuaremos apenas a ouvir as músicas de Azagaia e a sofrer as injustiças sociais e artimanhas contra as quais ele lutou incansavelmente e não queria que enfrentássemos, se o despertar não for coletivo. Portanto, nossa missão é imortalizar as realizações do saudoso "mano" Azagaia, a única flecha que atingiu o cerne do poder, despertando as almas de um povo oprimido com uma simples sinfonia musical: "povo no poder".
É fundamental lembrar que a coragem e a determinação de Azagaia não devem ser esquecidas. Sua música e sua mensagem devem servir como inspiração para as gerações futuras, para que continuemos a lutar por um Moçambique mais justo, onde as vozes de todos sejam ouvidas e respeitadas, e onde a igualdade e a justiça prevaleçam. A jornada pode ser longa e desafiadora, mas, assim como Azagaia, podemos usar a música da mudança para criar um país melhor para todos os moçambicanos.