O psiquiatra britânico Richard Graham, especialista em jovens com vício digital, alerta para o fato de que o nível de esgotamento do cérebro, quando se utiliza aparelhos tecnológicos continuamente e por longos períodos, é o mesmo do indivíduo acometido pela depressão e daquele usuário de anfetaminas, pois inicialmente empolgam e depois trazem a depressão como consequência. O especialista ainda pontua que as redes sociais agravam o nível de dependência, uma vez que há a pressão, por parte do grupo, de estar sempre online.
Mas nem sempre é assim. Estudos indicam que o uso de jogos eletrônicos proporciona facilidade de aprendizado, assim como o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras, a melhora na capacidade de orientação espacial e a facilitação da socialização. Segundo Monteiro, Magagnin e Araújo1, a psicoterapia reconhece que existem vantagens no uso destas ferramentas para finalidades terapêuticas.
A família é o principal pilar para o auxílio na recuperação do jovem viciado em tecnologia. Além de promover encontros regulares entre os parentes, o aumento de atividades de lazer dentro e fora de casa são essenciais para alterar a rotina dos viciados. É necessário diálogo, paciência, muita cumplicidade para que o problema seja enfrentado e combatido. A adolescência é uma fase de afloramento de emoções, e o que se observa, em muitas famílias, é a ausência de vínculos emocionais, gerando um abismo entre os pais e seus filhos. A internet surge, nesse contexto, como um meio de se autoafirmar, sem que seja necessária a presença da família. É preciso romper a barreira do isolamento no seio familiar e construir relações sólidas, para que o vazio existencial possa ser substituído por uma vida em comum harmônica e satisfatória.
O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo desenvolve um trabalho de apoio a jovens que se tornaram viciados em tecnologia, chegando a agredir os parentes caso tenham o acesso proibido pelos pais. A saída está bem ao alcance da pessoa viciada, pois da mesma forma que ela regula outras funções do seu corpo, como a alimentação, também pode manter o equilíbrio no acesso aos dispositivos eletrônicos. Pesquisadores afirmam que desativar notificações dos celulares e das redes sociais, bem como separar um horário determinado do dia para responder e-mails e mensagens e estipular horários para realizar tarefas sem interrupções são alternativas que auxiliam no controle do vício.
Outra alternativa, feita por uma estudante da Universidade Estadual de São Francisco, é estimular os colegas a se desconectarem do celular enquanto estão juntos, sugerindo que todos eles devem colocar seus aparelhos em um determinado local, sem acessá-los durante o encontro. Aquele que pegar o seu celular primeiro é obrigado a pagar a rodada de drinks.
O celular: vilão ou mocinho?
Tornou-se corriqueiro, em nossa sociedade, identificar pessoas que não conseguem se desprender de um aparelho celular. Os smartphones se consagraram como aparelhos multiuso na sociedade, devido à sua multiplicidade de funções, que visam a facilitar a vida do cidadão no século XXI. A função primordial de um celular, há dez anos, era receber e realizar chamadas, porém nos dias atuais o celular possibilita inúmeras funcionalidades, entre elas o acesso rápido à internet e a produção de fotos e vídeos. Por meio de modernos aplicativos, podemos saber a previsão do tempo, assim como realizar uma transação bancária, além de solicitar um serviço de transporte e até mesmo refeições.
Assim como é possível fazer o uso do aparelho, é igualmente possível o seu abuso, ou, em casos mais graves, desenvolver uma dependência doentia. Neste último caso, tem-se a sensação de que para algumas pessoas o celular é uma verdadeira extensão do seu próprio corpo. Por isso, é importante avaliar até que ponto o celular é um instrumento de apoio nas atividades quotidianas, ou se há um uso excessivo que pode prejudicar as tarefas do indivíduo.
Nomofobia: o medo de entrar no mundo real
Sabe-se que a inovação tecnológica veio para favorecer e facilitar a vida das pessoas, todavia, sob outro ângulo, verifica-se que o uso da tecnologia digital de maneira viciosa, levando à dependência, é altamente prejudicial para a rotina, quando passa a interferir nas relações sociais, a tirar o foco nas atividades laborais e a trazer prejuízo para a vida escolar. Sinteticamente, este quadro descreve o transtorno conhecido por nomofobia, caracterizado pelo apego à tecnologia, à internet e a aparelhos digitais. A compulsão se traduz pelo medo irracional de não se conectar ao mundo virtual. Quando o nomofóbico se encontra em estado de abstinência do celular ou da internet, os sintomas se assemelham aos da síndrome de abstinência de drogas, como álcool e cigarro. A nomofobia está relacionada a outros transtornos, principalmente a ansiedade, a fobia social, a síndrome do pânico e o Transtorno Obsessivo Compulsivo.
O indivíduo passa a se comportar de forma diferente do habitual, em especial se:
- Fica constantemente controlando seus e-mails;
- Não sai das redes sociais e deixa até de se alimentar para permanecer no chat;
- Escuta o telefone tocar ou vibrar mesmo estando desligado (sintoma fantasma);
- Tem tendência a supervalorizar relacionamentos superficiais nas redes sociais, em detrimento dos relacionamentos reais;
- Não consegue ficar sem o celular, mesmo em ambientes inapropriados, tais como restaurantes e reuniões, levando o aparelho até mesmo quando vai ao banheiro.
Além da nomofobia
O quadro de dependência da tecnologia não se resume à nomofobia, pois os viciados podem apresentar ainda outros tipos de problemas relacionados ao excesso de uso de aparelhos com acesso à internet. Entre eles, destacam-se:
- A síndrome do toque fantasma, em que se evidencia o fato de que o celular está tocando constantemente, o que pode causar ansiedade;
- A cibercondria, ou hipocondria digital, ocorre quando o usuário realiza pesquisas em sites para identificar sintomas para o que a pessoa acha que tem, cujos efeitos podem ser crises de pânico e ansiedade;
- Os problemas nos testículos, gerados pela utilização do notebook no colo, devido à alteração provocada na região pela temperatura do aparelho, enfraquecendo os espermatozoides. Para os especialistas, o uso de almofadas não evita o problema;
- A WhatsAppite, inflamação na região dos pulsos que ocorre pela troca de mensagens em excesso no Whatsapp. Foi detectada depois que uma espanhola passou seis horas seguidas no aplicativo;
- A náusea digital, sensação de mal-estar após o uso de programas, jogos e equipamentos de realidade virtual. Entre os usuários de dispositivos da fabricante Apple, foram identificados problemas, como enjoo, vertigem e dor de cabeça;
- O efeito Google, que prejudica a memória, segundo os cientistas da Universidade Colúmbia, dos Estados Unidos, a partir do momento em que se cria o hábito de consultar o site de busca sempre que necessário.
Notas
1 Monteiro, T. V. B.; Maganin, C. D. M.; Araujo, C. H. dos S..Importância dos jogos eletrônicos na formação do aluno. 2015.