A educação, por muito tempo, acreditou que letramento era sinônimo de alfabetização, ou seja, para que alguém fosse considerado letrado deveria apenas frequentar escolas e ter a habilidade de ler e escrever. Contudo, letramento, em conformidade com Kleiman1, ainda não está dicionarizado devido à sua complexidade conceitual.
Devemos ter consciência de que letramento e alfabetização não são sinônimos. Letramento trata-se de um conjunto de práticas sociais que utilizam a escrita como sistema simbólico. Quando a alfabetização nos proporciona conhecer e escrever as palavras, o letramento prioriza o conhecimento e a interpretação do que é escrito. Logo, ele é fruto da aprendizagem e uso da leitura e escrita, portanto não devemos vinculá-lo ao termo alfabetização. Para o indivíduo ser letrado, ele deve vivenciar os contextos que lhe exijam práticas de leitura e escrita.
O letramento dá importância ao conhecimento previamente adquirido e à visão de mundo que cada um carrega consigo, tanto para salas de aula quanto para o meio social em que vive, ampliando o aprendizado já conquistado e fazendo com que cada aluno conquiste seu protagonismo social. A ideia é que o aluno não domine apenas a escrita ou a leitura, mas, sim, seja capaz de interpretar, documentar e memorizar o que lê ou escreve.
Atualmente, no meio acadêmico, se fala em letramentos, no plural, pois entende-se a existência de diversos tipos, dentre eles o letramento digital. Buscando, então, conceitos, me deparei com Buzato2, que definiu Letramento digital como um conjunto de letramentos, ou seja, práticas sociais, que entrelaçadas, apropriam-se de forma mútua e contínua, de dispositivos digitais para determinadas finalidades, em diferentes contextos sociais. Com isso, percebemos que a necessidade de debate acerca do letramento digital se dá diante da necessidade da democratização do ensino e do acesso.
O letramento digital surgiu com a intenção de ampliar o leque de possibilidades na educação, tanto para quem ensina quanto para quem aprende. Assim, professores e alunos precisam buscar as possibilidades de uso dos recursos linguísticos e comunicacionais, especialmente relacionados ao uso das Tecnologias Educacionais em Rede, para que sejam capazes de usufruir do Letramento digital.
A tecnologia permite aos alunos ou profissionais em formação explorarem o próprio conhecimento através de meios previamente inacessíveis. Jogos eletrônicos, conteúdos interativos, vídeos em alta definição, testes e provas através de formulários, entre outros, são alguns dos meios capazes de revolucionar o aprendizado, oferecendo uma maior retenção de informação se comparados aos meios tradicionais de ensino.
Há uma lacuna na formação inicial digital de muitos profissionais. Diante desse fato, cabe às escolas e aos profissionais responsáveis a tarefa de promover formações, tanto nas escolas quanto nas universidades, objetivando preparar os professores para essa realidade, fazendo com que conheçam e vislumbrem as potencialidades que as plataformas digitais são capazes de promover ao aprendizado nas salas de aula e fora delas.
O investimento em formações, a disponibilização de recursos tecnológicos nas escolas, o incentivo às atividades mediadas por tecnologias são algumas formas de ampliar e promover o letramento digital. Para que isso ocorra, acima de tudo, é primordial a valorização da educação, sendo que a mesma deve ser vista como prioridade pelas lideranças.
É necessário, claro, atentar para a construção de um olhar crítico em relação ao uso das plataformas digitais, pois a desigualdade, infelizmente, impera. É fundamental que haja políticas públicas adequadas e eficientes para que todos os alunos e profissionais, independentemente de pertencerem à escola pública ou privada, tenham acesso à internet e equipamentos adequados.
Ainda, é importante frisar a necessidade de que cada profissional se descontrua de visões arcaicas e enraizadas sobre o uso da tecnologia em sala de aula. Busquem priorizar a melhoria, o crescimento pessoal e profissional. O letramento digital auxilia nesse processo. Aliando tecnologia à educação, ele amplia os recursos didático-pedagógicos, promovendo uma maior efetividade no processo de ensino-aprendizagem, articulando habilidades nos diversos contextos e práticas sociais existentes.
Notas
1 Kleiman, A. B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: Kleiman, A. B. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995. p. 15-61.
2 Buzato, M. E. K. Letramento e Inclusão na Era da Linguagem Digital. Iel/Unicamp. Mimeo, 2006.