A cultura ocidental sempre enxergou o ser humano como uma criatura a parte do restante do reino animal sendo a criação especial de Deus para ser o governante do universo. Essa mentalidade era alimentada por uma visão da existência como hierarquizada com o homem abaixo apenas dos anjos e de Deus. A Terra era o centro do universo e o ser humano seu governante. O desmonte dessa visão foi realizado gradualmente.
Freud argumentava que aconteceram três golpes no ego humano, o primeiro com a descoberta que a Terra girava em torno do Sol por Galileu (logo, o ser humano não era o centro), o segundo com a formulação da teoria da evolução por Darwin que demonstrou que o ser humano não era especial em relação aos animais, e o terceiro com a descoberta do inconsciente pela psicologia, que demonstrou que o homem não tem controle completo nem sobre a própria mente.
Ainda assim é comum o senso comum do chamado excepcionalismo humano, segundo o qual o Homo sapiens seria de alguma forma diferente do restante da natureza. Mas quanto mais a ciência entende sobre o comportamento animal mais fácil é encontrar similaridades entre o homem e os demais seres.
A própria visão que o homem tinha em relação ao demais animais alterou bastante durante a história humana. Na idade média era comum a percepção de que animais tinham livre-arbítrio assim como os seres humanos, o que significava que eles podiam ser julgados por seus atos.
Julgamentos públicos de animais eram um processo jurídico comum durante o período. Um dos documentos que sobreviveu da época narra que uma porca matou uma criança e foi condenada por assassinato. Quando os filhotes dela foram encontrados sujos de sangue, foram levados a julgamento por cumplicidade e executados.
Alguns séculos depois na renascença, René Descartes definiu a realidade como formada por três substâncias, a material, a divina e a espiritual, sendo os animais dotados só da primeira, eram seres sem sentimentos igual a máquinas e não tinham emoções e podiam ser apenas usados sem culpa.
Hoje, sabe-se graças as ciências naturais que isso não é correto, animais possuem vida emocional desenvolvida. Um experimento mostrou que abelhas que foram removidas de uma teia de aranha pouco antes de serem mortas demonstraram uma resposta cognitiva compatível com a emoção de medo. Vacas que estão sendo enviadas para a fila do matadouro conseguem entender o que vai acontecer com elas e sentem desespero e desejo de fuga.
Num experimento hoje clássico da etologia, um cientista quis testar o que atrairia a atenção de um filhote de macaco, uma mamadeira de leite, ou um tecido imitando a pele da mãe. O macaco se prendia ao tecido, só saindo de perto dele quando estava com fome para beber o leite e rapidamente voltando.
O cientista confuso achou que o animal estava com frio, então colocou uma lâmpada perto do leite para aquecê-lo, nada mudou, o animal continuo preferindo o tecido. Os filhotes que passaram pelo experimento não tiveram um desenvolvimento normal, virando animais adultos estressados e pouco sociais. Mostrando que o afeto materno é importante para o desenvolvimento saudável dos animais de modo semelhante ao dos humanos.
Os paralelos entre o comportamento humano e dos animais podem ser amplos. Elefantes quando encontram os ossos de outro elefante param para observá-los, pegam com a tromba e fazem sons específicos, num gesto que se assemelha a um sentimento de luto. Poderia ser apenas curiosidade quanto ao objeto, mas eles não fazem o mesmo quando na presença de ossos de nenhum outro animal, exceto outro elefante, o que indica que eles de algum modo sabem que aquele era um deles.
Do mesmo modo, outros comportamentos foram notados. Algumas espécies de macacos oferecem comida para as fêmeas em troca delas deixarem os machos olharem para suas nádegas quando estão no cio. Entre pinguins quando a fêmea precisa de pedras para construir ninhos (algo difícil de conseguir na Antártica) é comum elas copularem com machos que não seja seu parceiro em troca de pedras para o ninho.
Assim como humanos, a traição é frequente no reino animal, mesmo em espécies que são monogâmicas e formam famílias para a vida toda como pássaros. Não só traição, mas também uso de substâncias já foi observado na natureza, golfinhos capturam baiacus (um peixe venenoso) e os forçam a liberar pequenas doses de veneno, os golfinhos então ingerem a substância que causa alterações no cérebro, após consumir a substância, os golfinhos passam o peixe ainda vivo para seus colegas de grupo para que possam usar dela e se divertirem.
Golfinhos estando entre os animais mais inteligentes, apresentam similaridades grandes com o ser humano. Podendo se comunicar através do sonar, tendo sons que usam como nomes próprios, podem reconhecer parentes e evitando se reproduzir com eles (semelhante ao tabu do incesto entre seres humanos), e podendo praticar esportes, golfinhos pegam algas e usam como se fossem instrumentos de um jogo colocando-a na nadadeira para carregá-la e em seguida passando para seus companheiros, como se fosse um time jogando bola.
Mas não só animais inteligentes são capazes de comportamento elaborado, alguns dos mais simples podem ter aprendizado. Entre formigas já foi observado as chamadas “professoras” que são especializadas em aprender algum trabalho e em seguida ensiná-la para as outras da colônia.
Alguns insetos que se alimentam de néctar das flores, conseguem descobrir onde ficam guardado o alimento, então ao invés de entrarem pela flor, que seria cansativo, simplesmente fazem um buraco na mesma e roubam o néctar sem ajudar as plantas a espalharem o pólen. Abelhas, inclusive, mostraram sinais de uma comunicação primitiva e uma certa capacidade de contar quantos objetos estão no seu caminho.
As semelhanças entre animais e comportamento humano podem se estender até aspectos considerados brutais do ser humano. Chimpanzés já foram observados realizando práticas de guerra. Gangues de machos de chimpanzé adentram território inimigo e matam machos desgarrados que encontram pelo caminho, uma vez tendo exterminado todos que poderiam representar uma ameaça, invadem o covil do bando estupram as fêmeas e tomam o território. Quando cientistas viram esse comportamento pela primeira vez acharam que era causado interferência do homem no habitat dos primatas, mas não parecer ser o caso.
A violência entre os chimpanzés não é única na natureza, golfinhos também já foram observados agredindo outros. Machos formam pequenas gangues e quando encontram uma fêmea, agridem-na para obrigá-la a acasalar com eles. Orcas e golfinhos já foram observados matando animais menores sem tem a intenção de se alimentar, apenas para se divertir com a vítima. Contrariando o senso comum de que o homem é o único que mata por prazer.
Entretanto, a violência não é o único traço semelhante do homem com os animais. A capacidade de relações afetuosas também existe. O caso mais famoso é o dos Bonobos, nossos primos mais próximos, junto dos chimpanzés. Ao contrário dos demais primatas, os Bonobos são criaturas afetuosas, raramente brigando, sendo animais extremamente sexuais que gostam de fazer sexo apenas para a recreação e estabelecer ligações entre os membros.
As semelhanças entre o homem e seus parentes, especialmente os mais próximos como os primatas fazem sentido comparando o largo passado evolutivo que compartilham, 98% do DNA humano coincide com o dos chimpanzés e Bonobos, além de quantidades menores com outros animais. De fato, as diferenças linguísticas entre os idiomas modernos são maiores do que a diferença entre o DNA dos diferentes seres vivos. O que mostra o quão próximo do restante do reino animal o homem moderno se encontra.