Parece não existir mais ideais comuns entre os seres humanos, nem comunicação a contento da compreensão entre si?
Se, no entanto, existisse um fundo de raciocínio comum, poderíamos esperar compreender-nos. A compreensão viria então entre seres semelhantes? Tão naturalmente, tão necessariamente, quanto à discórdia e a guerra entre seres absolutamente dispares, contraditoriamente organizados. Precisamos apressar-nos sim, em colocar um pouco de ordem nos cérebros, se queremos colocar ordem nas coisas. Não sabemos ao certo qual será a fórmula social para o amanhã. No entanto, se queremos que a evolução, inevitável, iminente, se cumpra através do acordo das vontades pensantes, e não debaixo do impulso cego dos instintos, é tempo de dar aos seres humanos uma educação que os aproximem, ao invés de dividi-los ou separá-los.
E que possamos ter o fôlego de ousar o círculo, o diálogo entre os diferentes, a composição mútua do conhecimento e a superação de modelos que impedem o desenvolvimento integral e sereno de todos, de cada um. Hoje, rompendo com o pensamento dominante no século passado, de extrema fragmentação do conhecimento, o ser sensível, equivale a transformar-se num ser de relações, um ser de diálogo, que mantém sua especificidade, sua formação primitiva, mas que não se fecha para influenciá-lo e receber influências de outros campos de conhecimento, ousando cruzar saberes oriundos das ciências exatas, com as ciências humanas, as artes e as diferentes tradições espirituais. A teia ilustra bem a dimensão artesanal, de fiação, de costura, das relações, para que o círculo possa ocorrer.
Sinto que articular um círculo com pessoas diferentes pede de cada um a paciência, a coragem, os subterfúgios e o silêncio do mundo sensível. Ou seja, é preciso que as consciências possam ser levadas em conta e se expressem. Hoje, o conhecimento é externo, pautado no conteúdo, possuímos habilidades, competências, mas não desenvolvemos o ser sensível para autoconhecer, tão necessário para o desabrochar do Bem, da essência Divina. O Mundo sensível possui imaginação criativa, visão de objetividade e afetividade, isto é, consciência que nos move para não nos privarmos das noites em branco, de viagens espiraladas, em que celebramos a alegria de compreendermos nossa presença no mundo.
Ser neste sentido, é ser com, é ser para. Apenas um passo incomum, um salto, apesar do medo, da dor, do risco e do peso da responsabilidade, que é literalmente resposta a um chamado, pode nos permitir modificar uma representação, ampliando, revendo, aprofundando, conversando com nossas representações anteriores, sobre o mundo, sobre os outros, sobre nós mesmos. Apenas um salto pode nos levar a perceber que a realidade possui vários níveis. A física contemporânea demonstrou a descontinuidade entre os níveis quânticos e macro físico. No entanto estes diferentes níveis de realidade são ambos atravessados pela consciência humana. Como?
Talvez exista um paralelismo entre o nível quântico e um psíquico. Porém, também pressupõe a existência de outros níveis, de outros saltos, que nos remeteriam ao sagrado.
Para começar é preciso coragem. Não se ensina a começar. Aprender a ser, sempre nos remete em última instância, a uma decisão pessoal daquele que aprende, e se pudermos torcer pela decisão, distribuir metodologias, conselhos, afetos ou por vezes, até aumentar a crise para ver se o outro acorda, nunca poderemos decidir aprender a ser no lugar de ninguém. Tentemos tantas vezes quanto julgarmos necessário. Então e somente a si mesmo, uma pergunta. Esse caminho tem coração? Se tem o caminho é bom, se não tem, não serve.
Seres transdisciplinares apreendem diversos campos de conhecimento, ousando cruzar saberes, oriundos das ciências exatas, com as ciências humanas, as artes e as diferentes tradições espirituais. Aqueles que tratarem de uma necessidade urgente, ou responderem a um ardor verdadeiro irão se difundir muito rapidamente e durarão muito. Será aqui a marca deixada do novo marco da humanidade? A criação é parte do tecido do mundo, mas a criatividade só se manifesta, quando o foco criativo do homem desenvolve a capacidade de alterar estruturas, assumir papéis diferentes, e produzir uma gama de soluções engenhosas para um dilema perturbador. A mente criativa, eternamente insatisfeita lança-se em direções desconhecidas e desfruta ser diferente.
O Criador raramente descansa sobre seus louros; em lugar disso, continua avançando por um caminho longo e inexplorado, totalmente pronto para arriscar em troca da oportunidade de deixar mais uma marca diferente. Atitude lúdica, curiosidade, poderes imaginativos são palpáveis e especialidades do Ser Criador. É preciso investigar, desafiar, conhecer o erro, harmonizar e fortalecer o “corpo criativo” que cria, progride, mantendo abertas possibilidades alternativas, e como plano de ação, exploração aberta. Porquê, da penumbra do auditório, fixamos nosso olhar admirado em um palco iluminado, onde acontece algo que é fictício e que tão completamente absorve a nossa atenção? O objetivo do Criador é ampliar o conhecimento, colocar em questão os limites de um gênero, orientar um conjunto de práticas, em direções novas e imprevistas. Amplitude de visão, uma forma que doa aos atos, sentido de valores elevados, consciência expandida e dimensões integradas.
A arte é indispensável, pois reflete a infinita capacidade humana para a associação e circulação de experiências sensíveis, criando também um momento de humanidade, que promete constância no desenvolvimento. Será que nós criadores, caçadores de valores reflexivos, buscadores sagrados, conseguiremos dentro da Academia, trazer à tona a verdadeira sabedoria? Todo ser humano vive e se move num mundo próprio, completamente independente do mundo no qual outra pessoa vive; somente quando certa harmonia é criada entre esses mundos diferentes, é que eles se interpenetram e os homens se encontram e se entendem.
Se ouvirmos em silêncio, ouviremos e entenderemos corretamente; mas enquanto houver qualquer coisa se mexendo e fazendo barulho na nossa cabeça, entenderemos somente o que está mexendo na nossa cabeça e não aquilo que nos foi dito.
Isto é verdadeiro para a mente, porque todos se movem dentro do próprio mundo mental, criado pelos próprios pensamentos. É uma verdade que pertence ao movimento do plano mental e é válida somente lá, porque a mente é um instrumento de ação e formação, e não um instrumento de conhecimento. Há uma coisa certa a respeito da mente e de seus trabalhos: é que se pode entender apenas o que já se conhece no próprio ser interior. O conhecimento que parece chegar de fora é somente uma ocasião para externar o conhecimento que está dentro. Se quisermos entender verdadeiramente, devemos ficar por trás do som e do movimento das palavras e aprender a ouvir em silêncio.
A palavra concentração tem sentido claro e definido. Refere-se a coisas que têm um centro comum ou que são deslocadas para o centro. A força aplicada sobre um único ponto, atua com mais eficiência e parece muito maior do que se aplicada em muitos pontos. Controlar uma máquina significa que somos capazes de pô-la em ação, modificar sua velocidade e finalmente faze-la parar quando necessário. E isto é exatamente o que se exige da mente disciplinada. O Trabalho de Consciência requer mudanças de hábitos e comportamentos; quando atentos, percebemos quão árduo ele é, justamente porque mexemos nas couraças. Quanto mais cavamos, mais profundamente vamos, entramos raízes abaixo, e são muitas as arestas a serem aparadas até chegarmos ao estado onde tudo é nada e vice-versa.