A Finlândia já é considerada oficialmente um membro da OTAN e isto significa que passa a ser igualmente uma fronteira da OTAN, sob proteção da mesma.
O ministro da defesa russo, Sergei Shoigu e o diplomata russo e porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já vieram a público alertar para este avanço da NATO na região leste.
Para os russos, o pedido de adesão da Finlândia à OTAN, não é nenhuma surpresa, muito pelo contrário, veio a reforçar a teoria de que os Estados Unidos da América, querem fazer frente aos objetivos russos e à sua influência nas regiões do Báltico e na Escandinávia.
O pedido de adesão à Aliança Atlântica foi aceito e a Finlândia torna-se assim no 31º membro da organização. Ao mesmo tempo, este sonho ainda não se concretizou à vizinha Suécia, visto que, a Turquia não olha com bons olhos para este pedido de adesão. O que era de esperar, pois os turcos estão habituados a negociar no seu dia-a-dia e para que este “negócio” dê resultado, é preciso que a Suécia ceda aos seus interesses.
Nas Relações Internacionais, o que hoje é, amanhã tem outro significado e a volatilidade é tão presente, que após a invasão levada a cabo pelas tropas russas, a Finlândia e a Suécia não perderam tempo e por temerem pela sua soberania, segurança e estabilidade – e com razão – olharam para o lado ocidental como a sua salvaguarda e proteção contra as ambições imperialistas de Vladimir Putin.
De relembrar, que o “escolhido por Deus” - expressão utilizada pelo líder da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Cirilo - quer recuperar aquela que um dia foi a zona de influência da Mãe Rússia, as antigas Repúblicas Socialistas Soviéticas. Indo Putin beber às teorias do Euroasianismo de Aleksandr Dugin, um ideólogo influente no seu plano de ação e pertencente ao seu núcleo duro de poder. Um outro conceito que importa referir e que está presente nas RI e em todas conflitualidades bélicas, é o dilema de segurança. O dilema de segurança nada mais é, do que uma competição de poder numa sociedade anárquica e um circulo vicioso de acumulação de segurança entre Estados. Portanto, a entrada da Finlândia na OTAN, por um lado, representa uma ameaça real para o Kremlin e por outro, é uma garantia para a segurança dos países do Báltico e da região do Ártico.
Uma nova ordem internacional está a germinar e deixa de ser a configuração vestefaliana que conhecíamos até então, passando a haver uma nova ordem internacional multipolar com três centros, cada um com as suas leis e autonomia. Os centros são então, (i) o Ocidente (a Europa, os EUA e Canadá), (ii) a Zona de influência da Mãe Rússia e (iii) a China.
Como afirmou Josep Borell, chefe da diplomacia europeia, “a aposta nuclear russa, com a mudança de equipamento nuclear para a Bielorrússia, constitui um novo agravamento e representa uma ameaça direta à segurança europeia”.
Num mundo em reconfiguração, assistimos a várias decisões cujos resultados têm impactos diretos na cena internacional. A Suécia continua à porta e só está com um pé dentro e outro fora devido aos atrasos da Turquia e do seu poder de veto. Este atraso deve-se a vários fatores como, a pertença da Turquia no projeto de aviação americano, o Estado Sueco proteger e albergar cidadãos curdos, que para a Turquia não passam de terroristas, entre outros motivos.
É preciso relembrar que os curdos procuraram exílio político na Suécia, devido à perseguição étnica e a conflitos internos por parte do governo turco, em não os reconhecer enquanto povo. A partir do momento em que os pedidos de exílio foram aceitos, a postura de Erdoğan e do seu poder de veto, vieram a afirmar a postura de “quero, posso e mando”.
O que parece estar a avizinhar-se, é a Suécia enviar de volta os exilados políticos para a Turquia e ao aceitar esta exigência do governo turco, estar também a compactuar numa negociação favorável para a Turquia e não para o povo curdo.
Mesmo que a Suécia permaneça nesta incerteza, acredito que a OTAN irá fazer de tudo para que este pedido não fique nas entrelinhas, concretizando-o e tornando a segurança um direito fundamental.
Recorrendo ao Tratado do Atlântico Norte (1949) esta é a pedra basilar que assegura a defesa política das democracias aliadas e mantém a segurança dos cidadãos assim como a estabilidade na região do atlântico norte.
A defesa colectiva é uma das tarefas fundamentais da OTAN e é invocada no art.5º do tratado e que diz o seguinte: “As partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas (…)”. Neste excerto, está presente o conceito de cooperação e defesa mútua, devendo este ser alargado a outros Estados que igualmente queiram juntar-se. Face ao exposto, a nível europeu, é preciso que a União Europeia tenha coragem e seja uma organização supranacional autónoma capaz de tomar decisões em matérias de segurança e defesa sem ter que depender totalmente de outros. Em prol da soberania, segurança e da liberdade não só dos estados-membros mas dos seus cidadãos. Sendo esta uma Europa em constante mutação e já com estados a desunirem-se (ou terem essa pretensão) daquela que seria uma união duradoura, ou pelo menos só para alguns.