Na contemporaneidade, a cibernética oferece ao homem uma prodigiosa sequência de informações; a internet democratizou as relações humanas, e, nessa esteira, a educação incorpora essa nova ferramenta para tornar a aprendizagem mais eficiente.
Teóricos como Jean Piaget e Levy Vygotsky entendiam a relevância da interação para o desenvolvimento intelectivo e social do estudante, e o advento de tecnologias, em seara da informação, pode contribuir para o enriquecimento qualitativo e quantitativo de conhecimentos que podem contribuir para despertar o interesse das crianças, desenvolver ideias, estimular a criatividade e o raciocínio.
Piaget debruçou-se sobre o estudo do desenvolvimento mental do ser humano, e seus estudos levaram-no ao entendimento de que a formação do conhecimento ocorre à medida da maturação biológica do ser; dessa forma, a teoria construtivista de Piaget entende que a capacidade de aprendizagem segue pari passu com as experiências que as crianças adquirem, na medida do tempo, da idade.
Vygotsky, por sua vez, destaca a relevância da cultura, da interação social no processo da aprendizagem humana. É em sociedade que nos concretizamos enquanto pessoas humanas e criamos as condições de possibilidade da existência. Sendo assim, é de grande importância que busquemos de diversas formas e meios entender o significado mais profundo das interações sociais no desenvolvimento humano.
Pela experiência em sala de aula no ensino médio, entendo que precisamos ter cuidado para colocar limites no tempo que as futuras gerações (e nós adultos) temos dedicado às interações com as telas de celular e computadores. Por vezes, podemos tornar-nos dependentes da interação com as telas que, mesmo sendo importante, estudos futuros específicos devem apontar os riscos para o desenvolvimento humano de crianças superexpostas nas redes sociais, que, além de perderem a conexão com a realidade ao não se relacionarem com aqueles que estão próximos e criarem um mundo virtual totalmente particular, isolado do contexto da realidade em que estão imersos, podem sofrer graves consequências futuras diante desse comportamento.
Do ponto de vista jurídico, podemos pensar na importância de que os pais estejam atentos aos direitos de imagem dos próprios filhos, que uma exposição constante pode ser nociva e o uso abusivo da imagem dos filhos nas redes sociais pode comprometer o desenvolvimento dessas crianças. Não estamos criando uma apologia do fim das tecnologias, das redes sociais, mas afirmando que é necessário equilíbrio para que não percamos o contato com o real que ocorre no cotidiano. É no cotidiano que as crianças, jovens e adultos, precisam estar mais “conectados”, sem deixar a oportunidade de se relacionarem com o mundo virtual.
É importante pensar em uma educação para valores como fundamental e também na educação para a afetividade. Em um mundo pluralista e com diversidades, é de capital relevância evidenciarmos a necessidade da prática do respeito pela pluralidade e da capacidade de relacionar-se com o diferente sem com isso ofender ou desrespeitar o próximo. Valorizar a tecnologia, o mundo virtual, é importante, sim, mas não podemos esquecer que a educação deve ser o ato humano de preparar as novas gerações para viver em sociedade, essa dimensão da humanização jamais deve apartar-se do processo educativo.
Enfim, muitos discursos que as tecnologias trouxeram para a educação das futuras gerações precisam ser amplamente debatidos na sociedade, visando sempre a uma reflexão sobre continuarmos valorizando o processo de ensino-aprendizado, mediado por tecnologias e pelo impacto positivo das tecnologias em nossa vida. No entanto, não podemos exagerar. Colocar limites na interação do ser humano com as tecnologias que, em si, são ferramentas importantes e fundamentais para o desenvolvimento e progresso da humanidade, mas necessitam de uma intencionalidade que contribua para que o homem dê continuidade no seu processo de desenvolvimento. Somos humanos e nenhuma tecnologia (ao menos pelo que entendemos) nos ensinará a ser além das próprias relações com os demais seres humanos. Nesse sentido, precisamos cada vez mais aproveitar, sim, as tecnologias para tonar o mundo melhor para todas as pessoas, mas preservando a dignidade que em cada ser humano habita.