As mídias sociais são indispensáveis nos dias atuais, um fato consumado explicitado por Castells em seu livro "Sociedade em Rede". Ele afirma que as sociedades estão passando por mudanças comportamentais significativas devido às mídias sociais, a ponto de sua forma de comunicação descentralizada influenciar muito o rumo das sociedades modernas no âmbito político e sociocultural. Inclusive, ele afirma de forma bastante explícita que as mídias sociais modificaram e revitalizaram diversas democracias pelo mundo. De alguma forma, ele não está equivocado em certos pontos de sua análise, já que essa ferramenta confrontou ordens pré-estabelecidas por políticos tradicionais, grandes barões da mídia em diversos países e grandes empresários.

No entanto, não podemos ser profundamente positivistas e ter um entendimento equivocado sobre a tecnologia, incluindo as mídias sociais. Ao mesmo tempo que ela tem o poder de gerar grandes alterações positivas para o mundo, a tecnologia pode produzir sociedades doentes e diversos problemas de ordem social e política em vários países. Como Heidegger disse, a tecnologia não é um instrumento ou uma atividade humana, mas sim uma maneira do ser humano ver o mundo e lidar com ele. Dependendo da situação, ela pode ser um perigo ou um grande agente transformador, o que vai depender de como o ser humano utilizará a tecnologia.

Em outras palavras, as mídias sociais, quando não utilizadas de forma correta, podem produzir abalos muito sérios no mundo real, indo desde tentativas de golpe de Estado até a ascensão de discursos populistas de direita, que podem adoecer sociedades inteiras e conduzir as instituições a uma crise de representatividade muito profunda. Discussões políticas sérias podem ser tomadas por um fanatismo nocivo e perigoso, independente da posição política que o indivíduo dessa sociedade tenha.

A conscientização dos cidadãos com cursos, junto à regulação sobre o uso das mídias sociais, é algo importantíssimo, pois estabelece um uso mais ético das mídias sociais, algo raro em várias partes do mundo e que poderia evitar graves consequências fora das redes sociais, como foi o caso do 8 de janeiro no Brasil, do ataque no Capitólio nos EUA e da conspiração para o golpe de Estado na Alemanha em 7 de dezembro de 2022.

Mas será que a solução está na censura prévia ou em regulações que remetem ao enredo do livro "1984" de George Orwell, com os famosos crimes de pensamento e uma espécie de Grande Irmão? A resposta é não. É evidente que pode ser feita uma regulação das mídias sociais para criar mais segurança no ciberespaço e evitar o mau uso dessa forma do ser humano lidar com o mundo, mas essa regulamentação tem de ser pautada politicamente com honestidade, ou seja, não pode visar coibir o discurso dissidente. Uma vez que a existência do discurso dissidente é essencial à democracia, essas leis têm de ser aplicadas por órgãos independentes e devem retirar interesses escusos relacionados à regulação, focando em controles regulatórios das mídias sociais que equilibrem liberdade e responsabilidade. Infelizmente, o Brasil enfrenta muitas dificuldades para estruturar leis nesse sentido dentro do equilíbrio de responsabilidade e liberdade. Devemos acompanhar essa situação com atenção.

Portanto, as mídias sociais não são boas nem más, uma vez que vai depender de como o ser humano as utiliza para lidar com o mundo em que vive. Não é dispensável uma regulação das mídias sociais, mas que seja feita com bastante discussão, equilibrando responsabilidade e liberdade e atuando com honestidade intelectual ao propor essa regulação, afastando-se de qualquer tipo de censura prévia ao implantar esse tipo de arcabouço legal ligado às mídias sociais.

Além disso, é fundamental reconhecer o papel das mídias sociais na democratização do acesso à informação. Enquanto oferecem uma plataforma para a livre expressão e a disseminação rápida de notícias, também apresentam desafios relacionados à disseminação de informações falsas e ao cyberbullying. Portanto, o desenvolvimento de competências digitais entre os usuários se torna essencial para navegar nesse ambiente complexo. A educação digital, que enfatize a verificação de fatos e a construção de uma comunicação online responsável, pode ser uma ferramenta valiosa para fortalecer a sociedade contra os riscos associados ao uso inadequado das mídias sociais. Nesse contexto, a colaboração entre educadores, plataformas de mídia social e governos é crucial para promover um ambiente digital mais seguro e inclusivo, garantindo que as mídias sociais continuem sendo forças positivas para o avanço social e político.