Ir ao cinema sempre foi uma das minhas atividades prediletas. Paro o que estou fazendo e pesquiso e que está em cartaz. Analiso os filmes, e meu próprio humor. Dia de quê? De rir, de chorar, passar medo, de revisitar um diretor querido? Ou de testar uma recomendação repetida? Feita a escolha, vou até a sala de cinema; dou preferencia aos cinemas de bairro - uma opção cada vez mais limitada, infelizmente. E da-se início à experiência; o cheiro de pipoca - e a pressão de não devorar o balde antes do filme sequer começar - admirar os cartazes e planejar o próximo evento, procurar o assento no escuro, reclamar dos trailers longos e, claro, das pessoas que falam alto demais. Até que finalmente, começa o filme.
Todos nós, estranhos no escuro, vivenciamos um momento especial de coletividade ao entender e intrepretar a história que descorro em nossa frente, associando a cada experiencia, cada memória e aventura individual. O filme é o mesmo, as emoções que incita são infinitas e únicas.
Venho pensando bastante sobre isso pois, desde que o mundo se fechou devido a pandemia, e das suas incertas reaberturas, acredito que a relação que temos com o cinema em geral mudou. Talvez pelas centenas de opções de streaming, pelo fato de termos nos acostumado a evitar “muvulcas”, pelo preço inegavelmente alto do ingresso… seja qual for o motivos - ou os vários motivos - as pessoas não frequentam mais salas de cinema tanto quanto antes. Tanto que o mais recente filme de Steven Spielberg, The Fabelmans, conta com uma cena do diretor agradecendo a presença dos telespectadores - algo inimagivánel, há alguns anos atrás.
Um evento inesperado, porém, trouxe centenas de pessoas devolta às telas: dois filmes, completamente opostos, extreiaram ao mesmo tempo: Oppenheimer, de Christopher Nolan, e Barbie, de Greta Gerwig. O primeiro conta a história de Robert Oppenheimer, um dos personagens mais importantes no desenvolvimento da bomba atômica, um evento que mudou o mundo para sempre. O segundo, como o nome sugere, protagoniza a boneca mais famosa que já existiu. Ambas obras de diretores renomados, contam com elencos excelentes, e suas estreias foram aguardadas com animação.
Muitos telespectadores resolveram, então, juntar-se em uma nova experiência; Barbieheimmer - um evento que consta em assistir os dois filmes no mesmo dia. Oppenheimer conta com 3 horas de espetáculo, e Barbie, com 2h. No total, 5 horas, é tempo suficiente para ocupar uma tarde inteira. Barbieheimmer, como qualquer evento atual, é controverso; alguns defendem que a ordem certa é chorar, depois rir - ou seja, assistir a obra de Nolan primeiro, que é densa, complexa, e, como de praxe, sombria. E, depos, para não encerrar o dia deprimido, assitir a obra de Gerwig, que é uma comédia. Há quem discorde, e diz que se deve animar primeiro, depois sofrer. Concordo com a primeira sequência.
Claro que a sequência dos eventos não é particularmente importante; nem o evento em si. Mas, o que é de fato importante, pelo menos ao meu ver, é o efeito: voltemos a ir aos cinemas! Seja para assistir Margot Robbie em seus vestidos rosas, para entender mais sobre um evento sombrio da nossa história, para ver super-herois salvando o mundo, ou para aproveitar um filme pequeno em um língua desconhecida. O importante é ir.
Claro que o conforto do streaming é inigualável; deitar na própria cama, pegar o controle remoto e assistir uma obra no próprio tempo, do próprio jeito; com direito a pausa para ir ao banheiro e pedir lanche em um aplicativo de comida! Mas não devemos deixar que isso seja uma substituição, ou esperar um evento a là Barbieheimmer para ir as salas de cinema.
Não devemos esquecer desse ritual tão especial, de assistir um filme de forma conjunta - mesmo sem conhecer uns aos outros, mesmo sem conversar, mesmo sem discutir - há algo inegável que acontece na atmosfera de um abiente quando dezenas de pessoas vivenciam uma história simultaneamente. Isso dá força aos filmes, à ideia de que contar histórias é válido, e que conhecê-las é essencial. A singularidade de cada telespectador se mistura com a reação conjunta, e passa a fazer parte de algo maior do que cada um.