Uma nova política económica brasileira no século XXI, mais precisamente iniciada em 2003, foi herdeira de algumas práticas anteriores à transição entre o antecessor governo e o novo, daquela década. Ambos sendo governos sociais democráticos, para não diretamente os determinar como socialistas apesar de, seguirem nas suas siglas os termos partidários europeus de sistemas similares da social democracia. Entretanto, um governo disputado numa eleição entre: de um lado um professor economista internacional e no outro, um representante trabalhador sindicalista. O primeiro sendo da situação, já havia conquistado o fim de um oligopólio económico farmacéutico de medicamentos genéricos. O segundo sendo da oposição, era representante dos sindicatos de trabalhadores industriais de outro oligopólio, que por conseguinte, do seu maior produto supridor, um monopólio estatal do petróleo.

O herdeiro do bem sucedido plano Real, de estabilização da inflação e da recuperação do poder de compra monetário, conseguiu dar continuidade e aproveitar beneficamente uma nova 'atmosfera' económica internacional, ao acompanhar as perspectivas do previsto futuro moderno mundial. Os mercados receosos e inseguros,da nova linha que poderia vir a ser seguida pelo governo até então oposicionista, surpreendeu-se positivamente com uma sequência ao modelo anterior, na sua característica económica principal, acomodando-se tranquilamente ao governo norte-americano do presidente Bush e, posteriormente também ao do presidente Obama. O primeiro, um grande interessado no mercado petroleiro obviamente e o segundo, disruptivo, como o homónimo brasileiro que, ambos foram inovação em novos modelos de presidentes.

A diplomacia brasileira, sempre considerada bem preparada e equilibrada internacionalmente, não fugiu à regra e até surpreendeu, como foi enfatizado pela afirmação norte-americana sobre o presidente Lula, do qual Obama disse: "That is my man!". Noticiado em toda a mídia naquela ocasião como, "Esse é o cara!", não foi bem este o significado da tal expressão inglesa.

O conceituado sindicalista do ABC paulista, historicamente reconhecido por sua liderança dentro da indústria automotiva juntamente à sua eclética e bem preparada primeira equipa governamental - desde embaixadores reconhecidos, a economistas influentes e empresários exportadores - conhecedores das muitas ferramentas financeiras modernas, souberam aproveitar e implantar ações naquele momento ímpar, da política económica internacional. Adaptando e associando-se ao sistema norte-americano capitalista mas, simultaneamente aos socialistas de mercado, russo e chinês, ocupou um papel fundamental na formação e organização dos BRICS. Bem como, na liderança sul-americana das economias vizinhas do continente. Deu-se a entender que um novo sistema internacional híbrido estava em andamento, onde o socialismo e o capitalismo poderiam vir a ser agregados, para uma melhor prosperidade sócio-democrática universal.

A preponderância chinesa e a criação do banco de fomento dos BRICS, foi uma implantação deste sistema econômico de cooperação internacional que, era conhecido até o momento pelos chineses, através das suas regiões autônomas, vinculadas politicamente ao resto do mundo, como o foram Hong Kong, Macau e Taiwan (Formosa). A histórica experiência destes chineses capitalistas, transformou-se em favor de socialistas modernos e progressistas.

Todavia, o Brasil tendo aproveitado a onda econômica favorável do ciclo econômico do novo século, não conseguiu acompanhar todas as transformações posteriores ou, perceber nuances técnicas para melhor favorecer o seu sistema político, o seu mercado e um novo papel internacional brasileiro, consecutivamente. A jovem democracia alternante, em contraste à estabilidade política dos principais parceiros do bloco 'sulista', frustrou-se quando os ventos econômicos ditados pelo norte económico, tiveram que ser ou naturalmente foram, alterados. A valorização do barril do petróleo, a operação com swaps cambiais e o hedging de commodities, permitiram uma imediata distribuição de renda e riqueza, com um desenvolvimento industrial baseado no setor automobilístico multinacional.

Esta política foi demasiado estendida no seu prazo, traindo alguns interesses e principalmente afetando o incremento exportador brasileiro, em troca da nova e excessiva valorização cambial para o consumo de importações. O acompanhamento destas variáveis econômicas internacionais perdeu-se em determinado momento, num cenário doméstico que, devido às mudanças políticas - naqueles parceiros orientais não democráticos, raramente ocorre - pôs em causa os subsequentes governos face, aos novos cenários. Em conjunto, vizinhos menos expressivos e com interesses diversos, dependentes de uma liderança regional, não conseguiram contribuir nem serem constantes em suas políticas progressistas, devido às recentes democracias que, também o são. Além mesmo da reconhecida Venezuela 'petroleira', órfã de uma liderança política altiva, para dado momento histórico.

Assim sendo, verifica-se que o Brasil sofreu de um desequilíbrio político e econômico, carregado pelas alterações destes ambientes globais. Nestes mesmos setores à nível internacional, com os adventos naturais - black swan effect (efeito cisne-negros) - que afetam desde as safras agrícolas e econômicas em todo o mundo, até o acaso que também interfere no futuro, como ações e decisões do passado. Portanto uma substituição de dívida-externa em moeda estrangeira, por reforço do papel económico através de importações e exportações, momentânea redução da pobreza e, apoios sociais e de inclusão econômica entre outros, foram mecanismos que a nova financeirização internacional possibilitou. Abreviou e transformou os próximos estágios de um estruturado e perene desenvolvimento brasileiro. Faz-se cada vez mais importante o papel político da diplomacia económica neste contexto moderno da globalização, em que o Brasil nunca estará alheio, apesar de insistentemente neutro.