Se você está em uma universidade ou plugado em uma rede social, já deve ter esbarrado com a palavra decolonialidade. O conceito tem sido discutido em eventos acadêmicos e por diversos influenciadores que desenvolvem conteúdos sobre as minorias, em particular, de povos que foram submetidos à dominação eurocêntrica.
No entanto, o termo ainda é pouco conhecido pela população em geral, o que dificulta o entendimento e a discussão sobre um tema tão importante em nossos dias: a condição racista e elitista imposta pelas políticas coloniais que desfiguraram o colonizado.
Antes de entender o conceito de decolonialidade, vamos conhecer o conceito de colonialidade. Segundo Luciana Ballestrin, o termo representa a apropriação de recursos, trabalho, capital e educação pelo poder capitalista eurocentrado, que mesmo após o período denominado pós-guerra, ainda está presente em nossa sociedade.
Em outras palavras, a colonialidade pode ser vista como o poder de submeter colonizados a inferioridade, marginalizando sua arte, sua cultura, suas religiões, sua sexualidade e sua opção política por meio de sua desumanização.
Portanto, o conceito de decolonialidade surge como meio de resistência e desconstruções de padrões impostos a esses povos marginalizados, por intermédio de oposição direta à modernidade e ao capitalismo.
Embora pareça um conceito novo, grandes pensadores já discutiam o tema em décadas passadas, como o filosofo e psiquiatra Franzt Fanon, que faz profundas críticas ao pós-colonialismo e o ensaísta Albert Memm que descreve a vida difícil e injusta dos colonizados.
Atualmente, um dos maiores teóricos sobre o tema é o argentino Enrique Dussel. Em sua obra, o autor e filósofo contemporâneo, erradicado no México desde 1975, defende a totalidade, a exterioridade, a alienação, a mediação, a proximidade e a libertação como base para a Teoria da Libertação.
Segundo Dussel, mais do que inclusão há que se preocupar com a ética sobre o próximo, olhando para a questão através da perspectiva da vítima (no caso, os povos colonizados), pois esta atitude permite a conscientização que dependemos uns dos outros para sobreviver em harmonia.
Agora que já entendemos os conceitos de colonialidade e de decolonialidade, como podemos contribuir para derrubar está barreira ainda presente em nossos dias? Primeiro devemos tem em mente que romper com conceitos intrinsicamente ligados à globalização, num momento da humanidade que todos querem falar e serem ouvidos, não é tarefa fácil.
Para começar é necessário que o próprio individuo tenha criticidade em relação a sua identidade social, educacional, política e sobretudo, a sua identidade nacional. A partir desta reflexão é possível livrar-se das narrativas dada pelo discurso colonial, ou seja, do individuo não merecedor.
Esta criticidade pode ser ensinada na escola, assim que a criança adentra a instituição. Por meio de um currículo educacional para pensar (e repensar) as genealogias, as racionalidades, as ações civilizatórias e o conhecimento transmitido por uma escola ainda com materiais desenvolvidos considerando a estética eurocêntrica.
A decolonialidade não deve ser vivenciada apenas na escola. Em casa, podemos repensar o patriarcado ainda presente em muitas famílias e as dicotomias impostas por elas, tais como: ser preto x ser branco, ser rico x ser pobre, ser homem x ser mulher etc.
As igrejas, em que boa parte ainda segue as escrituras à risca, também devem repensar a colonialidade, uma vez que perpetuam conceitos da idade média em que casais homoafetivos, por exemplo, não são dignos do amor divino.
Até as empresas não escapam de reproduzir o conceito da colonialidade. Por meio da hierarquização, o autoritarismo presente no mundo corporativo, tende a calar a reflexão crítica de quem merece estar em cargos ou funções maiores, mas não as ocupam unicamente, por sua cor de pele, opção política, gênero, religião ou sexualidade.
Observem que promover a decolonialidade em dias atuais é tão árduo como em tempos passados. O preconceito, o racismo, a misoginia estão fincados na sociedade. Acabar totalmente com elas, talvez seja utópico ou um feito para as próximas gerações. No entanto, cabe a nós decidirmos qual posição iremos assumir para um mundo mais justo e igualitário. Qual você escolhe?