Com alguma constância é possível se deparar com um número significativo de pacientes que chegam para o atendimento psicológico associando o amor ao sofrimento. Segundo Bauman (Zygmunt Bauman, conhecido por suas análises do consumismo pós-moderno e das ligações entre modernidade e holocausto) estamos vivendo uma modernidade líquida, o amor líquido, melhor dizendo, permeado pela efemeridade e insegurança na qual nos deparamos atualmente nos relacionamentos, percebemos isso na era da tecnologia, dos aplicativos de encontros, no Tinder e por aí vai, como um catálogo de anúncio de pessoas atraentes ou não, podemos por alguns segundos dizer: essa pode ser uma pessoa de interesse para eu me relacionar ou não, a partir de algumas palavras elaboradas pelo outro e um click nosso, sem ao menos trocarmos uma interação com essa pessoa. Não estou dizendo que a tecnologia seja algo ruim, pelo contrário, a virtualidade é algo positivo também, porém, muitas pessoas a utilizam como forma de se proteger, e de que?, vocês podem me perguntar, e eu respondo com convicção: de se entregar e de amar.
Esse tipo de relação costuma ser bastante delicado, pois nunca teremos a garantia de que será algo passageiro, e se a pessoa se apaixonar? Sob esta perspectiva, a pessoa tende a criar alguns mecanismos de defesa como forma de evitar um possível sofrimento. Essas relações podem vir acompanhadas ou deflagrar um vazio existencial, dificultando assim, um contato mais genuíno com o outro.
Essas relações podem ser reflexo da sociedade contemporânea e imediatista, na qual, quando o outro não corresponde as nossas expectativas, tende-se a se buscar um novo relacionamento, seguindo a lógica que vivemos hoje. As pessoas não estão mais dispostas a “consertar” o que está errado no relacionamento, elas apenas partem para o próximo com uma bagagem cheia de conflitos e questões internas mal resolvidas.
A felicidade momentânea também é algo que ajuda a procura desses “amores de verão”, a busca por algo rápido, algo que não te prenda por muito tempo, que não corra o risco de te fazer sofrer, mas me pergunto, é possível evitar o sofrimento? Destarte, a própria estação nos faz pensar dessa forma, um momento cheio de festas, de acessos fáceis, e de encontros rápidos e superficiais, onde não nos envolvemos ao ponto de mostrarmos quem realmente somos, pois nos apresentarmos ao outro de forma nua e crua é nos depararmos com nossa vulnerabilidade, o que muitos acabam relacionando com fraqueza.
A busca por esse tipo de relacionamento pode ser um mecanismo de defesa, o medo de se decepcionar, de se envolver profundamente com outra pessoa, o medo do sofrimento, enfim, o medo da frustração. E a partir disso, muitos não criam laços de intimidade, não criam relacionamentos sólidos e saudáveis e sim, se auto sabotam, pois assim tem a ilusão de que não irão sofrer, mas pensem comigo, seria apenas uma ilusão, assim como o “ser felizes para sempre.” Ninguém sabe o que vem na posterioridade, a felicidade se encontra nos pequenos momentos e não no grand finale, mas em muitos casos pensamos tanto no final, no topo da montanha, da caminhada, que não percebemos o quanto fomos felizes no percorrer do caminho.