Podemos designar o ser humano como um ser social, no sentido de que necessita de viver em sociedade para poder existir. Este esforço requer a consciencialização de que cada um de nós tem as suas valências e as suas dificuldades, pelo que é este encaixe em que os prós de uns preenchem as lacunas deixadas pelas falhas dos outros que permite uma constante evolução.
Contudo, é inegável que esta cultura social está mais debilitada, com a crescente onda de conflitos e a implementação da cultura do “eu”, tendo o seu maior agente potencializador nas redes sociais.
Por força destas plataformas, e isto encarando a perspectiva das massas, o efeito social e comunitário perde-se em favor das reacções e aclamações do “eu”. É aqui que entram os desafios virais e os demais movimentos em que o conteúdo é irrelevante desde que o fim (maior número de seguidores, reacções, visualizações, etc.) seja uma certeza. Em suma, está construída uma cultura egocêntrica.
Apesar deste retrato, há conforto na certeza de que estão reunidas as condições para contornar esta realidade. A pandemia veio a enfatizar o quão importantes as relações sociais são, com várias plataformas on-line a ser utilizadas e reinventadas para acomodar as mais variadas necessidades.
Um dos principais elementos que se destacou neste sentido foi, nada mais, nada menos que os jogos. Independentemente do formato (jogos de tabuleiro, cartas, narrativos, videojogos), já havia grupos que usavam plataformas e ferramentas como Discord, Roll20 e Tabletop Simulator para conviver e jogar (até porque nalguns casos os grupos são compostos por pessoas que vivem em diferentes partes do país, pelo que combinar sessões presenciais surge como algo complexo). Com o pico da pandemia a afluência a estes canais cresceu, mantendo-se ainda agora neste momento em que os números de infectados começam a diminuir.
Quanto à razão que espoleta isto tudo, é simples: enquanto pessoas, enquanto seres humanos, precisamos de conviver uns com os outros. Através dos jogos, através da arte de contar histórias e partilhar experiências em torno de uma mesa (seja ela física ou virtual), estamos não só a contribuir para o nosso crescimento e bem-estar, como estamos a ajudar outros a cumprir esse mesmo objectivo. Trata-se de um crescimento constante em que a empatia é chave.
No meio disto tudo há que apontar que os jogos continuam com vários estigmas associados. E, face ao exposto, na plenitude dos vários movimentos egocêntricos, não deixa de ser caricato reconhecer que é nos jogos que encontramos aquilo que entretanto se perdeu: a nossa própria humanidade.
Será sempre uma jornada validar esta vertente ludopedagógica, em que para além das competências adquiridas e aprimoradas enquanto jogamos, conhecemos também outras facetas que nos elucidam relativamente ao nosso lugar na sociedade e no mundo. E, com isto em consideração, não há propriamente uma solução complexa e multidisciplinar para abordar o problema, algo belo de contemplar. A solução é em si simples, e passa por encontrar e/ou formar um grupo e jogar, sempre com uma mente aberta e vontade de descobrir o que mais se pode aprender.