Vivemos em uma sociedade totalmente líquida, como diria o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman. Mas é possível ir além quando percebemos pessoas que se limitam nas suas relações, que criam e vivem em conflitos com seus desejos, seus medos, suas crenças e suas histórias. Afinal, é comum as pessoas falarem para todas as situações e todos os contextos que não têm tempo para nada. Não têm tempo para se divertirem, relaxarem, cuidarem da saúde, ficar com quem se ama ou até mesmo fazer o que gostam. Mas a pergunta é: As pessoas têm tempo para amar?
Vamos pensar um pouco a respeito do momento em que estamos vivendo, hoje o comum é dizermos não termos tempo para absolutamente nada, nem mesmo para o amor. A correria do dia-a-dia, os prazos que precisam ser entregues no trabalho, a forma descartável que acabamos tratando as pessoas, nos limitam a pensarmos que a melhor solução é estarmos sozinhos. Que o estar só, hoje em dia, é suportável, mas o que percebemos nos consultórios de atendimentos psicológicos é que cada vez mais tem pessoas adoecendo por não sustentar essa mascarada independência afetiva, ou seja, ao mesmo tempo que pensa estar em uma condição totalmente livre independentemente afetivamente, não suporta o fato de estar diante da sua própria companhia, diante de suas próprias questões, então volta pro início e acaba criando uma dependência ao passo que se depara com o “primeiro” parceiro que encontra, eis que surge uma outra questão: Isso então seria um conflito de desejos ou não sustentar o que realmente se deseja?
Muitas pessoas se queixam pelo fato de estarem repetindo suas relações, mas percebemos que o que se repete de fato é um padrão, e enquanto esse padrão não for identificado, ele não poderá ser elaborado. O que me fez lembrar neste momento do famoso “dedo podre”, mas se pararmos parar refletir (além), vamos perceber que o dedo é da pessoa que tanto se queixa e sim, é preciso ter consciência de alguns comportamentos repetitivos para que assim se possa modifica-los na vida do sujeito e um novo sentido a partir daí surgir então.
Nós repetimos o que nos foi repassado de amor lá atrás, na nossa infância. A gente aprende a amar da forma como entendemos e interpretamos como fomos amados. A questão está em como essa forma está sendo interpretada por nós?
O amor pode ser aquilo que traz o sujeito para o consultório, o que pode mantê-lo em análise (amor de transferência) e o que pode também fazer com que o mesmo vá embora.
Sempre lidamos com algo de infantil ao amar. O amor tem a ver com fantasia, com o imaginário, principalmente infantil e ao se deparar com o outro vem todo o mal-estar, pois o real faz parte do jogo também.
Eis que pergunto, O amor é cego? O amor que faz o sujeito começar uma análise é um amor a partir de um saber, um amor de olhos abertos, o que nos coloca perante uma contradição. O que é o amor? Ou seria, de qual amor estamos falando nesse momento?
Sofremos o tempo inteiro por querermos ser inteiros e podemos confirmar isso no mito de Aristófanes, onde éramos seres andróginos e Zeus – com medo do nosso poder, nos castra, nos corta ao meio e passamos então a vagar atrás dessa nossa outra metade, e a pergunta aqui é: Caso encontremos essa outra metade nos sentiremos preenchidos? De alguma forma existe a possibilidade dessa falta ser preenchida?
Percebemos que as pessoas demandam cada vez mais amor em uma contemporaneidade líquida, com rupturas muito mais rápidas e fáceis, porém isso não implica e não quer dizer que seja mais fácil lidar com essa perda e esse luto. Mais uma vez digo que o sofrimento – sofrer por amor, está ali, diante de nós e não devemos abandoná-lo, muito pelo contrário, precisamos reconhecê-lo. A gente passa a existir quando nos separamos do outro, precisamos disso para nos reconhecer. E vamos falando do amor, sem parar, pois ele sim é o nosso combustível tanto em nossas relações, como em nossas sessões de análise.