Comecemos por perguntar :
- Que relação entre educação ética e defesa nacional?
- O que motiva esta dialéctica estratégica?
- Que objectivos pretende atingir?
Vamos tentar abordar sucintamente estas questões.
Se por um lado a educação ética se relaciona com uma consciência a educar e com a liberdade e autonomia do cidadão, como nos lembra Manuel Patrício no seu artigo da revista Nação e Defesa, nº78, a defesa na sua máxima generalidade é preservação do nosso ser e da nossa identidade, que implica que a educação deva dirigir-se ao nível mais profundo da consciência do sujeito educativo. Também Roberto Carneiro, num artigo sobre “Educação para a Cidadania” publicado no nº 4 da revista Brotéria se refere a uma cultura cívica, ou seja, a uma formação das consciências, algo que implica o sustento de uma nova ética de relação com o meio, com a natureza, pois o sujeito é sempre um sujeito-em-situação.
Não esqueçamos ainda o que o Relatório Delors intitulado Educação: Um tesouro a descobrir, sublinha nas suas conclusões fundamentais que se identificam 4 pilares da educação de futuro: aprender a conhecer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Há, pois, que defender atitudes, comportamentos, competências e valores, conjugados numa socialização ao longo de toda a vida, o que fará emergir em nós, a ética da responsabilidade; aliás, algo que a literatura, quer a nível nacional, quer a nível internacional, tem vindo a explorar recentemente, como sublinha Robert Meyers, no seu artigo “Ética em questões”, na revista Diálogo de 91. Existe,de facto, uma nova literatura sobre direitos humanos que explora as possibilidades de um novo relacionamento entre o cidadão e o seu próprio país, bem como entre o cidadão e a comunidade internacional. As pessoas são levadas a questionarem-se com dilemas éticos que surgem no processo decisório da política interna e externa (ex: Referendos). Isto leva-nos a duas questões, a da avaliação e a da intervenção.
Se por um lado, os cidadãos são levados a uma auto e hetero-avaliações, por outro lado, são cada vez mais chamados a intervir sobre o que é certo ou errado, isto é, sobre questões ético-morais, em que uma hermenêutica da interpretação se torna necessária. Segundo este autor, a ética está ligada à vantagem e à razão e é isso o que faz dela um factor importante no processo decisório pessoal, institucional e internacional. É, que, de facto, somos todos o produto do acumular das nossas decisões. A vida é feita de escolhas e os padrões éticos é que determinarão a forma da nova ordem mundial emergente. Como tal, Portugal não se pode excluir deste processo decisório, visto que uma decisão é uma determinação “efetiva” de política, como afirma se in Autoridade e Poder (p.28); o processo de executar determinado curso de acção; o poder é a participação no processo decisório. O poder político tem que ver com o poder sobre as pessoas, com o modificar da sua conduta, logo, tem que ver com valorizações específicas, com um controlo sobre práticas e padrões de valor. Todavia, há que ter em conta que a arena do poder não é necessariamente composta de homens políticos mas é um círculo interactivo onde co-habitamos. O poder é ele próprio um valor em si mas sempre referente a um sujeito X que influencia sujeitos Y.
É o poder de…sobre…que pode originar conflito de interesses ou um direito de justiça. Para, de tal, termos consciência, há que perceber um determinado modo de ser e de estar-no-mundo, sobretudo o nosso: o de ser e estar-no-mundo Português.
Os valores culturais, éticos,religiosos que envolvem a identidade nacional e aí, quer a nossa História, quer a nossa Literatura, com os seus respectivos herois e anti-herois, revelam-nos muito sobre a memória do nosso Passado e sobre os desejos do Futuro. É aí que se revelam também as características da defesa dentro do modo de ser Português.
É aqui que a educação começa a ter o papel de formar uma autêntica consciência nacional, através das fontes e da hermenêutica das mesmas, para que o carácter dos cidadãos constitua a força e o espírito de defesa, essa vontade esclarecida e determinada.
Relembremos o aviso feito a J.Kennedy por André Malraux, a propósito da intervenção norte-americana na Europa,durante a II Guerra Mundial-“ a defesa é a vontade de defender”,por isso é que muitas vezes consciência é um outro nome para convicção. É preciso ter disto consciência e alertar os responsáveis políticos para o facto de os cidadãos Portugueses não se sentirem muitas vezes motivados para exercerem o seu direito cívico de voto, como sublinhou José Augusto Seabra,no debate sobre Os direitos de Homem, uma educação cívica e moral para o nosso tempo, promovido pela Comissão para a promoção dos direitos humanos, em 1989.
Defenderemos, pois, uma educação ética, mais épica no sentido de estabelecer pontes cognitivas entre o Ocidente e o Oriente, mais universalizante e humanista na simbólica dos valores, que promova uma auto e hetero-avaliações, uma melhor compreensão do mundo em que vivemos com toda a sua diversidade singular, em que a ética funcione já como hermenêutica da própria moral, dos costumes, das tradições, da cultura e dos seus valores, dos bens comuns em que os universais se contextualizam nos particulares singulares de cada pessoa humana, de cada cidadão.