Nos dias 28 de abril de 2017, trezentos e cinquenta pessoas embarcaram no aeroporto de Miami com destino a ilha de Exuma, nas Bahamas, com a expectativa de viver uma experiência de luxo em um festival de música exclusivo, que prometia ser único na história.
Entretanto, o que parecia ser o sonho de vida destes trezentos e cinquenta jovens acabou se tornando o maior pesadelo vivido pelos espectadores do festival, depois de ser afirmado pelos fundadores e produtores que a experiência seria mais eloquente que o Burning Man, mais divertido que o Lollapalooza, e mais popular que o Coachella. Os ingressos custavam desde U$1.000 dólares o mais simples, até chegar ao ápice de pacotes luxuosos que incluía vilas e passeios de iates pelo valor de U$250.000 dólares.
O festival Fyre estava agendado para ocorrer nos dias 28 a 30 de abril, e 06 a 07 de maio, porém foi cancelado oficialmente logo no segundo dia, 29 de abril, devido a falta de estrutura, de acomodações, de comida, de saneamento básico, de segurança, e cuidados médicos para todos. Os acontecimentos do festival foram tão absurdos que o assunto virou tema de documentário da Netflix.
Mas a verdade foi que desde o início o Fyre festival nada passou de um enorme golpe aplicado em magnatas norte-americanos, e que infelizmente acabou “respingando” em muitas pessoas e tendo graves consequências para classe proletariada.
A mente por detrás deste esquema que fraudou 80 investidores com um prejuízo de mais de U$24 milhões de dólares, além dos mais de mil trabalhadores que não receberam um dólar sequer, e os expectadores que não tiveram o dinheiro dos seus ingressos devolvidos, é Billy McFarland – atualmente cumprindo pena de seis anos de reclusão em regime fechado – após ter sido condenado em outubro de 2018 por fraude. Além de Billy, o “cantor de rap” Jeffrey “Ja Rule” Atkins, também foi indiciado como coautor do crime. Entretanto, Ja Rule foi inocentado das acusações e também absolvido de pagar uma indenização de U$100 milhões de dólares para a empresa Fyre Media.
O mais triste de toda esta história é que somente McFarland foi incriminado. Todas as outras pessoas envolvidas foram absolvidas da culpa, como por exemplo, as famosas modelos e influencers internacionais (tão famosas que eu nunca tinha escutado falar antes...) Kendall Jenner, Bella Hadid, Hailey Baldwin, Emily Ratajkowski e Alyssa Lynch, que nada mais fizeram do que apenas publicar uma retratação pedindo desculpas por terem anunciado um fiasco desta magnitude.
Pois, já não é de hoje que as pessoas não compreendem o significado da expressão responsabilidade social. Quando você é um líder de alguma comunidade, seja ela religiosa, cultural ou social, onde você exerce uma certa influência sobre a vida das pessoas, você tem um compromisso e uma responsabilidade social de não sair por aí divulgando qualquer coisa, assim, sem mais nem menos.
Entretanto, deixando a classe proletariada de fora da argumentação, porque estes sim foram os verdadeiros lesados com essa fraude catastrófica, a atual situação nos faz refletir que, talvez as pessoas que podiam pagar os valores exigidos pela produtora, de certa forma, mereceram a experiência que viveram. Porque estas pessoas foram influenciadas pela mídia digital através de imagens de lindas modelos, julgando todo um evento pela imagem. Sem fazer uma pesquisa prévia sobre os fundadores, que já possuíam antecedentes criminais muito antes do evento ser lançado na mídia.
Talvez seja ousado afirmar isso, porém, creio que pessoas que se deixam influenciar com personalidades como Mozart, Oscar Wilde, Isaac Newton, Mahatma Gandhi, Buda, etc. ao invés de imagem, status, modelos “bonitas” e cantores de rap, dificilmente cairiam em um golpe destes.
O festival Fyre cumpriu com seu objetivo: entrou para a história. Entretanto, com uma reputação bem diferente do que os produtores originalmente esperavam.