πάθος, τό, «emoção, paixão», versus λόγος, ὁ, «argumento, proposição». É bem isso o que vivemos nos dias de hoje no país do futuro. Aproprio-me da frase desejosa “Menos pathos, mais logos”, de uma amiga classicista para evocar os gregos nesse momento dissonante, ilógico, incoerente e mentirosamente surreal.
O que aconteceu com o casamento do pathos e do logos da retórica clássica, minha gente? Terminaram pelo Whatsapp e deixaram a criança órfã. Pathos não aguentava mais reprimir as suas mais sórdidas emoções diante da evolução da democracia e da ascensão das minorias que flertavam com Logos. Pathos botou um fim e jogou a merda no ventilador em todos os seus grupos do Zap e evocou a figura paterna e autoritária ausente para punir toda a repressão que sentia diante dos argumentos irrefutáveis de Logos.
Escolheu o seu herói, tão passional quando todas as suas emoções. E foi por ali mesmo que tudo tomou os rumos que já sabemos: Fake News, memes, áudios e vídeos que potencializaram a polarização do país, a divisão das famílias e amigos. Afinal, o que é mais cômodo e atraente em um mundo de cliques rápidos, fast food, vídeos inúteis e memes efêmeros: pensar ou sentir? Racionalizar ou explodir? Debater ou gritar? Incluir o que é diferente ou excluir o que é diferente?
Ser e existir em sociedade deveria ser harmonizar esses dois lados: um primitivo e instintivo e outro aprendido e apreendido. O desequilíbrio dessas duas facetas humanas decorre do reforço do sentimento de pertencimento, do esgarçamento das relações sociais pautadas pela intolerância, educação desumanizante que privilegia o resultado, o útil e o morte do pensamento crítico por repressão e sufocamento. O sentimento de grupo de iguais nunca foi tão levado à risca. A intolerância transformou pessoas diferentes em inimigos. A falta de compromisso com a história e as humanidades por parte das instituições de ensino e das famílias só deixam o pensamento crítico do lado de fora do portão escolar, perpetuando as barbáries.
Mas o pior disso tudo e o botão que detona a bomba social está na sua mão agora ou na cabeceira da sua cama: o seu celular e um aplicativo “inocente” que te deixa conectado com todos com a distância de uma “dedada”. A perversidade da retórica barata é como uma praga. Se espalha despercebida e atinge qualquer um, basta ele ter uma desarmonia entre pathos e logos. E o combate dessas partes só reforça os lados polarizados, como também é o modelo das redes sociais. Duas grandes bolhas separadas em grande parte, mas que possuem uma pequena intersecção só para constar. Uma vez brigados e separados, a retórica nunca mais será capaz de unir pathos e logos. E no velório da retórica seus principais aliados não aparecem para uma palavra de consolo ou mesmo uma lágrima.