O imprevisto acontece todos os dias em nossas vidas e na maioria das vezes nos pega de calças curtas. Podem ser acontecimentos os mais diversos, desde a perda de um ente querido, nosso carro que apresenta uma falha mecânica, um convite para um evento extraordinário, alguém especial que “retorna” do passado, a “visita” do ladrão às nossas residências...

Na verdade, dada a sua frequência, já deveríamos contar com sua ocorrência como um fato natural e esperado e nos prepararmos para ele, seja através de projeções futuras, financeiramente, emocionalmente, relacionalmente, espiritualmente etc...

Estar preparado para enfrentar o imprevisto, sobretudo, parece estar relacionado ao exercício da espontaneidade. Segundo Moreno, o criador do Psicodrama, ser espontâneo é saber apresentar a resposta adequada (adequação = ajustamento, adaptação) a uma situação nova, criando uma resposta inédita ou renovadora, ou ainda, transformadora de situações preestabelecidas.

A possibilidade de modificar uma dada situação ou estabelecer uma nova situação implica em criar: produzir, a partir de algo que já é dado, alguma coisa nova. A criatividade é indissociável da espontaneidade, fator este que permite ao potencial criativo atualizar-se e manifestar-se.

Gonçalves et. alii (1988), em sua releitura da obra de Moreno ressaltam que a proposta primordial do autor é a adequação e o ajustamento do homem a si mesmo e ao seu ambiente. Nesse sentido, ser espontâneo significa estar presente às situações, configuradas pelas relações afetivas e sociais, procurando transformar seus aspectos insatisfatórios.

Contudo, dificilmente alguém pode promover mudanças no ambiente se age sozinho. Assim, a importância da rede é fundamental no enfrentamento de situações imprevistas. Até porque a inteligência é multifatorial, não dispomos de todas as habilidades e precisamos uns dos outros para nos socorrer mutuamente e nos complementar em nossos aspectos deficitários.

Vale salientar ainda a importância de uma mente ágil e flexível. Apenas quem possui flexibilidade de pensamento e de conduta é capaz de enxergar uma saída alternativa como uma resposta apropriada à situação inesperada e de se adaptar a uma realidade em constante movimento. Ser flexíveis nos ajuda a avaliar melhor as situações e a estar à vontade para pedir ajuda, caso precisemos de outra pessoa para responder com precisão a uma nova demanda.

Ao se resolver situações novas / imprevistas, uma das consequências é estarmos mais preparados para enfrentar a realidade e ter um repertório mais rico de respostas, desenvolvendo assim nossa versatilidade. Apoiar-se apenas em algumas respostas prontas ou preestabelecidas não é suficiente para este “caldeirão fervente” que é a vida.

Enfrentar o imprevisto é sempre um novo desafio e nos fazemos mais fortes ao mesmo tempo em que diminuímos nossas vulnerabilidades, cada vez que conseguimos apresentar uma resposta adequada à nova demanda que nos é apresentada.

Toda a questão aparentemente se resume em como nos relacionamos com o mundo e com as pessoas à nossa volta. Saber que na vida nada é perene e estável e que tudo pode acontecer a qualquer hora e a qualquer momento.

Fluir na espontaneidade e na incerteza do viver, que passa a ter então o sabor de uma aventura.

Conviver com a incerteza, apesar do medo, aceitando-a como um fato natural da vida.

Referências:

  • Gonçalves, C.S.; Wolff, J.R.; Almeida, W.C. – Lições de Psicodrama: introdução ao pensamento de J.L.Moreno. São Paulo: Editora Ágora, 1988.