Experiência. É isso que ganhamos em cada situação que vivenciamos na vida. Experiência. A experiência muda o nosso ponto de vista, forma uma opinião baseada em um fato e deixa um registro na memória para ser acessado sempre que for preciso. A experiência faz com que passamos a compreender algo que até então era incompreendido. Muitas vezes nos mostra que a opinião que tínhamos antes era errônea e precipitada. E ficamos com aquela expressão talhada no rosto de: “ah, então era isso que fulano tentava me dizer”.
Por muito tempo escutei um amigo meu falar de amor. Ele reclamava que iria ficar sozinho para sempre. Que já tinha se apaixonado três vezes e que nunca mais tinha acontecido de novo. Mesmo tentando ele não fechava com ninguém. E tudo que lhe restava eram as lembranças do quanto foi feliz no passado.
Eu observava as pessoas ao seu redor tentando fazer o papel dos amigos consoladores. Eles tentavam a todo custo explicar que isso era coisa da cabeça dele. Que ele poderia ter dado certo com diversas pessoas se não fosse tão exigente. E que se saísse mais de casa e tivesse uma vida social mais ativa talvez ele conseguisse encontrar o que tanto estava buscando.
Mas quanto mais as pessoas falavam, mais ele baixava as pálpebras dos olhos. E eu não entendia o porquê. Ninguém entendia o porquê. Mas um dia as coisas mudaram. E então eu compreendi.
Um dia ele me explicou que existe um abismo de diferença entre uma conquista e você ser predestinado para algo. Uma coisa é o sentimento que se forma porque nos agradamos com alguém. Outra coisa são duas pessoas se apaixonarem apenas no olhar. E esse era o ponto da questão: a maioria das pessoas não consegue entender isso porque isso não acontece com a maioria das pessoas!
Segundo ele, grande parte dos casais do mundo se uniram por conveniência e não por amor. A pessoa conhece a outra. Ambas se interessam e sentem um principio de atração. Seja pelo físico, pela química, pela personalidade ou pelo status financeiro. Ambas se agradam uma com a outra. E elegem o parceiro porque ele ou ela é “aceitável”. Na maioria dos casos, rola jogo de sedução.
Quando duas pessoas se apaixonam no olhar isso não ocorre. Não existe jogos, cobranças ou segundos interesses. Você simplesmente quer estar com ele ou com ela porque vocês se completam. Porque as coisas já não têm mais a mesma graça se não for pra curtir junto. A vida perde o sentido sem a presença do outro. E ele sentia falta disso. Ele sentia falta desse sentimento. Daquelas borboletas no fundo do estomago que começam a esvoaçar só de pensar que vamos nos encontrar com nosso escolhido. Daquele olhar de alguém que quando você abraça te abraça de volta e te aperta ainda mais forte.
E foi justamente isso que ele compreendeu. Que apesar de doloroso e solitário. Apesar das muitas drogas diárias que ele consumia para poder tentar suprir aquele vazio que ele sentia, ele se considerava um abençoado. Porque ele teve o privilégio de desfrutar de uma oportunidade única (não tão única porque segundo ele isso tinha acontecido três vezes...). Porém ele tinha a consciência de que vivera algo que infelizmente a maioria das pessoas não tem a mínima ideia do que seja. Caso contrario seguramente não haveriam tantas guerras no mundo.
Agora ele sorria. Agora ele já não se sentia mais uma vítima da sociedade. Já não tinha mais pena de si próprio. Agora aquela dor que ele sentia constantemente e que mais parecia uma faca saindo de dentro pra fora do peito nada mais era do que apenas um espinho preso ao pé dentro do tênis Nike. Algo que sempre estaria ali machucando a cada passada. Entretanto nada mais do que um pequeno incômodo que não te impede de continuar caminhando.
Agora toda vez que eu vejo ele está sorrindo e irradiante. Otimista. E tentando passar a sua experiência e conhecimento aos mais jovens. E esse foi o conselho que ele me deu:
“Se um dia isso acontecer com você. Se um dia você for abençoado com a flecha do cupido. E encontrar uma pessoa que te deixe mudo ao falar. Que te paralise só com olhar. Que te faça perder a respiração só de pensar nela. E ela também fique assim só por estar com você, então, não a perca. Não deixe que nada nesse mundo interfira na caminho de vocês. Não permita que o trabalho, a família ou qualquer coisa que seja se torne prioridade e te afaste dela. Porque se você deixar isso acontecer, se você perder essa pessoa, pode estar seguro meu caro amigo (e nesse momento ele sempre apontava para si próprio) que é exatamente isso que você irá se tornar”.
E então ele sempre finaliza lembrando que a vida é equilíbrio de forças. E que é preciso que você conheça o azedo para compreender o porquê o doce é tão doce.