Considerado o compositor de tango mais importante da segunda metade do século XX, o argentino Astor Piazzolla é uma personalidade complexa e apaixonante. O músico, falecido em 1992, trabalhou com grandes nomes, como: Gary Burton, Antônio Carlos Jobim, o violinista Fernando Suarez Paz, a cantora Amelita Baltar, o poeta Horacio Ferrer, o escritor Jorge Luís Borges, entre outros. Seu legado compreende uma vasta e prolífica discografia.
Apresentando um estilo de difícil definição, Piazzolla compunha tangos, bem como, música de concerto. Com a sua formação e escrita abrangente, percorreu ambos os universos musicais. Por conta disso, recebeu certa rejeição de tangueros tradicionais e de músicos eruditos. No início de sua carreira, querendo tornar-se um compositor erudito, Piazzolla teve aulas com a ilustre Nadia Boulanger, quem lhe incentivou a desistir da carreira erudita e abraçar de vez o tango, ritmo que sempre o fascinou.
Foi na busca por essa sonoridade leve, densa, dramática e única de Piazzolla que o Harmonitango se uniu. Evidentemente, uma homenagem a Astor Piazzolla exige músicos experientes, competentes e, sobretudo, versáteis. Assim, o trio formado pelos músicos José Staneck (harmônica), Ricardo Santoro (violoncelo) e Sheila Zaugy (piano), regravam raridades e obras consagradas do músico portenho.
José Staneck atua com diferentes formações camerísticas, e já foi solista de diversas orquestras sinfônicas brasileiras e internacionais. Atualmente, desenvolve um trabalho social de inclusão cultural levando o ensino de música, através da gaita, para crianças em diversas localidades do Brasil. O músico elaborou um estilo próprio onde variados elementos se fundem numa sonoridade marcante.
Ricardo Santoro é mestre pela UFRJ, violoncelista da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Orquestra Sinfônica da UFRJ. É, também, integrante do Duo Santoro, do Trio Aquarius e do Trio Mignone, os quais marcam enorme presença no cenário musical brasileiro e internacional. Foi, inclusive, o responsável pelas primeiras audições mundiais de grandes compositores brasileiros, como: Edino Krieger, João Guilherme Ripper e Ronaldo Miranda.
Sheila Zagury é pianista, arranjadora e professora da UFRJ. Fez bacharelado na UFRJ, licenciatura e mestrado na UNI-RIO, e doutorado na UNICAMP. Zagury possui uma formação eclética, abrangendo a música erudita, jazz, choro e o samba. Já trabalhou com vários artistas e grupos de renome, como: Eduardo Dussek, Angela Rorô, Rio Jazz Orchestra, UFRJazz, Daniela Spielmann, Neti Szpilman, Marianna Leporace; além de integrar inúmeros espetáculos de teatro e shows no Brasil e no exterior.
Criado em 2010, o Harmonitango já apresentou-se em salas de concerto no Rio de Janeiro, Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Brasília, Goiânia, Maringá, Londrina, entre outras. Com o objetivo de divulgar a música de Piazzolla e de grandes compositores brasileiros, o grupo conquista o público e a crítica especializada.
Sempre com arranjos feitos pelos próprios músicos, buscando diferentes sonoridades e novas formas de expressão, o trio lança o seu primeiro CD. O álbum, digno da diversidade cultural marcante da obra de Piazzolla, foi a última produção de Sérgio Roberto de Oliveira, falecido em Julho, devido a um câncer de pâncreas.
Estão presentes no CD duas de suas maiores criações: Adiós Nonino e Libertango. À Libertango juntam-se Meditango e Violentango, às quais pertencem a uma série original de sete tangos lançados em único disco, de 1974. Em Fuga y Misterio, há um resgate das influências eruditas do músico, onde encontramos uma fuga que integra, originalmente, María de Buenos Aires, uma “ópera-tango” chamada pelo compositor de “operita”. Essa forma reaparece em La Muerte Del Ángel, com momentos líricos notáveis.
Ainda fazendo parte da série «Ángel», temos a Milonga del Ángel, Resurrección del Ángel e Oblivion, esta última escrita em 1982 para o filme Enrico IV, do cineasta Marco Bellocchio. A música Deus Xango é resultado dos encontros de Piazzolla com o saxofonista Gerry Mulligan, de onde saiu o disco Summit (Reunión Cumbre), de 1974. Já Retrato de Milton é dedicada ao nosso Milton Nascimento, o qual Piazzolla considerava como o grande representante da então nova geração de compositores brasileiros.