A música transforma a sociedade. Esta foi a conclusão de um estudo encomendado por pessoas do alto escalão do Governo no século 18, na tentativa de compreender como a musica podia afetar de forma tão impactante o Ser. Foi o que aconteceu com o surgimento do rock progressivo na Inglaterra e nos Estados Unidos nas décadas de 60/70. Milhares de jovens provindos de uma educação conservadora e consumidora começaram a despertar para estilos de vida mais alternativos e baseados em princípios espirituais.
As poucas tentativas de explicar o efeito da música sobre o corpo e a alma são apenas pobres palavras jogadas ao vento porque não existe forma de descrever a sensação provocada por esta arte. A música invade os ouvidos, explode no cérebro e penetra fundo no coração. «Música é a arte mais próxima de lágrimas e memórias», disse Oscar Wilde.
E assim como a música transforma a sociedade ela impulsiona o movimento. A revolução. Porque toda transformação tem seu princípio baseado em uma onda. E esta onda torna-se perceptível quando uma ideia surge ao mesmo tempo em diferentes partes do mundo.
Sem grandes ideias geniais para artigos, passando um pouco da experiência que estou vivendo agora e aproveitando a “onda” dos meus queridos estudantes (quais chamo de meus filhos) que estão começando a frequentar as ditas festas raves, eu não podia deixar de falar de música eletrônica e cultura. Uma série de cinco artigos começando pelo surgimento das ditas raves e o nascimento da verdadeira cultura trance.
Esta onda da música eletrônica que veio revolucionar o mundo no fim do séc. XX e o início do séc XXI do calendário gregoriano teve suas raízes na Disco Music dos anos 70 e nos sintetizadores dos Melody Rocks dos 80.
Porém mesmo com os traços da música eletrônica incrustados como pequenas sementes em um bolo ainda não era possível distinguir os adeptos como uma cultura própria e sim como uma simples tendência. A cultura Trance começou a se manifestar depois que diversos estilos distintos surgiram em diferentes partes ao redor do mundo ao mesmo tempo.
Foi nos anos de 80 que o techno começou a ser tocado nos clubs undergrounds de Detroit. O trance surgiu na Inglaterra após a gravadora Factory Records literalmente esquecer de gravar o vocal no álbum de lançamento, como mostra o filme 24 Hours Party People (A festa nunca termina, em português). Na praia de Goa, na Índia, junto com as fortes percussões nascia o psychedelic trance. Enquanto o house se espalhava pelo mundo a partir da Alemanha e da Holanda.
Todos estes estilos junto com seus sub estilos – hard trance, house progressive, acid techno, entre outros tantos – começaram a ganhar adeptos ao redor do mundo em uma mesma época, concretizando o nascimento da cultura trance.
E a música eletrônica transformou o Ser assim como a cultura trance transformou a sociedade moderna qual vivemos. Porque foi através da cultura trance que nasceu também a rave. Entretanto, ainda com uma ideia deturpada estabelecida porque ao contrário do que 99% das pessoas pensam, a rave não é uma festa. Tampouco um festival. A rave é uma ideologia. Uma filosofia. E é devido a esta deturpação de ideia do que é a rave que este é o tema do artigo do próximo mês.