(…) que é, pois, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei;
se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.(Santo Agostinho)
O tempo foi uma das grandes questões filosóficas que Santo Agostinho debateu nas suas Confissões, para quem o tempo quotidiano não apresentava problemas, no entanto quando se debruçava sobre a questão de forma conceptual perguntava-se:
Mas se o presente, para ser tempo, tem necessariamente de passar para o pretérito, como podemos afirmar que ele existe, se a causa da sua existência é a mesma pela qual deixará de existir? Para que digamos que o tempo verdadeiramente existe, porque tende a não ser?
Falar do tempo, de forma conceptual, é absolutamente necessário para que possamos perceber a obra de Pedro Cabral Santo, sobretudo no seu tríptico, cuja última peça é exibida agora nessa exposição.
Unforeseeable fala-nos de um tempo imprevisível, mas, simultaneamente previsto por todos aqueles, filósofos ou artistas, que anteciparam com suas inquietações o que vivemos neste preciso instante. Se o tempo não é abarcável nas suas 3 dimensões, passado, presente e futuro, é porque ele é cíclico e funciona em camadas que se sobrepõem: ora aparecem umas, ora aparecem outras. E as obras de Pedro Cabral Santo dizem-nos aquilo que Santo Agostinho não conseguiu traduzir em palavras, ou seja que o tempo não é traduzível, mas sim uma entidade enganadora que parece avançar, mas que permanece. Ideia muito bem traduzida no relógio de parede que marca uma hora exata de um tempo preciso e que já não se move. O tempo, marcado pelo relógio, é o da revolução. E o tempo que a obra do artista se propõe mostrar é o da revolução permanente que a arte deve buscar como única forma de se servir a si mesma e ao seu próprio tempo.
Um tríptico, originalmente, é um quadro composto de 3 pinturas que tratam um só tema, como se de apenas um quadro se tratasse. As 3 exposições que fecham agora o seu ciclo, de formas diferentes, falam do mesmo, porque a obra do artista é coerente nos seus múltiplos formatos e dispositivos. Toda ela é feita para refletir sobre o seu tempo, que também é história. Pois como afirmou Joseph Beuys, a propósito de se ser artista na contemporaneidade, "a arte deixa de pertencer a um indivíduo e passa a ser parte da humanidade como um todo".
E é sobre a humanidade, e os seus atos, dentro de um tempo específico, mas que sofre da doença do eterno retorno, que as obras desta exposição se debruçam.