“-How much is your love?
-Low cost!”
De facto, estamos numa sociedade em que o chamado “Low Cost” se infiltrou nos diversos domínios do humano.
Temos voos Low Cost; temos cabeleireiros Low cost; temos restaurantes Low cost; temos roupa Low cost; temos hotéis low cost e por aí fora…
Resta perguntar se também temos sentimentos Low cost; se temos pensamentos Low cost; se temos emoções Low cost?
Olhando bem em redor; não será descabido afirmar que esta onda Low cost contaminou o mais sublime dos sentimentos: O Amor. Em vez de “How deep is your love?”; ouvimos “ How much is your love?”!
Hoje em dia, amar é o que menos importa! Porquê? Porque a linguagem do sentir foi invadida pela linguagem do comprar; do vender, por uma linguagem bancária em que ganhar, perder, apostar se tornam ícones relacionais, dialógicos entre seres supostamente humanos.
Note-se que a nossa história de vida se resume a relacionamentos; a escolhas emocionais em que a maior parte das vezes possuem como base os complementos indirectos; isto é, pessoas. Pessoas que neste momento se limitam a pensar: “ Que é que vou ganhar com isto? Com esta relação?” “ Aposto que não vai durar mais do que um mês!”; “ O que é que lucro contigo? "
Seria bom desaprender este sentir e pensar Low Cost e re-aprender a amar sem medos, tabus ou preconceitos.
Amar poeticamente, amar altamente como Camões ou perdidamente como Florbela Espanca, mas libertar o sentimento, fazer a catarse do Medo, da Posse e da culpa.
Amar com paixão, pois a paixão é o único estado de alma que não conhece o medo, já que o entusiasmo do fogo ardente é maior e o devora.
Amar pluralmente como Pessoa, com todos os “Eus” e de diferentes maneiras, pois surpreender é um dos segredos do Amor.
Navegar com Sérgio Godinho a Barca dos Amantes e coroar o Amor e seus heterónimos com o selo da serpente.
Ser corpo, de alma e coração, ser aplauso a quatro mãos num quarto, uma só porta. Piano, harpa, guitarra, nau da saudade, geografia bizarra sem raízes nem céu.
Amor é mágico, é trágico? louco? Cego? Feiticeiro?
-Não pode ser Low Cost!
-Tem que ser infinito!
Como este:
Infinito
Deito-te no infinito do meu querer
Colchão dubitativo
manta de retalhos
Lençol de lutos
no quarto dos atalhos
onde corto caminho para chegar até ti...
às reticências do teu sorriso
aos alarmes da tua alma
ao coração da morte
vivo na minha cama
Anaoásis
Ou imortal, como este:
Os amantes
Pedro e Inês
Os imortais
Possuem o cristal
O gelo eterno
O amor sereno
Sempre igual
Anaoásis