Andaremos eternamente às voltas em busca da definição de beleza. Ou da beleza absoluta. Estabeleceremos linhas diretivas, cânones e ideais para atingir a perfeição mas caminharemos sempre em busca da sua essência. De uma perspetiva sociológica e psicológica, filosófica, teológica, literária e económica, a concetualização da beleza é complexa e subjetiva pois adquire, consoante a análise, diversas significações. A beleza pode ser definida física ou intelectualmente, a partir de caraterísticas naturais ou artificiais, considerando comportamentos e interações, ou posturas morais e éticas. Existem sempre diferentes perspetivas, abordagens e padrões. Porém, não resultará a beleza mais da existência individual e da interação coletiva do que do desejo incessante de novas formas de representar o belo? A beleza é um fenómeno. Altera-se, transmuta-se dilui-se e salienta-se ao longo do tempo e dos espaços. Relativa e subjetiva, a beleza depende da aceção individual e das regras coletivas. É, portanto, um conjunto de variáveis que se alteram a par das dinâmicas, das épocas e das pessoas. Buscamos um padrão que parece mudar cada vez que se aproxima da estabilidade. Atuamos a um ritmo frenético, sempre em tom de mudança em busca de algo. Porque nos foge por entre os dedos. A fluidez da beleza é tão inquietante como a passagem do tempo. Move-se para além do nosso controlo.
Quando pensamos na beleza inserida no fenómeno da moda percebemos que esta noção é relativa às caraterísticas físicas, naturais e/ou artificiais e está em constante metamorfose. A beleza aparece como máscara de uma identidade e não como espelho da alma. Ostracizam-se e sacralizam-se seres humanos pela sua aparência física. Aqui se coloca a principal questão. Irei considerar que a beleza é indissociável de outras variáveis relativas à personalidade, à identidade ou ao comportamento. Então, talvez seja desacertado pensar que na moda se procura a beleza. Procura-se satisfazer curiosidades, trazer a originalidade e o inabitual. A fealdade é a beleza e os padrões são quebrados a cada passo. São ciclos alimentados pelo prazer da revitalização da criatividade. A busca pela beleza é obra mais profunda e demorada. Não se integra no ritmo alucinante pelo qual o fenómeno da moda se pauta atualmente. Neste universo, procuram-se encarnações, renascimentos, transformações e mergulhos em dimensões oníricas. A sedução e o desejo.
A beleza é uma equação relativa que não se tornará absoluta. É um fenómeno que depende dos seres humanos, das suas interações, dos seus desejos e das suas confissões mais íntimas. Encontramo-nos perante a desistência da busca pelo absoluto porque tememos perder tempo numa procura que será infrutífera. Seremos mais felizes ou infelizes na aceitação da falta de controlo? Já foram tempos em que vivíamos em busca da beleza, da perfeição e da harmonia absolutas. Hoje os tempos são outros. Mais do que encontrar a beleza absoluta o importante é recriar, reconstruir e reformatar as pessoas para nos manter viva a chama do sonho e da imaginação. Vive assim o mundo da moda, em ciclos frenéticos. O efémero não permite uma busca profunda do que quer que seja. Não existe espaço para o aperfeiçoamento, para a reflexão nem para a perseverança. A crença no absoluto desfaz-se, queremos mais e mais rápido. Mais opções, mais mudanças e mais novidades. Porque andamos em busca de algo que ainda não percebemos o que é. A eternização do instante, da beleza e da memória em fotografias, vídeos, partilhas e exposições públicas. O efémero e o obsoleto assustam-nos mas percebemos que não temos armas para os contrariar.
Dominar os padrões, instituir cânones, criar reveses a uma velocidade que não permite introspeções ou conclusões. A criação destes ciclos rápidos dá-nos a sensação de poder, de controlo. Não precisamos de pensar muito neles. Chegaram, falaram e morreram. Para os controlar é preciso andar à frente, prever e responder. Nada é absoluto e propomo-nos a aceitar essa ideia. A moda não procura resolver a equação da beleza. Fazemos de nós próprios corpos inanimados, telas à espera de ser pintadas quando a tinta anterior ainda não está fresca. Estamos numa busca eterna da moral e regressamos aos costumes, mas não há resposta. Tanto na moda como na vida, temos medo da morte e do tempo e preferíamos a beleza para nos acompanhar o percurso. Mas hoje nem para a beleza temos tempo. Não a compreendemos nem a fruímos e, como defendeu Plato, a felicidade é sinónimo de fruição de beleza. Mas não temos tempo. Arranjamos máscaras e pensos para remendar. A equação da beleza ficará, por ora, por resolver.