O ano que pôs fim à II Guerra Mundial também deu um novo rumo ao Império do Meio. Culminando com o fim da guerra civil marcada pela debandada dos nacionalistas para Taiwan e após mais de meio século de turbulência e inquietação política, de ocupação militar por parte dos japoneses, a 1 de outubro de 1949 é proclamada a República Popular da China - se prestarmos atenção, todos os Estados-Nação com nomes que nos remetem para a liberdade, igualdade, democracia e por aí adiante, deixam um pouco a desejar. O seu líder eterno, Mao Tse Tung, o grande líder, o salvador da pátria…o pai!
O Partido Comunista Chinês, desde a sua fundação em 1921, contou com o apoio direto da União Soviética, contudo, estava claro para os chineses traçarem um caminho à parte dos soviéticos, um comunismo de filosofia Maoísta. A vitória comunista não garantiu a resolução da precariedade social, da timidez e estagnação económica do país, pois também era necessário levar por diante medidas socio-económicas. Como tal, era necessário produzir, para tal, era necessário mão de obra, logo o governo encorajou o aumento radical da população, algo que hoje em dia não se nota muito. É em 1958, que o maoísmo entra a fundo em todos os setores da nação, lançando um projeto intitulado de ‘’O Grande Salto para Frente’’. Este projeto falhou rotundamente. Ao eliminar a propriedade privada e o lucro privado eliminou também os alicerces da economia. Não havia estímulo económico, o impulso na indústria do aço foi um fracasso, as comunas de agricultores não passaram de uma utopia, nas coletividades a população trabalhava em ordem de suprir as necessidade de outros, renegando as suas próprias necessidades. Isto levou à morte de milhões de chineses, muito em parte devido à escassez de alimentos e bens básicos.
O sombra da União Soviética, as lutas internas no Partido Comunista e o descontentamento social levaram Mao Tsé-Tung a iniciar em 1966 um novo programa, designado de ‘’A Grande Revolução Cultural do Proletariado’’. Com ele, pretendia fomentar a visão do líder, mantendo aceso o fervor revolucionário, a supressão das classes, o exacerbar dos valores nacionais, tencionando fortificar a remontada das coletividades e das comunas. Expurgar da sociedade quaisquer ideais ocidentais e soviéticos, assim como os valores, a cultura e história ancestrais. Mas, mais uma vez, a revolução não se concretizou, perdeu-se pelo caminho, em ideologias fechadas e esquizofrénicas, com medo de ser contaminada por algo melhor, levando novamente ao sofrimento de milhões de chineses.
A morte de Mao Tsé-Tung em 1976, põe fim a um ciclo controverso e vira a página da história chinesa. A chegada ao poder, no Partido Comunista, de Deng Xiaoping traz um período de abertura ao mundo e de reformas socio-económicas de relevo. Acaba com as comunas de agricultores, incentiva o arrendamento de terras, proporciona incentivos à produção de bens de forma responsável, encaminhando a China rumo a uma economia de mercado.
A implosão da URSS retira o manto frio que cobria de forma ameaçadora, a integridade da China como território soberano. Isto permitiu, durante a década de noventa, a entrada de investimento estrangeiro, a produção industrial e agrícola e que toda a economia chinesa crescesse de forma exponencial.
Estava na hora do Império do Meio, o voltar a ser. Em meados da primeira década do novo milénio, o gigante asiático aposta numa filosofia de desenvolvimento económico e aproximação a países estratégicos. O nome para tal alçada seria ‘’Ascensão Pacífica’’. A China, a segunda economia do mundo, queria deixar uma imagem clara, apesar de ser uma potência capaz de gerar zonas de influência no sistema internacional. Não iria utilizar a mudança de paradigma do que era a sua posição há apenas vinte anos atrás, como arma de ingerência em matéria alheias.
Contudo, esta procura por um contínuo crescimento está a deixar um impacto enorme nos recursos ambientais e no meio ambiente do país. Os recursos naturais no território não são viáveis para o garante do crescimento económico, é necessário obtê-los no estrangeiro. Além disso, o estímulo ao emprego feito pelas grande empresas do Estado e pelas obras públicas começa a estagnar. No entanto, nota-se um reajustamento da economia chinesa, começando a surgir com força um setor económico de serviços capaz de balancear a economia e garantir riqueza e empregos. O setor tecnológico e de serviços especializados está a crescer, o estimulo do governo à abertura de pequeno negócios é claro, a aposta desde cedo na educação foi e está a ser a forma de a China se assegurar no futuro. No entanto, é necessário romper com atual formatação do ensino, o qual está a retirar a individualidade em detrimento da colectividade. Ao negar o acesso dos jovens chineses ao conhecimento, à sua potencialidade, nega a inovação e o aparecimento de novas ideias de inovar e sustentar a economia chinesa. O Partido tem uma pressão interna enorme em manter o crescimento económico em valores sociais responsáveis, de forma a legitimar o facto de ainda continuar a governar, o que a curto prazo pode funcionar, mas a longo, irá deixar cicatrizes no seio da sociedade chinesa.
É então que, volvidos estes 65 anos, eu olho, in loco, para a China e perceciono que apesar de muita coisa ter ainda forçosamente de mudar, os chineses na sua imensa maioria, estão bem melhor do que há trinta anos atrás. Sinto uma China desejosa de se abrir e de se dar a conhecer, mas com receio de se entregar demais e no final não conseguir voltar. Uma China que começa a ter uma classe consumista que adora roupa de etiqueta vistosa e aparelhos tecnológicos de última geração. Este ímpeto consumista está presente não só nas novas gerações, mas também nas mais antigas. Ver uma avó sentada no autocarro de sapatilhas da moda ou smartphone maior que a cara, é comum. É uma China que gosta de se mostrar, cosmopolita, moderna e atrevida, não esquecendo o seu passado. O segredo é esse, o malabarismo entre o socialismo comunista e consumismo capitalista.
Um socialismo consumista, baseado nas regras de comunismo capitalista!