A vida e morte dessa grande mulher argentina é povoada por mitos que acompanham sua história. Conhecida por muitos nomes eternizou-se Evita, mas também se chamava Eva Maria Ibarguren, nome de nascimento; Maria Eva Duarte, nome falso que usou antes de casar-se com Perón e por fim, Maria Eva Duarte Perón, após oficializar a relação com o grande político argentino Juán Domingo Perón. Mas além dos nomes, existiam também os inúmeros apelidos pelos quais era chamada pelo povo que a amava e pelos opositores que a repudiavam, tais como “Mãe dos pobres”, “Protetora dos trabalhadores”, “La Señora” (A senhora) como era chamada pelos integrantes do governo, “Esa Mujer” (Essa Mulher) e o mais depreciativo, “LaYegua” (A Égua), como a chamavam seus críticos.
Amada por muitos e odiada por outros tantos, Evita Perón nasceu em Los Toldos, província de Buenos Aires em 1919, fruto de um relacionamento extramatrimonial entre sua mãe, Eva Maria como Juan Duarte. Ao contrário do que muitos contam, ela não era de uma família miserável, sua mãe era dona de um pensionato na cidade de Junín, sendo na verdade integrante de uma austera classe média. Também contrariando o que dizem, não mudou-se sozinha aos 15 anos para a capital. Na verdade ela viajou acompanhada da mãe para viver na casa do irmão mais velho, Juan.
Eva queria ser atriz e apesar de ter conseguido sair em algumas capas de revista e encabeçar um programa de rádio muito escutado, não tinha lá muitos dotes teatrais. Mas ainda assim, estava destinada a ser um sucesso e sua vida mudou completamente quando em 1944 conheceu o coronel Juan Domingo Perón. Era ao lado do grande líder político que Eva se tornaria Evita e, consequentemente, a musa do povo argentino.
A relação de Eva e Juan foi oficializada após dois anos juntos, em uma cerimônia intima e que não transcendeu ao grande público. Antes de Juan Domingo ser eleito presidente, Eva não tinha nenhum protagonismo político e não esteve na frente da luta pela libertação do marido enquanto ele esteve preso, em 1945, após ser destituído do cargo de Secretário do Trabalho e Segurança Social. Só com a posse de Perón como presidente no ano que se seguiu que ela de fato tornou-se o braço direito do marido e começou de fato suas atividades políticas.
Apesar do mito criado em torno da mulher que é até hoje lembrada como a defensora dos pobres e oprimidos trabalhadores argentinos, chamados por ela e por Juan de “descamisados”, existem alguns aspectos da ativista social e política que vão contra essa aura de pureza que colocaram a sua volta. Sim, ela era defensora de grandes causas, como o voto feminino, por exemplo. Criou hospitais, lares para idosos e mães solteiras, escolas, duas policlínicas, entre outras ações que muito beneficiou a população pobre. Mas também perseguia militantes e sindicalistas do partido Comunista; deu respaldo para o ditador espanhol Francisco Franco, o que ajudou a prolongar a ditadura por mais tempo, opunha-se ao divórcio, além de dizer que as feministas eram feias e ressentidas, por exemplo. As partes boas e más que faziam parte da composição de uma lenda chamada Evita Perón.
Mesmo após a morte precoce, Evita morreu com apenas 33 anos, vítima de um câncer no útero, a lenda continuou viva. E mais, seu corpo passou por uma saga digna de grandes obras cinematográficas[1]. Há relatos que após seu falecimento, o corpo de Evita passou por um processo de embalsamento, o que possibilitou um velório de 14 dias e que mais de dois milhões de pessoas pudessem dar seu último adeus. Após a derrubada de Juan da presidência, o corpo de Evita foi sequestrado, passando por muitos lugares até enfim ser devolvido e sepultado no mausoléu da família, no cemitério da Recoleta.
Evita Perón era uma mulher elegante e com muito carisma. Usava vestidos da Casa Dior, que importava diretamente de Paris. Seus cabelos estavam quase sempre presos em um clássico coque, que eternizaria seu perfil, que serviu, inclusive, de base para o formato de uma de um bairro em Buenos Aires, intitulado Ciudad Evita. Escreveu dois livros La Razón de mi Vida e Mi Mensaje, continuação do primeiro. Sua vida inspirou o clássico musical da Broadway Evita e posteriormente o filme homônimo de Alan Parker na década de 90, estrelado por Madonna no papel principal. O longa Juan e Evita – Uma História de Amor, da diretora Paula de Luque, traz uma outra proposta, levando ao grande público um perfil mais humano do casal, diferente do político retratado anteriormente em Evita.
Quem for visitar Buenos Aires, recomenda-se conhecer o Museu Evita[2], que tem um grande acervo a respeito da história da mulher que teve uma forte participação na história política da Argentina.
Notas
[2] http://www.museoevita.org/