Sobrevoando há 18 anos a região metropolitana do Rio de Janeiro pelo projeto de monitoramento ambiental aéreo independente Olhoverde, tenho sido um privilegiado, angustiado e revoltado observador da degradação ambiental desta região.
Considerada por inúmeros naturalistas no passado, o paraíso sobre a Terra, o conjunto de ecossistemas da região metropolitana do Rio de Janeiro encontra-se no século XXI profundamente dilapidado principalmente pelos últimos cem anos de crescimento urbano caracteristicamente desordenado.
Na falta de políticas públicas permanentes e eficientes de Estado, no que diz respeito à habitação, transporte e saneamento, praticamente todas as bacias hidrográficas da região foram transformadas em valões mortos de lixo e esgoto. Todo esse conteúdo pútrido por sua vez, é lançado dos rios mortos para baías e lagoas que se transformam em imensas latrinas não menos pútridas, muitas vezes contaminando as praias, o maior símbolo turístico da cidade do Rio de Janeiro.
Pode-se pensar que tem faltado recursos econômicos para reverter essa situação! No entanto nos últimos 20 anos, centenas de milhões de dólares têm sido despejados em projetos de recuperação da baía de Guanabara, sem quaisquer melhorias ambientais visíveis, onde o que tem faltado de fato é vontade política para reverter o quadro de degradação sistêmico não apenas na baía como em praticamente toda a região metropolitana.
Não bastasse a degradação acumulada nos últimos cem anos, produto da efetiva falta de gestão pública, a barbárie ambiental continua ocorrendo em pleno século XXI, onde os processos de ocupação desordenada e uso completamente ilegal do solo são praticamente a regra, seja nas baixadas como nos maciços, produzindo verdadeiras bombas-relógio sócio-ambientais prestes à explodir nas próximas chuvas torrenciais, típicas e cada vez mais freqüentes na região.
Há pouco mais de 500 dias dos jogos Olímpicos, grande esperança e promessa das autoridades brasileiras em relação às efetivas melhorias ambientais na baía de Guanabara e no sistema de lagoas da baixada de Jacarepaguá, simplesmente, praticamente nada foi feito.
Mais uma vez como de praxe, as autoridades brasileiras prometeram e não irão cumprir os compromissos assumidos diante do mundo, do COI e dos cariocas em relação às melhorias ambientais para os jogos Olímpicos.
Tem sido assim há muito tempo, muitas promessas, muito dinheiro, muitos projetos, baixíssima eficiência, impunidade e prevaricação quase que sistêmica e o resultado tem isso esse que vejo à cada sobrevôo solitário, constatando uma das regiões litorâneas mais belas do planeta se transformando no verdadeiro "purgatório da beleza e do caos" ambiental.