Atrás da sua porta o que há?

Tenho um fascínio enorme por portas. Não as minhas nem as que conheço, mas aquelas pelas quais nunca entrei. O que está por de trás delas? Quem lá vive ? Que maravilhas estéticas escondem?

Quando estou numa cidade observo até ao detalhe algumas portas que me chamam a atenção, ou porque são diferentes e demasiado trabalhadas ou porque são simples de mais ou simplesmente porque falam comigo, naquela língua que só fala quem se dedica a imagem estética e visual.

Na verdade tudo piorou quando conheci cidades como Paris, Londres, a nossa Lisboa, Porto, Barcelona, e quantas mais, que são construídas sobre anos e anos de história, entre épocas de guerra conflito, paz, revolução e evolução – e são estes os maiores factores na alteração da arquitetura numa cidade, quando se mudam os tempos mudam se as vontades, e a arte e arquitetura mudam também.

E se nunca tinha pensado em portas, a próxima vez que percorrer uma capital, entre pelas ruas a dentro sem destino, e repare no detalhe dos puxadores, nas madeiras mais escuras e trabalhadas, pense quem mora lá dentro, o que fazem, as suas histórias, os seus estilos.

A porta é cara da nossa casa, e diz se que a cara é espelho das nossas almas.

Refúgio

Quem disse que as casas não tinham vida, ainda não viveu completamente a sua casa.

As casas são mais do que uma toca para onde fugimos no fim do dia, ou um refúgio nas horas de aconchego. São livros que escrevem as nossas memórias, e que guardam detalhes de nós. Se as suas paredes falassem iriam provavelmente lembra-lo dos tempos em que as gargalhadas ao jantar silenciavam o barulho da rua, ou quando os seus filhos deram os primeiros passos entre várias quedas, mas principalmente iriam lembrar aos menos crentes que uma casa não é apenas feita de tijolos e cimento, mas de história e identidade – a sua, e a dos seus.

Sem quadros, sem mobílias, sem vestígios de ‘’nós’’, a casa é uma obra de arquitetura, sem vida, sem voz, sem alma. Daí a importância das memorias, das lembranças e das heranças – peças de nós, linhas da nossa história que compõem a imagem geral da decoração dos espaços que habitamos diariamente.

A decoração das nossas casas não é fútil mas útil. É o que somos, onde fomos, e para onde vamos todos os dias.