Em dezembro de 2013 Portugal conseguiu mais uma inscrição na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, da UNESCO. O anúncio desta inscrição ocorreu no decurso da 8ª sessão do Comité do Património Imaterial que se realizou em Baku, no Azerbaijão. A candidatura envolveu vários países: Chipre, Croácia, Espanha, Grécia, Itália, Marrocos e Portugal. Curiosamente, já anteriormente tinha sido inscrita a Dieta Mediterrânica, em 2010, englobando apenas Espanha, Grécia, Itália e Marrocos. Esta nova inscrição implicou um novo processo de candidatura, envolvendo obviamente os países que já estavam inscritos. A nova candidatura foi liderada por Portugal. A lógica seguida na candidatura anterior, implicava a identificação de uma comunidade representativa da “Dieta Mediterrânica”. Por Portugal foi escolhida Tavira, no Algarve, tendo a respetiva autarquia desempenhado um papel importante em todo o processo de candidatura.
Estes processos de candidatura implicam geralmente um processo com alguma complexidade e envolvendo diversas entidades. Pode-se ver quem foram essas entidades na página internet da UNESCO em Portugal: “A preparação da candidatura foi realizada em Portugal por um Grupo de Trabalho que integrou representantes de um conjunto alargado de entidades publicas e privadas, designadamente a Comissão Nacional da UNESCO, o Ministério da Agricultura e do Mar, a Câmara Municipal de Tavira, o INIAV-Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Gabinete de Planeamento e Políticas, a Direção Geral de Saúde, o Turismo de Portugal, a Secretaria de Estado da Cultura, a CCDR-Algarve, a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, a Fundação Portuguesa de Cardiologia, a Ordem dos Nutricionistas, a Universidade do Algarve, o IELT – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, e o Movimento Mulheres de Vermelho”.
Obviamente que quando se fala em dieta está a pensar-se em estar à mesa, a comer. No entanto, um processo de inclusão de alguma atividade na Lista de Património Imaterial da Humanidade não se restringe ao resultado final, ou seja, não se limita à avaliação dos produtos culinários. Essa avaliação começa no início do processo, tendo sido identificado um conjunto de rituais e práticas tradicionais na produção dos géneros alimentares, sejam eles agrícolas, piscícolas ou de origem pecuária. Outras práticas e outros conhecimentos foram identificados na conservação e no processamento dos géneros utilizados neste tipo de dieta. E claro, foram reconhecidas diversos costumes e tradições na preparação dos pratos e inclusivamente na partilha e consumo dos produtos que integram a Dieta Mediterrânica.
Este reconhecimento por parte da UNESCO tem efeitos ao nível de uma atividade fundamental da economia portuguesa, que é o turismo. Mas as suas consequências refletir-se-ão certamente também em termos de saúde. Durante muitos anos considerou-se que a Dieta Mediterrânica era uma prática associada aos estratos sociais mais baixos. E nalguns casos considerou-se mesmo que vários dos ingredientes usados nos seus pratos eram de pouca qualidade em termos de uma dieta equilibrada. Por essas razões, vários desses pratos foram abandonados por muita gente. Estudos recentes têm vindo a revelar que a Dieta Mediterrânica é bastante equilibrada, e esta inscrição na Lista do Património Imaterial servirá certamente para aumentar significativamente o interesse por estas práticas.