De origem africana sabe-se muito pouco sobre a vida de Cristóvão da Costa (c. 1525-c.1594). Dos seus estudos, apenas podemos afirmar que cursou medicina e cirurgia. A sua fluência em castelhano permite-nos supor que frequentou universidades espanholas. Partiu em Abril de 1568 para Oriente como físico do Vice-Rei da Índia, D. Luís de Ataíde (g. 1568-1572). Durante a sua permanência na Ásia participou, como lhe competia pelo cargo que ocupava, nas expedições e campanhas comandadas pelo governante.
Da permanência deste médico por terras orientais pouco se pode precisar. Têm sido referidas peregrinações à longínqua China, à Pérsia, a Damasco, a Jerusalém ou ao Cairo. Das palavras de Cristóvão da Costa não se lhe consegue estabelecer um percurso definitivo. A análise das imagens que incluiu no Tractado de las Drogas pode-nos ajudar a colmatar esta falta de dados. As suas representações de algumas plantas, como as do cravinho e da noz-moscada, provenientes dos arquipélagos das Molucas e de Banda, não parecem testemunhar o mesmo realismo pictural que as imagens do tamarindo ou da árvore-triste. Podemos admitir que Costa, ao contrário destas árvores que admirou nos jardins de Goa e Cochim, nunca observou as valiosas especiarias nas longínquas ilhas de origem. Já o facto de ter desenhado “como testemunha de vista” os duriões, frutos perecíveis e incapazes de suportar grandes viagens, nos leva a admitir a sua deslocação até Malaca, região onde estes frutos abundavam.
Supõe-se que, em 1572, Costa acompanhou o Vice-Rei na sua viagem de regresso ao Reino. Parece-nos provável que o médico tenha participado nos festejos que acolheram D. Luís de Ataíde à sua chegada ao Tejo, seguindo o cortejo que, em Lisboa, conduziu e aclamou o governante até à Igreja de S. Domingos.
Em Abril de 1576, Costa assinou um contrato por três anos com o Senado de Burgos ‒ cidade do Norte de Espanha ‒ que o acolheu como médico municipal. As razões da translação geográfica, de Portugal para o país vizinho, estão ainda por esclarecer, mas Juan Costa y Béltran pode ter tido alguma influência nessa mudança. Este catedrático, regente da cátedra de Retórica da Universidade de Salamanca, animou Costa a publicar o Tractado de las drogas, y medicinas de las Indias Orientales, com sus plantas debuxadas al bivo (Burgos, 1578). Numa carta preliminar que dirigiu ao leitor, o académico deixou bem claro o esforço que teve que desenvolver para convencer Cristóvão da Costa a publicar o seu trabalho.
Para a redacção do Tractado de las Drogas, Costa baseou-se amplamente nos Colóquios dos Simples (Goa, 1563) de Garcia de Orta, médico que conheceu no Oriente e por quem nutria uma profunda admiração.
Ao longo das suas 450 páginas, Costa descreveu as principais drogas, especiarias, minerais e recursos naturais das Índias Orientais. No seu Tractado, os produtos encontram-se distribuídos de forma harmoniosa, sendo acompanhados por cerca de meia centena de figuras desenhadas à vista por Costa ou por um artista local. Estas imagens, de uma rara beleza, revelam a capacidade do desenhador em se deixar surpreender pela singularidade da vegetação do Oriente e atestam o seu invulgar sentido estético.
O formato agradável deste pequeno tratado e os diversos índices remissivos tornaram este compêndio atractivo e de fácil consulta, não apenas para a comunidade erudita, mas também para mercadores, navegantes, boticários ou aventureiros em busca de fortuna. Na verdade, após a instalação em Manila, muitos castelhanos acederam às rotas mercantis de especiarias e produtos de luxo do Extremo-Oriente pelo que a edição de um compêndio, em castelhano, dedicado aos recursos naturais asiáticos se tornava cada vez mais importante.
Para além de mercadores e homens do mar, também eruditos, sábios e boticários se interessaram pela obra. Atestam-no as diversas versões e traduções de que foi alvo. O volume foi integralmente vertido para italiano no Trattato della historia, natura, et virtu delle drogue medicinali (Veneza, 1585) e, para francês, pelo boticário Antoine Colin que, no início do século XVII editou, nos prelos lioneses, uma versão francesa. Em 1582, Clusius publicou em Antuérpia, Aromatum et medicamentorum in Orientali India nascentium liber, um pequeno resumo latino da obra que foi posteriormente reeditado. Também Jacques Dalechamps, o autor de uma das maiores enciclopédias botânicas de Quinhentos, Historia Generalis Plantarum (Lião, 1586), divulgou muitas das informações e imagens da flora asiática veiculadas pelo Tractado de las Drogas.
Deste modo, o saber textual e gráfico registado por Cristóvão da Costa foi, desde muito cedo, difundido entre leitores, curiosos ou sábios e trouxe à Europa do último quartel do século XVI uma primeira representação visual credível da flora asiática. Divulgando, no Ocidente, uma imagem agradável e bela da natureza da Índia, o registo gráfico de Costa contribuiu, também, para aproximar os europeus da encantadora e longínqua Ásia.