Imagine um planeta no qual as plantas tenham aprendido a se comunicar. Nesse mundo imaginário, podem trocar informação entre elas e se comunicar com os animais, inclusive os humanos. (...) Podem pedir pequenos favores, (...) solicitar a intervenção de outras espécies, (...) e pedir ajuda. Você pode imaginar um mundo assim? (...) Pois bem, esse mundo existe: bem-vindos ao planeta Terra.

(Estefano Mancuso e Alessandra Viola1)

Na maior parte do tempo, não nos damos conta do quanto o mundo à nossa volta é repleto de vida e atividade. Olhamos através de nossas janelas e vemos o farfalhar das folhas, ouvimos o canto dos pássaros e sentimentos a brisa do vento. Mas raramente paramos para refletir sobre o que está por trás de tudo isso.

A ciência se encarrega de tentar explicar o mundo a partir de teorias que se transformam a cada nova descoberta, ora descartando ideias, ora acrescentando novas hipóteses. Mas a verdade é que ainda estamos muito longe de compreender o que anima tudo o que existe à nossa volta.

Os povos originários e as tradições milenares, por outro lado, detêm muitas respostas para as perguntas que nos fazemos diariamente. Será que os animais pensam? As plantas têm consciência? Podemos estabelecer algum tipo de comunicação com esses seres?

A proposta de Estefano Mancuso e Alessandra Viola foi tentar compreender se no mundo vegetal poderia existir inteligência e sensibilidade. E o que eles descobriram mudou minha visão de mundo completamente. Por isso, quero compartilhar com você.

Sensibilidade e inteligência no mundo vegetal

Em pouco mais de 130 páginas, Estefano Mancuso e Alessandra Viola nos contam sobre a sensibilidade e a inteligência no mundo vegetal, de um ponto de vista científico.

A partir da ciência, e das descobertas de vários pesquisadores em todo o mundo ao longo dos últimos dois ou três séculos, eles nos mostram que as plantas ouvem, cheiram e se comunicam, não só entre suas famílias, mas com outras espécies. E pasme você, também com os animais, em especial os insetos.

Elas se emocionam com a música, fazem alianças com outros seres vivos para sobreviverem, têm espírito de cooperação e sentem medo. São capazes de desenvolver mecanismos de defesa com uma velocidade impressionante e também ficam estressadas.

Elas dormem! Abrem e fecham seus olhos (ainda que não sejam como os nossos), possuem sistemas vasculares e pensam de forma estratégica. Também usam o tato para conhecer o espaço onde se encontram e contornar obstáculos, além de usar o olfato para se comunicarem a grandes distâncias.

Elas pedem ajuda, trocam favores e se defendem mutuamente. Conversam com as águas, os ventos, os sons e o calor do sol. Trocam experiências e ensinam às plantas mais jovens sobre como viver.

Essas descobertas, que muitas vezes estão tão distantes de nós, nos revelam que existe um mundo tão potente e ativo ao nosso redor que nem nos damos conta.

Somos de fato pequenos micro-organismos vivendo dentro de um ser vivo muito maior e mais potente do que imaginamos: Gaia — ou Terra, para os que preferem a linguagem científica.

Natureza: a expressão da Deusa

Esse mundo vegetal, que é vivido em segredo para nós, é a expressão mais pura da Deusa, segundo inúmeras tradições milenares. Podemos chamá-la de Pachamama, Gaia, Sarasvati, Inanna, Ishtar, Ísis, não importa.

Esse mundo sensível, inteligente, que se cria e recria diariamente, que é resiliente e cooperativo e ao mesmo tempo a força mais poderosa a que podemos nos acercar, é a expressão do Feminino Divino, da Manifestação Primordial que a tudo dá forma.

É a Prakrti da tradição védica, a Pachamama da tradição andina, é Asase Afua da tradição Akan, Xochiquetzal da tradição asteca, é Kishar na tradição mesopotâmica, é Papatuanuku na tradição maori.

Ela possui tantos nomes quanto suas manifestações, preservadas em cada cultura com reverência e adoração porque é ela quem nos dá a vida. E a vida, como vimos, permeia todas as criaturas, não só os seres humanos.

Talvez a ciência nunca se dê conta disso. Talvez estejamos fadados, como humanidade, a deixar este planeta sem nos darmos conta disso. Mas presenciamos e vivenciamos o poder divino criador a cada segundo da nossa existência.

Cada folha que cai de uma árvore, cada flor que brota em meio ao deserto, cada gota de orvalho que se mistura com a terra, eu, você, somos criações deste poder feminino que habita o Universo.

E assim como Ela nos cria, também pode nos destruir, nos reabsorver em seu útero cósmico para gerar uma nova vida, mais respeitosa, mais ciente de sua interdependência com os outros seres, mais capaz de honrá-la e de estar ao seu serviço.

Eis quando a ciência e a Deusa se tocam: quando percebemos, através da nossa ciência limitada, o poder ilimitado da nossa Mãe Natureza.

Notas

1 Mancuso, E.; Viola, A. Sensibilidad e inteligencia en el mundo vegetal. Traducción: David Paradela López. Galaxia Gutenberg: Barcelona, 2015.