Os anos 1980 foram uma década de grandes transformações culturais e tecnológicas, sendo uma das mais marcantes do século XX. Foi o fim da era industrial e o início da era da informação. Apesar de ser chamada de "Década Perdida" na América Latina, devido à estagnação econômica, a década foi crucial para a música, que teve um impacto duradouro e ainda causa nostalgia em muitas gerações.

Esse período viu o surgimento de bandas como The Smiths, AC/DC, Guns N' Roses, U2, A-Ha, e a consolidação do Heavy Metal com Metallica, Slayer e Iron Maiden. A diversidade musical também se destacou. No Brasil, Legião Urbana, RPM, Barão Vermelho e Ira! foram presenças importantes. Em 1985, o primeiro Rock In Rio consolidou ainda mais a popularidade da música. Michael Jackson, com seu álbum Thriller, David Bowie, Cindy Lauper e Bruce Springsteen também dominaram as paradas, representando o auge da música pop dessa década.

Outro ícone dessa era foi a fita cassete (ou K7), que se tornou um símbolo da década. Embora tenha sido criada nos anos 1960, foi nos anos 1980 que sua popularidade explodiu. As fitas cassete não só proporcionaram uma maneira acessível de ouvir música, mas também deram aos artistas independentes a oportunidade de gravar demos e apresentar seu trabalho para gravadoras e jornalistas. Demos como Bleach, do Nirvana, e Radio Free Europe, do R.E.M., foram fundamentais para o lançamento desses grupos. Para quem não conhece o termo, as demos eram gravações caseiras ou em estúdios de baixa qualidade, e que geralmente eram feitas em fitas cassete servindo como uma demonstração do trabalho de um artista ou banda. Elas continham as primeiras versões das músicas, antes de serem produzidas e lançadas comercialmente.

A produção em massa dos cassetes compactos começou em 1964, na Alemanha. Os primeiros com músicas pré-gravadas foram lançados na Inglaterra, em 1965. Nos Estados Unidos, em 1966, teve uma oferta inicial de 49 títulos, lançados pela Mercury Record Company. As fitas cassetes revolucionaram a forma como consumimos música. A portabilidade dos walkmans e a possibilidade de gravar mixtapes personalizadas transformaram a experiência auditiva em algo mais íntimo e pessoal. Muitas pessoas guardam memórias afetivas ligadas a suas fitas cassetes, como aquela primeira mixtape para o crush ou a trilha sonora de uma viagem inesquecível. Além disso, como falado acima, as demos gravadas em K7 abriram portas para inúmeras bandas independentes, que conseguiram apresentar seu trabalho para gravadoras e público de forma mais acessível.

Apesar da baixa qualidade sonora, geralmente com 60 minutos de duração (já existiram versões de 45 e 90 minutos), o lançamento das fitas cassetes foi uma grande revolução, por difundir a possibilidade de gravar e reproduzir som. O vinil era mais caro, além de mais difícil de transportar e tocar e principalmente para gravar. Por isso mesmo as fitas cassetes nos deram mais liberdade para sair por aí e ouvir nossas canções favoritas onde bem entendêssemos. Aliás, apesar dos primeiros gravadores com áudio da Phillips já serem portáteis naquela época, foi a Sony com sua invenção do walkman, no final dos anos 1970, que mais contribuiu para essa explosão do som individual. Eu mesma achava o máximo poder ouvir minhas músicas favoritas andando por aí com fones de ouvido como se nada mais importasse no mundo. Bom, hoje em dia o Spotify supre essa minha demanda, mas saudades do meu walkman.

Com os grandes e imparáveis avanços tecnológicos, o declínio das fitas cassetes aconteceu antes mesmo do final da década de 1980. As vendas acabaram sendo superadas pelos CD’s nos anos 1990, mas até 2000 os K7 virgens ainda eram produzidos. Nos anos 2000, apesar de serem mais difíceis de encontrar na versão “virgem”, as velhas fitas cassetes tem se tornado um item cultuado e conquistado novas bandas independentes. No livro Mix Tape: The Art of Cassete Culture de Thurston Moore, o cantor do Sonic Youth reúne artigos e obras de arte sobre fitas cassetes.

Hoje, as fitas cassetes se tornaram itens de culto, sendo redescobertas por novas gerações de artistas e fãs. A série Stranger Things (2016), ambientada nos anos 1980, ajudou a reviver o uso das K7s, com a trilha sonora sendo lançada até mesmo em fita. Em 2019, a discografia de Björk foi relançada neste formato, e outros artistas, como Beyoncé e Taylor Swift, também seguiram essa tendência.

Além disso, muitas pessoas estão reciclando fitas cassetes para criar arte e objetos decorativos. A artista Erika Iris Simmons, por exemplo, utiliza os rolos das fitas para criar imagens de "fantasmas", transformando material aparentemente descartável em obras únicas no projeto, intitulado Ghost in the Machine. Visualmente agradável e uma excelente maneira de reciclagem. Aliás, para quem ainda tem fitas em casa e não é exatamente apegado ou não tem mais onde reproduzi-las, aqui algumas ideias de como reaproveitá-las: luminária, vasinho para flores, bolsas, porta canecas, entre outras.

Infelizmente, para quem está pegando carona nesse revival encontrar um tocador de fitas hoje em dia não é tarefa fácil, já que a maioria dos fabricantes parou de produzir toca-fitas. A opção é recorrer ao mercado de usados e antiquários ou encontrar alguém desapegando um walkman ou um rádio com toca-fitas. Para os sortudos que ainda têm seus walkmans, que tal aproveitar para ouvir aquela velha fita K7? Quem sabe um dia veremos a discografia do BTS sendo lançada neste formato. Em vinil já está disponível, quem sabe as fitas não sejam a próxima novidade? Estou na torcida!