ektor garcia está sempre trabalhando. Fascinado por processos artesanais e trabalhosos, o artista assumiu a prática do crochê há mais de duas décadas como uma habilidade autodidata. A capacidade de trabalhar sozinho com uma única agulha, em qualquer lugar e a qualquer momento, foi particularmente cativante para garcia na época, assim como é agora. Neste sentido, o processo criativo de garcia, que exige muito tempo, tem sido uma plataforma para a emancipação. Longos períodos no estúdio concedem a garcia a permissão e o privilégio de ficar sozinho, temporariamente imune às demandas da sociedade contemporânea e imerso em padrões criativos meditativos, quase hipnóticos.

Trabalhando principalmente com arte têxtil e baseada em fibras, garcia insere sua prática na interseção das artes plásticas e do artesanato, negando as hierarquias geralmente projetadas em ambos os campos. Ao longo de sua carreira, garcia fez crochê com quase tudo além de linhas, o que inclui couro, fio de cobre, camurça, cordas de prata e outros fios de metal. Esse aspecto desafiador e disruptivo de sua linguagem de crochê equipou o artista com uma familiaridade inata aos materiais e uma curiosidade sempre crescente em relação às possibilidades de sua prática. Com cada material diferente, garcia descobre novas propriedades que influenciam o seu trabalho, como o aroma do couro ou as propriedades variáveis do fio de cobre, um material inerentemente capaz de transferir energia. Ao permitir que o trabalho abrace a materialidade inata, garcia espera cultivar novas culturas, não baseadas em normas rígidas.

Da mesma forma, garcia expandiu sua prática para incluir cerâmica, fundição e soldagem de metal. O artista descreve esse compromisso com as tradições artesanais como um manifesto contra uma sociedade obcecada pela tecnologia. Ao fazer crochê, esculpir ou soldar, o artista admite francamente que deixa erros e acidentes em suas peças, descrevendo as impressões digitais da vida e da alma que se espalham em suas obras.

kortinas, na Mendes Wood DM São Paulo, é a primeira exposição individual do artista no Brasil. Atraído pela teatralidade das cortinas, garcia contempla as realidades que podem estar ocultas, sombreadas ou protegidas por trás delas nas casas das pessoas. Trabalhando em torno dessa semiologia imaginada, o artista criou um espaço grande e sem janelas, repleto de suas cortinas estilizadas. Cortinas que enganam, que parecem familiares como cortinas de tecido ou de crochê, mas que, ao serem inspecionadas, revelam novos materiais, luzes, efeitos e aromas. Cortinas que escondem na mesma medida que revelam.

Para a ocasião de kortinas, o artista também fez experimentos com um novo material têxtil, um tecido sintético refletivo usado para sinalização e aplicações de segurança. Normalmente adornando os uniformes de ciclistas, trabalhadores da construção civil e pessoas que buscam aumentar a sua visibilidade, nas mãos de garcia eles se tornam grandes instalações têxteis que emulam e refletem a iluminação como um chamado à cena. Na exposição, conjuntos de cortinas são sustentados por suportes de metal soldados pelo artista, enquanto outros pendem independentemente do teto, se arrastando pelas paredes ou espalhando pelo chão, influenciados tanto pela arquitetura quanto pelo ambiente do espaço. A mostra ainda apresenta uma seleção de esculturas de cerâmica criadas no Brasil que acrescentam novas camadas aos temas centrais da exposição, dando continuidade à dramaturgia de garcia entre o diálogo íntimo e a materialidade.

ektor garcia (n. 1985, Red Bluff, EUA) vive e trabalha de forma nômade. A prática multifacetada de garcia incorpora objetos artesanais e tecnicamente renderizados que são frequentemente combinados em instalações. garcia frequentemente reaproveita elementos de sua própria obra para criar interações de obras.

Ele recebeu seu BFA da School of the Art Institute of Chicago em 2014 e seu MFA da Columbia University em 2016.

Realizou exposições individuais em James Fuentes, Nova York (2023); Rebecca Camacho Presents, São Francisco (2022); Cabaret Voltaire, Zurique (2022); Henry Art Gallery na Universidade de Washington, Seattle (2022); Empty Gallery, Hong Kong (2021); e SculptureCenter, Nova York (2019); entre outras.

Seu trabalho integrou exposições coletivas em Bibeau Krueger, Nova York (2024); Adams and Ollman, Portland (2024); Whitney Biennial, Whitney Museum of American Art, Nova York (2024); Blaffer Art Museum na Universidade de Houston (2023); Lisson Gallery, Nova York (2023); San Francisco Museum of Modern Art, São Francisco (2022); Cooper Cole, Toronto (2022); e Griffith University Art Museum, Brisbane (2022).

Ele foi artista residente na Henry Art Gallery, Universidade de Washington, Seattle (2022) e no Hammer Museum, Los Angeles (2021).