Este artigo agora revisitado foi escrito originalmente em fins de 1998, durante o desenvolvimento do Plano Real1 no Brasil, que ainda estava em vias de consolidação. Logo após este período, sofreu uma forte desvalorização cambial aquela sobrevalorizada moeda. Dissera naquele Jornal, à época e enquanto Professor Titular das cadeiras de graduação do Comércio Exterior, década áurea da Globalização:
Artigo do jornal ANCapital em 1998
“Temos verificado há alguns anos uma crescente preocupação do governo brasileiro em diminuir o irreversível crescimento das importações. Em um mercado com as dimensões do nosso, podemos concluir que vários produtos possuem consumo em grande escala, ao contrário de mercados mais restritos ao redor do mundo.
Assim, países pequenos tiveram que se especializar em produções que, pela escassez de seus recursos, desgravaram as importações. Esta é uma excelente contribuição para o aumento produtivo e, consequentemente, enriquecimento nacional. Desta forma, esses países aumentaram suas produções e vendas externas, sem contudo, se desligarem da relação direta com o aumento das importações. Conseguem resultado positivo, devido ao seu mercado interno ser muito pequeno.
No caso de um País como o Brasil, é fundamental o encontro das suas vantagens absolutas e competitivas que provém de suas características, inseridas nas dimensões territoriais e populacionais brasileiras. Nas costas marítimas, na quantidade de terras e, terras agricultáveis. Nas diferentes culturas encontradas e nas similaridades que também são testemunhadas em igual intensidade por todo o território nacional, caracterizando a Nação. Deve-se considerar também o imenso potencial criativo e intelectual da população e as diferentes vocações turísticas - que não são exploradas racionalmente como poderiam - para colaborar no superávit do nosso balanço de pagamentos contribuindo, portanto, com receitas para a conta de serviços.
Estas são formas de auxílio no combate aos déficits, que não vão diminuir (nem devem) somente com a redução das importações. Lembremos que temos uma participação no comércio mundial, insignificante quando comparada ao nosso potencial. A principal lição é aprendermos com outras nações, que tenham características semelhantes às nossas, inclusive as econômicas, e que explorem as atividades turísticas com mais sucesso do que nós. Portanto, com uma atitude nesse sentido, podemos contribuir com a redução do quadro de desemprego e crise econômica, enfrentados atualmente.
Esta atitude vai exatamente de encontro ao interesse atual do povo, o que se executado, pode vir a marcar positivamente o desempenho governamental. Transforma-se numa rede de desenvolvimento em cadeia, com controle econômico extremamente facilitado, devido à própria lei da oferta e procura. Valorizando o produto, pode-se regular a oferta através do aumento dos impostos (arrecadação), permitindo que menos turistas (e, mais abastados) sustentem mais receitas e lucros. Assim podemos oferecer conforto e preservar a natureza.”
Cenário atual
Naqueles idos tempos hoje refletidos, percebemos muito pouco ter sido empregado ou executado, de forma progressiva. Governos novos retroagiram em políticas econômicas, desde a desvalorização cambial por meio de políticas de Swap2 e, a desindustrialização que provocou redução das exportações de valor agregado em favor das commodities, principalmente de frutas de mesa e, pescados frescos e congelados, como o foi no período posterior, entre 2010 e 2016. Deitou fora um trabalho de décadas, desenvolvido por exportadores, tradings e outros agentes do mercado - público inclusive - que, como se sabe neste segmento, torna-se esforço irreversível.
O clássico trocar de mãos da riqueza, que forçado por “terceiros”, apenas desmerece esforços macroeconômicos e a livre concorrência intelectual. Não é à toa que causem fuga de investimentos diretos e indiretos, e de cérebros, como se confirma na ausência de prêmios Nobel ou poucos registros de marcas e patentes, para níveis internacionais de G5 e G103 . Projeto - ou não - que traiu à todos! Todavia, Florianópolis resiste e destaca-se como grande destino turístico e de imigração doméstica nacional - até internacional, devido às suas universidades, relativa segurança, praias e natureza ainda virgem, além de características provenientes de uma cultura predominantemente europeia.
Entretanto, a ilha ainda está algo distante do ideal, quanto à preservação da saúde pública, por meio do saneamento de esgotos e da despoluição marítima bem como, da limpeza e higienização das areias de praia, por exemplo. A insustentabilidade turística de baixo valor agregado, poderá agravar o problema, se esta vertente se acentuar. Uma ilha expectavelmente Blue Flag4 pode vir a tornar-se realmente Red Flag5...
Mas agora com este vôo inaugural de conexão direta entre Lisboa e Florianópolis, muita coisa poderá mudar; para o bem e para o mal. Vai depender dos síndicos responsáveis, suas especializações e capacitações para transformar positivamente. Ou, se incompetentemente incapazes, como tem sido praxe durante décadas de redemocratização incauta: referência ao Siri: “não têm?” Aquele, que só anda de lado6...
Notas
1 Programa brasileiro com o objetivo de estabilização e reformas econômicas.
2 Contratos futuros de oferta ou demanda cambial. Trata-se de um derivativo financeiro que permite a troca de taxas ou rentabilidade entre agentes econômicos. A operação tem como objetivo reduzir riscos e tornar o resultado mais previsível, sendo especialmente benéfica para empresas que trabalham com importação e exportação.
3 Grupos dos países mais ricos, segundo o PIB.
4 Classificação internacional máxima, de qualidade praieira.
5 Sinalização de perigo.
6 Ditado nativo.