A arte de guiar a peça é preciosa, misteriosa e também dotada de um sentimento muito pessoal. O trajeto é por nós definido e o equilíbrio do espaço por nós delineado. Trata-se da prática laboral de alguns membros da nossa sociedade. Uma profissão discreta, quase invisível aos olhos mais apressados, mas inteiramente necessária na sociedade moderna, para os mais desatentos, estou a falar da mediação cultural.

Como é bom podermos explicar uma das possíveis visões da arte, uma das possíveis intenções do artista, e um dos caminhos mais bonitos para o entendimento da nossa cultura. Mediamos talvez como um maestro num concerto, indicamos caminhos, sons e formas, laboramos em espaços diferentes e, geralmente, com públicos mais reduzidos, mas igualmente interessados. Ocupamos museus, galerias, salas e exposições sem paredes fixas. O espaço é indefinido.

O museu transforma-se num espaço aberto, sem pilares ou paredes mestras, contrariamente à versão fechada que muitos ainda têm dele. No fundo, estorvando os espécimes que defendem a sua singeleza.

Do passado já não vivem os museus, mas sim, conectam-se a um presente muito sentido e a futuro muito próximo. O museu é sim, um espaço de equilíbrio, de inovação e criação, é um espaço de mistério e de incógnita, mas também um espaço de conhecimento e criação. Preserva memórias e cria percursos.

Imaginem um filme onde podem escolher as opções do seu desenrolar, assim se media o espaço, de acordo com o caminho escolhido, desenrola-se uma ideia e um entendimento específico, todos são livres de perceber o seu.

Conquistar uma peça é como conquistar a história, quem conta é quem media. De guia se passou a mediador, já não se guia o espaço, media-se o mesmo, não definimos significados, orientamos performances e pensamentos. Trata-se de um alquimista dos tempos modernos, amante da arte contemporânea e defensor de percursos artísticos.

Afinal, sem mediadores, arte contemporânea é decisivamente um desafio. Estaremos perante uma ponte, uma viagem no espaço neste mundo tecnológico, onde tudo é dado por adquirido, serão os mediadores chaves num espaço artístico à espera de ser entendido?

Toda a arte tem uma compreensão, assim como uma intenção. Mas quem media, também aprende, descobre e acima de tudo debate; debate-se com indivíduos igualmente interessados em partilhar e combater cenários, combatendo ideias oclusas em mentes obsoletas, perdidas e ofuscadas pela imensidão obumbrada da caverna.

Assim, respeitam-se laços, culturas, pessoas e espaços. Respira-se cor, tinta e tela, observam-se tecidos, madeiras coloridas e escutam-se esculturas sussurrando assim que o sol se põe.

A mediação defende igualdade de oportunidades, respeita ética e debate ética. Democratiza o conhecimento e a oportunidade de presenciar arte, capta entendimentos e todos, mas todos, são capazes de entender a nobre arte de ser artista, independentemente da época.

Não se cinge ao reflexo dos museus, mas caminha com eles, trazendo progressos para o seu exterior. Requer o gosto pela prática da modalidade, estudo e vontade de exercer ideias, pensar caminhos e personificar a incompreensível arte.

Contemplar uma exposição é uma oportunidade bela de presenciar a arte sem a criar, contudo, mediar, ainda não é uma prática tão requisitada como no mundo da arte prevê ser. Quem sabe um dia.

Como tal, esta profissão ainda pouco valorizada, mas necessária no mundo atual, é como um tradutor de tintas, um leitor de texturas, um ouvinte de esculturas, um observador de detalhes, um intérprete de sensibilidades e um guia de opiniões. Desta forma, através da arte e da sua mediação, constroem se pontes sobre a intenção e a leitura dela, constrói-se ideias e fomentam-se conexões.

E assim, o mediador não procura aplausos, não procura entendimento, procura mediar a obra e o espaço, explicar a intenção do artista, mas dar asas à observação do espectador. Cada um é livre de pensar. Afinal, ser mediador é isto.