Os museus portugueses são interessantes, têm temáticas apelativas, estão genericamente bem localizados, têm recebido significativo incremento do ponto de vista da qualificação do seu pessoal, não são excessivamente caros, velam por colecções ricas e culturalmente significativas, mas não têm muitos visitantes. Salvo raras e pontuais excepções, e se excluídas as visitas escolares e os turistas não-portugueses, os museus nacionais não atraem a população nacional de forma consolidada, permanente e costumeira. De algum mal padecerão, certamente, ou tal se não verificaria. De que padecem, então, os museus portugueses? É uma pergunta que preocupará todos os profissionais da área, todos os que se ocupam de questões de património, todos os que cuidam da coisa cultural, todos, enfim, que consideram um museu como uma instituição fundamental. E a resposta que me parece mais plausível, menos inventiva, mais simples, e ao mesmo tempo mais problemática, é fácil de enunciar: os museus portugueses padecem do mesmo mal de que padece boa parte da população portuguesa, estão tristes. Profundamente tristes.
Seria possível lançarmo-nos em explicações socio-demográficas, ou economico-financeiras, ou até de índole política – mais ou menos apoiadas por uma estatística descritiva que foca a sua atenção nos rendimentos per capita, e nos desvios padrão das médias salariais, e nas taxas de desemprego, e nos sucessos e insucessos dos regimes de escolarização e de alfabetização. E em todo esse labirinto infindável de dados empíricos, colectados por via directa (como foi o caso do grande inquérito aos museus portugueses que se fez na viragem do século) ou respigados em outras fontes de estatística nacional. Mas não julgo que daí resultasse uma explicação capaz, uma "tese" que elucidasse (de forma pacífica) um certo desaire generalizado das nossas instituições museais. A minha explicação parece-me muito mais plausível, muito mais simples, e muito mais poderosa: com raríssimas e honrosas excepções, os museus portugueses estão tristes – ou são tristes (o que será, eventualmente, muito pior).
Não busco na "crise" que nos assola há anos a razão funda dessa tristeza. Ajudará, certamente, mas não reside aí o nó górdio da questão. Os nossos museus são sisudos, acham-se sérios, olham para si próprios e preocupam-se em ver pilares de sabedoria, mísulas de erudição, padieiras de cultura, que certamente lá têm que estar, mas que, sem mais, lhes dão esse semblante melancólico de uma vestal ante a pira onde se imola a alegria à sabedoria. Se querem a minha opinião, os nossos museus ganhariam enormemente (em número de visitantes e na satisfação de cada um deles) se despissem as roupagens de luto pelo património e permitissem alguma lufada de alegria infantil, de bulício juvenil, de pantomina adulta e de frescura sénior. Não se confunda, no entanto, com balbúrdia desordenada, com incontinência ou com mal-cuidar – pelo contrário. Mas uma atitude mais alegre de parte dos museus seria certamente contagiante. E se há algo de que os portugueses estão muito necessitados é de alegria – genuína, simples, um pouco ingénua até, sem grandes aparatos e sem grandes alardes, mas que nos faça sorrir (apenas um pouco, mas sorrir). Sorrir.