Aqui no Brasil somos aproximadamente 32 milhões de aposentados e pensionistas, somados aos que têm mais de uma aposentadoria e conseguem também acumular pensão – esses espertos são como o grande mentiroso do Brasil para o mundo que, subliminarmente, esforça-se ao lado de cumpanhêros para ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Pense?

Na iniciação trabalhista, não sou diferente da maioria dos brasileiros, quiçá do mundo, e, principalmente, dos países sofridos por achatamentos culturais e ditaduras. Com a formalização empresa-empregado, meu início ocorreu aos 17 anos, muito pressionado pela família que exigia que “homem que é homem ganha seu sustento e ajuda a família desde cedo”.

Tinha minhas elucubrações, sonhos, e percebi que não seria fácil morar numa casa em que todos criavam barreiras ao meu ideal, devaneios, e que deles soçobravam à minha condição para fraquezas, ao contrário do que pensava sobre riquezas, até ótimas moradias para todos.

No primeiro salário, instintivamente, separei 30% guardados num cofre pequeno, desses que bancos de poupança davam de brinde. Nos meus afazeres domésticos nas casas vizinhas, ganhava uns bons trocados e tinha a percepção de administrar o tempo: limpava o jardim de dona Helena entre 8h e 10h, de 10h às 11h raspava e encerava o taco da casa de dona Amália e assim por diante. No sábado, cumpria meu dia em outros serviços para ter liberdade de jogar bola o domingo inteiro e não ir à missa.

Desses valores, ficava apenas com 20%, e o restante ia para compras de frutas e outras guloseimas para minha mãe de criação, que ficava com outra parte bem generosa. Assim, conquistava algumas não agressões do tipo “minha mãe bota esse vagabundo para trabalhar”.

Então, os 30% do meu primeiro salário na função de contínuo, hoje office boy (ajuda em tudo numa pequena empresa), foram para o cofre. Outra parte, comprei livros para dar de presente no Natal para alguns familiares, e o restante, claro, para ela.

Para o segundo salário, dividi como no primeiro, com um pequeno aumento para o cofre. Chegou a obrigação de servir ao Exército. No Brasil, é obrigatório, e aí também houve um corte no sonho já encaminhado de ir a Porto Alegre/RS treinar no clube de futebol Internacional – dinheiro para a passagem e outras necessidades estava bem guardado, mais a rescisão contratual da Rádio Planalto dos Diários Associados em Brasília.

Briguei muito para não ficar no Exército, e o dinheiro serviu para ir prestar vestibular para Medicina em Salvador/BA. (Morava em Brasília, e os locais citados distam entre 1,7 mil a 2,2 mil km – muito chão de ônibus.)

Resumindo esse afã juvenil, entendi a necessidade de guardar uma parte dos proventos, mesmo com os variados e tiranos planos econômicos sofridos durante minha graduação profissional: era para ser pediatra e caí na comunicação – rádio, gravadora, publicidade, jornalismo, TV, marketing, oficinas gráficas, hoje todas as funções digitais também –, com salários não tão compatíveis com a profissão e o trabalho prestado, mas as horas extras compensavam. Daí meu apelido pé de boi (aquele que não larga o trabalho enquanto não finda), o que não ocorre nos PIX percebidos como prestador de serviço autônomo.

Durante as agressões econômicas que o povo brasileiro sofreu após a abertura política no ano de 1985, e antes da eleição para presidente, ela acontecia para vereador, deputados, senadores, uma enorme alcateia com vestes de pele de carneiro assumiu o poder e o enriquecimento ilícito passou a ser carta do baralho. Outros lobos mais afoitos não pouparam seus pares (nossa língua é maravilhosa: aqui o verbo poupar é não agressão). Um conhecido político brasileiro exilado ganhou a alcunha ainda na Europa de “el ratón” por Fidel Castro, aqui sinônimo de cocaína. [Em tempo, o “tal brasileiro” Leonel Brizola não tem nada a ver com Ovidio Guzmán López, o traficante mexicano conhecido pelo mesmo apelido – quase certeza que não.]

Então, nessa fase, quem tinha algum dinheiro na poupança ou, igual a mim, que guardei por algum tempo dinheiro numa das gavetas do guarda-roupa, acorreu para o sistema financeiro chamado overnight: se a inflação do dia aumentasse, o dinheiro aplicado mantinha seu poder de compra, pagando uma taxa para o banco, e só dava tempo de sacar e gastar correndo entre as gôndolas do supermercado, evitando que o funcionário chegasse com a máquina de etiquetar novos preços.

O sistema financeiro no Brasil passou por muitas oscilações e basta comparar o nosso dinheiro da época com o dólar, e veremos que o salário mínimo não cumpre até hoje as necessidades básicas do trabalhador e de sua família: moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. Ou seja, 100 dólares, por exemplo, R$560,00, dá para ir e vir do trabalho, apenas. Aí está um ponto exequível para o volume de favelas nos grandes centros metropolitanos do país. Importante, e não me orgulho desse pagamento, o salário mínimo no Brasil é de R$1.412,00, equivalentes a 253 dólares, o que ganho por mês da aposentadoria após 50 anos de trabalho.

Eis que surge o homem da economia no Brasil e no exterior, Roberto Campos Neto, que assume o Banco Central do Brasil e cria o PIX, sistema facilitador de transferências e pagamentos. O avô, Roberto de Oliveira Campos, foi um grande economista (Ministro do Planejamento e Orçamento do Brasil – 1964 a 1967), professor, escritor, diplomata e também político brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Hoje, nas ruas ou pela internet, muitas pessoas que trabalham na informalidade – emprego com esse mentiroso no poder no Brasil é bravata democrática, da boca pra fora –, o PIX favorece ao comércio de muitas e variadas formas. Há, por exemplo, vendedores de frutas que trabalham nos faróis, que ao tempo de segundos do sinal vermelho levam seus produtos e vendem aos motoristas e deixam um recorte de papel com os dados do PIX, que podem ser o telefone, CPF (cadastro da pessoa física – identificação à Receita Federal) ou e-mail. E gritam: “Eu confio no Sr.”, com a certeza de que receberá o valor do PIX pelo produto vendido.

Tenho um amigo de infância de Brasília, que mora em Estoril, Portugal, e hoje pela manhã, pós-São João, Pedro me mandou a boa nova pelo WhatsApp, indicando que deve acontecer com nossa pátria mãe no próximo mês de setembro: transferência financeira por telemóvel, o SPIN desenvolvido pelo Banco de Portugal (BdP) aos moldes do PIX brasileiro, criado na gestão de Roberto Campos Neto, considerado e premiado um dos melhores presidentes de bancos centrais do mundo.

Lembrei agora que ia citar os lobos com vestes de carneiros no tempo em que prestei serviços no Banco Central do Brasil, Divisão de Publicações (Divip). Na gráfica do BACEN, exercia a função de revisor ortográfico e não me fazia de rogado, metia a caneta nos textos dos grandes nomes da diretoria do Departamento Econômico (DEPEC). Essa destreza fez com que um dos chefes, não mais da Divip, mas entranhado nas publicações da instituição financeira, me chamasse para acompanhar um relatório que devia ser apresentado pelo então presidente do Banco Central, Sr. Carlos Geraldo Langoni, ao Fundo Monetário Internacional. Essa visita era constante.

Esse relatório era confeccionado numa gráfica que prestava serviços para os governos federal e distrital, principalmente para o Itamaraty. Fomos uma equipe e, boa parte do tempo, ficávamos no lado de fora da empresa, por conta do “sigilo”; até que veio a primeira prova de prelo. Minhas canetas Bic novinhas azul e vermelha foram acionadas freneticamente, não parei nem para almoçar.

O ‘chefe’ que não era mais meu chefe, assim que cheguei no outro dia, fui recepcionado na gráfica com esporro: “Quem lhe deu ordens para rabiscar toda a prova de prelo? Que bagunça é esta?” Nesse ínterim, chegou de mansinho o tal deputado que era o proprietário, e amainou os ânimos do meu ‘chefe’. “O rapaz quis mostrar serviço.” A equipe já havia chegado e, de longe, uns se preocupavam, outros acostumados com a ‘armação’, ganhar extra sem trabalhar, folguedo, riam. Por fim, o deputado trouxe nova prova, agora, segundo ele, com todas as minhas anotações rebatidas, ao tempo que pedi a anterior para acompanhar a revisão. Uma menina que era caso dos dois, diante dos sorrisos e a libido escancarada nos olhos deles, praticamente jogou o relatório revisado no meu colo, raivosa.

Nas primeiras páginas, percebi que o trabalho não foi executado: os pedidos de correção das palavras e das concordâncias verbais e nominais foram ignorados. Reclamei: “Chefe, esse material não foi corrigido”. Ele olhou para o deputado que cochichou: “Assim não consigo entregar o trabalho para o presidente”, dando a entender que faria um telefonema para o Departamento Econômico do banco.

Aos gritos, o meu ‘chefe’ que já não era meu chefe tomou as duas provas de prelo de minhas mãos e mandou o deputado imprimir daquele jeito. Novamente intercedi. “Tem certeza?”, e tomei a primeira prova que havia revisado e na página após a folha de rosto aparecia minha anotação para corrigir o nome do presidente que veio errado novamente, escrito na assinatura da Apresentação "Calos" Geraldo Langoni, Presidente do "Bando" Central do Brasil.

Profissional tem que ser pago pelos seus conhecimentos e ações positivas, não por louvaminhas... Enfim, um serviço real para o sistema financeiro do mundo com apoio de tecnologias semelhantes de pagamento instantâneo, como o PIX (Brasil), Faster Payments (Reino Unido), o FedNow (Estados Unidos) e o New Payments Platform, na Austrália e, agora, o SPIN, em Portugal.