Nos subúrbios de uma era digital, trocamos a espingarda pelo olhar ameaçador, revestimos o caçador sem as peles de animal, pois, felizmente, todo ele também sofreu as mudanças da evolução humana. Um novo caçador de faro mais poluído, e vista protegida por lentes graduadas, foca a sua procura num ameaçador mundo contemporâneo. Procura algo que o faça respirar de forma profunda. Procura o “cool”!

Pensar novo e refazer velho é complicado, assim, no meio da confusão que geramos e lixo que criamos, o caçador procura no mundo as possíveis futuras tendências, atenua a realidade com o choque da previsibilidade, mas também congratula algo, antes mesmo do pico da sua criação. Criar é ainda mais difícil nos dias que nos acompanham. Afinal como encontrar inovação num mundo que damos por vencido e criado?

Enquadramo-nos numa geração ainda assim privilegiada, com espaço para criar, mas num desafio cada vez maior, de criar algo que nunca, jamais, foi pensado. Estamos perante ideias que parecem ditas, feitas, e infelizmente recriadas, talvez seja mais fácil pensar igual do que criar. Com o efeito, são caçadores cada vez mais requisitados pelas grandes marcas e empresas, que se focam nos grandes hits e superar os adversários.

O coolhunting acaba por ser um desafio, e uma novidade para alguns. Conseguir encontrar algo que se destaque, é uma tarefa para os mais persistentes, que faça sentido ser apreciada com outros olhos, que inove e deixe inovar! Mas o destaque não basta ser destacável, tem de compor certas características, desde ser irreverente, viral, atual, relevante, instigante e o que me suscita mais curiosidade, a descontinuidade.

Descontinuidade é algo que geralmente não pretendemos que aconteça, mas na verdade faz parte da tendência, não queríamos certamente, que os “poufs” (perucas francesas usadas na corte de Maria Antonieta) estivessem ainda na moda!

Há uma linha de evolução neste tema, a quebra no final do cool, quando já não se destaca e “morre”, quando deixa de ser cool para dar lugar a outro.

Na teoria, infelizmente há coisas que se enquadram e não são boas, porque afinal nem tudo o que é genial pode ser bom, mas nem tudo o que é bom também pode ser genial, um pau de dois bicos, olhemos em redor e encontraremos a minha perspetiva.

Mas as ideias surgem, são poucas, tão poucas que nos vemos numa encruzilhada para criar algo também. Não é só pensar, é debater-se com uma enorme montanha de obstáculos e, o nosso caçador, confiante no assunto, será capaz de analisar o cool da questão.

Talvez seja uma tarefa subjetiva, talvez não. Também esse pensar é subjetivo, parte do entender de muitos para outros muitos, e da realidade de outros para bastantes outros.

Revemos o passado com um certo orgulho e lágrima no olho pelo bom e pelo mau, mas talvez o mais preocupante será a dificuldade de alcançar estes êxitos passados, pois agora, temos ferramentas que ajudam a pensar, e o pensamento fica preguiçoso.

Contudo, este caçador cansado, dorido da procura, cansado de poucas ou muitas tendências, de olhos esbugalhados capaz de captar e observar a dinâmica das ideias mortas, encontra preciosidades e dinamiza o mercado.

Coolhunting torna-se assim, uma atividade desafiante e impulsionadora de grandes mentes e ideias, conceitos e noções. Desafia a democracia, repara muitos egos gerados, destaca o despercebido e meritório, em detrimento do fugaz e ganancioso.

Na complexa tapeçaria da vida moderna e contemporânea, como prefiro encarar, estes novos caçadores vieram para ficar, com um faro indistinguível e, de certa forma, mais saudáveis, entendendo e corrompendo crescimentos diferentes de subjetividades não meritórias.

Na verdade, todos deveríamos ser desafiados com este método incrível, um conceito desconhecido por muitos, mas apreciado por todos, afinal quem não gosta do que viral? Habituados ao comum estão os passarinhos deste caçador, consumidos.