Finalmente voltei para casa depois de quase três anos morando fora e agora me vejo numa sensação estranha de já não pertencer aqui, a nostalgia e melancolia me puxa para momentos vividos antes, mas a realidade, essa a qual já não faço parte me joga numa direção oposta.

Cada vez que vou embora, sei que cresço muito como ser humano em diversas áreas da vida e cada vez que volto para casa, percebo o quanto eu aprecio a calmaria, conforto e companhia da minha família. O dilema de sempre é não encontrar o ponto de equilíbrio entre o sonho de viver fora da minha bolha e querer conhecer o mundo com o fato de amar estar com as minhas pessoas favoritas.

Meu corpo em alerta numa constante adrenalina de preocupação sobre escolhas da minha vida, ser adulto é sempre assim, certo? Já deveria saber que planejamos os mínimos detalhes, mas a vida imprevisível ou injusta como ela é não facilita em nada. Antes de embarcar na aventura de morar fora, o plano que tracei era claro, objetivo e simples e apesar de “prever” os obstáculos não imaginei o quão difíceis eram, claro que podemos dizer que vivo um sonho comum como outras milhares de pessoas e talvez muito clichê em determinados pontos sobre a idealização de ir para fora, entretanto cada qual tem suas particularidades, metas e limites para colocar em prática.

Sempre quis e sonhei em escrever sobre a vida, as experiências, o mundo e fazer disso minha profissão. Mesmo saindo para tão longe, isso segue sendo um sonho distante de concretizar, já não sei se sou apenas uma daquelas que sempre sonhou com algo mais que aquilo não é para ser ou se escolhi uma direção profissional errada. As minhas dúvidas me consomem e algumas vezes se transformam em noites e claro. Enfim, é a vida mesmo.

Mesmo com apenas 20 dias de férias, vim, decidi que isso era melhor que nada. Ver minha família, recarregar minhas energias e chegar à conclusão de como as coisas estariam na cidade de um modo geral e qual direção deveria tomar. Sinto que algumas coisas continuam as mesmas, problemas de sempre em relação à estrutura.

Já a minha família conseguiu um jeito de seguir com a minha ausência, criaram uma realidade com grandes melhorias assim como falhas, não muito diferente da minha nova vida longe.

Já não pertenço mais aqui, uma parte minha se sente fora da caixa ao mesmo tempo que sinto que nunca sequer fui embora. Sinto o peso do dilema entre ir e ficar, essa estranheza de voltar para o meu bairro e cotidiano deles, acreditando que estou fora de tudo na mesma medida em que aproveito cada segundo numa dádiva de cada pequeno detalhe para a construção de novas memórias, enquanto recarrego minha necessidade de afeto familiar.

É o não sentir vontade de ir embora, mas também não querer ficar, a vida injusta como ela é não me permite ter os dois. Uma escolha acaba por anular a outra, entre uma coisa ou outra eu ganho, entre uma coisa ou outra eu perco. Sinto me estranha apesar de tudo, aqui na vontade de ir, mas também querer ficar, queria mais tempo.

Mas aqui estou com passaporte na mão, entrando num avião e com apenas uma parte do coração. Prometi a mim mesma que não iria chorar, essa é minha escolha aceitar e preciso entender que neste momento é o melhor que posso fazer por mim, por eles e pelos sonhos que jurei a mim mesma cumprir. Não sei o que o amanhã reserva, as coisas não têm sido fáceis e o caminho é longo, mas a vida é assim mesmo, levantar, encarar, lutar, aceitar e não esquecer do que te motiva a continuar seja como for.

Para meus pais e minhas irmãs mais novas todo o amor do mundo.