Quando as coisas insistem em não dar certo, o melhor que se faz é parar tudo e voltar ao início. Isso vale para qualquer trabalho que se tente fazer e também para a organização social.
O que nos fez abandonar a vida nômade foi a agricultura e o consequente nascimento das cidades. De grupos pequenos e móveis a grupos grandes e estáticos, foi preciso aceitar um líder dos líderes e, nesses tempos primitivos, há mais de dez mil anos, abusou-se da ignorância e das crendices do povo.
A mentira que melhor colou foi que a divindade mais aceita ou mais temida elegeu pessoalmente o líder que comandaria todos. Essa lorota durou até a Revolução Francesa, quando foram rei, nobres e padres para a guilhotina.
A Revolução Francesa foi um laboratório de ideias mais importante do que a democracia grega, onde apenas os cidadãos homens votavam; camponeses e mulheres, ao contrário de lá, aqui tiveram voz. Claro que isso foi abafado, afinal, a França era uma entre várias monarquias, mas as sementes do que viria a ser república, democracia, fascismo e comunismo modernos estavam plantadas.
Na verdade, o fascismo vem lá da Roma antiga; Mussolini não inventou nada, o que fez foi trazer o pensamento imperialista romano para a era industrial nos primeiros passos. Antes dele, houve Napoleão Bonaparte, um fascista antes do fascismo que, com seus sucessores, acabou fazendo a França recuar nas novas propostas.
A próxima revolução foi a da Rússia, novamente o povo depunha um rei que os levava à fome. A diferença é que, agora, a ideia do comunismo estava mais lapidada. Essa lapidação se deu por causa do motor a vapor. Até ele, eram os ventos, os cavalos e as divindades; de repente, era a mecânica sem deus, só causa e efeito. Se o Iluminismo trouxe o ser humano para o centro de todas as coisas, o motor a vapor mostrou que gente é também máquina e que mesmo reações emocionais podem ser previstas.
Para que serve um governo? Para defender e melhorar a vida do povo, certo? A Rússia foi comunista por 70 anos, deixou de ser um reino onde se passava fome e virou uma potência sem fome ou analfabetismo. Claro que isso é bom!
O paradoxo da democracia é que um ditador pode ser eleito. Esse risco existe porque são séculos sob reis e é um saco sair de casa, deixar um trabalho por fazer e ir votar. Esse é um aspecto; outro é que o líder é um pai social, o que não se troca assim como não se troca o pai natural.
A primeira questão é: somos todos iguais ou não? Se somos diferentes, sendo que um é melhor que o outro, a democracia não é possível. Isso acontece em colmeias, onde a abelha rainha é fisicamente diferente para ser a mãe de todas as abelhas. O que tivemos nas monarquias é gente comum com roupas diferentes e tempo para estudar, o que nem sempre foi aproveitado. O resultado lógico é a degeneração: gente burra e arrogante com dinheiro que se acredita favorecida por divindades, apesar de qualquer injustiça que possam cometer.
Chegamos ao século 21 e, nessa bobagem de direita e esquerda, o que vejo são comedores de feijão arrogantes mentindo para provar uma superioridade que não existe, para terem vantagens que não merecem. Ladrões só podem existir no capitalismo.
Vejo com bons olhos o caos do mercado e almejo a estabilidade dos fascistas e comunistas, mas acho que essas são ideias do começo do século passado. Está na hora de irmos além da Guerra Fria e unir ao invés de separar, mas guardando as diferenças que, afinal de contas, são riquezas.