Já é comprovado cientificamente que o nosso cérebro, durante a nossa primeira infância, passa a acreditar como verdade absoluta tudo aquilo que nos foi imposto, e esses “padrões” nos acompanham por toda a nossa vida se assim permitirmos. Eles regem as nossas dinâmicas familiares, a nossa relação com o dinheiro e, pasmem, podem ser a chave para o nosso sucesso ou fracasso. Outra coisa que o nosso cérebro é capaz de fazer é criar “imagens mentais” sobre as pessoas. Sabe aquela famosa colega de trabalho da sua amiga, que você já pegou ranço porque sua amiga já pintou a caveira dela? Pois bem, é assim que o nosso cérebro é capaz de imaginar as coisas: não como elas realmente são, mas sim como as pessoas nos contaram que elas eram.
Para ilustrar isso, vamos imaginar a seguinte situação: pense em uma criança de dez anos com pais separados, que brigam constantemente. Essa pequena garotinha, ainda muito jovem, está no meio das duas pessoas mais importantes da sua vida e, para sobreviver, ela se equilibra entre a tumultuosa relação dos dois. Ouvindo sempre coisas como: “Seu pai é isso” ou “Seu pai fez aquilo”, essa menininha vira uma mulher adulta e, agora, tem uma relação conturbada com seu genitor e não tem “sorte” em nada; há uma nuvem negra que ela carrega consigo mesma e não consegue se livrar. Mas o que isso tudo tem a ver com o inconsciente? Bem, foi ele quem criou essa imagem de pai ausente na cabeça dessa jovem, gerando o que chamamos de ferida de rejeição. Conscientemente, essa jovem ama seu pai, mesmo com todos os defeitos dele, afinal, ninguém é perfeito, não é mesmo? Mas, inconscientemente, ela o rejeita e, sabe o porquê? Porque plantaram na cabeça dela, durante a infância, que ele era ruim, ausente e irresponsável, muito mais do que ele era de fato.
Agora, já adulta, essa jovem tem problemas em tudo: nas relações familiares, no trabalho (ou na busca por ele), na vida amorosa e em todos os outros aspectos que regem a nossa vida aqui nesta terra. E tudo isso acontece pois ela rejeitou um dos princípios universais mais importantes: Honrar Pai e Mãe. Conscientemente, há amor nessa família, mas, inconscientemente, a ferida da rejeição ainda precisa ser curada. Assim como essa garota rejeita seu pai, a vida a rejeita de volta porque ela está rejeitando quem lhe deu a vida. Na visão sistêmica da constelação familiar, “honrar os pais e aceitá-los como eles são é a condição para se poder tomar a vida que veio deles. É um ato de humildade e representa um sim à vida e ao destino e, consequentemente, abre portas e caminhos extraordinários, pois é como se você desse ao universo uma permissão para lhe proporcionar tudo aquilo de melhor que ele tem para oferecer, assim como um pai que quer o melhor para os seus filhos.” (Duarte, 2024)
Muitas das nossas programações mentais ou a forma como enxergamos a vida e as pessoas hoje advêm de algo que nos foi falado na infância, um período muito frágil da nossa existência e um momento em que nós não temos argumentos para rebater os mais velhos, pois não temos a experiência deles. Com toda certeza, meu pai errou comigo na infância, assim como minha mãe, minha avó e tantas outras pessoas, mas, infelizmente, só os erros dele ficaram em evidência. A imagem do meu pai, na minha cabeça, era a imagem de um estranho até o dia em que uma pessoa muito especial me fez a seguinte pergunta: “Mas você conhece o seu pai de verdade ou o pai que te falaram que ele era?”
Meu pai era a imagem que criaram para ele e, por isso, eu também passei a rejeitá-lo, inconscientemente, mesmo sem querer ou sem me dar conta de que essa mágoa existia dentro de mim. Meu pai é a pessoa mais inteligente que eu conheço; ele estudou até a quinta série, trabalhou em dois, três, quatro empregos ao mesmo tempo para que nós pudéssemos ter as coisas que temos hoje. Meu pai foi a pessoa que segurou as pontas em casa quando eu precisei me mudar para cursar a faculdade. Meu pai é o cara que transforma um terreno de R$ 20.000,00 em uma casa de meio milhão com o conhecimento e a visão que ele tem de investimento imobiliário. Mas eu só pude me dar conta disso quando rompi com um padrão estúpido que me foi “imposto” na infância, e muito dessa libertação vem do processo de autoconhecimento e cura que trabalho toda semana nas minhas sessões de psicanálise com a minha terapeuta.
Por isso, querido leitor e querida leitora, eu te digo: resolva sua situação com seus pais e veja sua vida decolar de uma maneira que você nunca tenha imaginado. Perdoe seus pais para prosperar!